terça-feira, 11 de dezembro de 2012

novo trailer de "man of steel"

Um dos blockbusters mais aguardados de 2013 finalmente teve seu primeiro trailer completo divulgado.  Produzido por Christopher Nolan e dirigido por Zack Snyder, "Superman - o homem de aço" promete trazer novos conceitos para a mitologia do mais famoso super-herói de todos os tempos. Pelo jeito, as cenas escolhidas para o trailer enfocam mais a relação entre o alienígena Kal-el e sua herança kryptoniana, bem como a descoberta de seus poderes e como isso vai influenciar na sua vida. Bom saber que optaram por uma abordagem totalmente nova do personagem, sem tentar fazer qualquer referência ao clássico dirigido por Richard Donner em 1978. 
Esta é a grande chance de Henry Cavill provar que tem tudo para ser um dos grandes astros do cinema atual. Bom ator, ficou conhecido pela série "The Tudors" e já trabalhou com Woody Allen. Já havia sido cotado para o papel de superman no filme de 2006, mas o diretor Bryan Singer preferiu Brandon Routh. E deu no que deu.
Melhor sorte para a dupla Nolan/Snyder desta vez:


sábado, 1 de dezembro de 2012

Documentário especialíssimo

A revista Bizz se foi há algum tempo, deixando muitas saudades. Uma das melhores publicações brasileiras sobre cultura pop, era uma espécie de "Rolling Stone" tupiniquim. Lembremos que, na era pré-internet, o acesso `a música gringa e `as matérias relacionadas a esse universo era para poucos. Nem todo mundo tinha grana suficiente para comprar revistas importadas, como a "Mojo" ou a "Uncut". Por isso a Bizz foi tão importante, pois trazia muito material especial, entrevistas, reviews de álbuns e de shows. Para mim, por exemplo, é inesquecível a capa com o Kurt Cobain, que prenunciava o estouro do "grunge", capitaneado pelo Nirvana, até hoje uma das minhas bandas de coração. A revista também me ajudou a descobrir várias bandas legais e, hoje, importantíssimas para a música, como Metallica, Stone Roses, Samashing Pumpkins e R.E.M. Por essas e outras, não é exagero afirmar que a Bizz moldou o gosto musical de uma geração inteira.


Assim, dando a devida importância `a dimensão da Bizz, os diretores Almir Santos e Marcelo Costa fizeram um documentário bem interessante, que está disponível no youtube. Com depoimentos de gente como Bia Abramo e Alex Antunes, diria que o filme é, no mínimo, emocionante ao fazer o resgate histórico de um momento que sobrevive na mente e nos corações de milhares de fãs. 
Para ver, apreciar e lembrar para sempre.


sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Marvel Bond girls

O artista Bill Walko fez um mashup bacana das heroínas da Marvel, em versões Bond-girls. Dedicado ao Paulista, que é fã da Marvel e do 007.


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segunda-feira, 19 de novembro de 2012

10 filmes cultuados

Dia desses, assistindo ao telecine cult, que exibia o filme "mulher nota 1000", me perguntei: mas afinal, o que faz um filme ser cultuado? Quais os ingredientes que transformam uma película em um típico "cult movie"?
Geralmente, os estudiosos da sétima arte costumam dizer que "cult" é aquele filme que, mesmo não senso um grande sucesso de bilheteria, consegue angariar uma legião de admiradores, fãs que incorporam a filosofia proposta pela obra e que fazem questão de assistir várias vezes ao filme que tanto adoram. O fato de ser "cult" também não é garantia de qualidade, segundo a crítica especializada. Vários filmes que são ignorados pelos críticos são absolutamente adorados pelos aficionados. Há, obviamente, filmes cultuados tanto pelos fãs quanto pelos críticos, assim como há grandes sucessos de bilheteria (como a saga "Star Wars") que podem perfeitamente ser considerados "cult movies". É possível falar também de um grupo de diretores "cult", como David Lynch, John Waters e David Cronenberg. De igual modo, há aqueles filmes cultuados pelos próprios diretores, como " Cidadão Kane" e "Oito e meio", que constantemente recebem homenagens.
A verdade é que, no fim das contas, tudo acaba sendo uma questão de gosto pessoal. Por isso, selecionei alguns filmes que considero verdadeiros "cult movies":

1- Os heróis não têm idade


Com exceção de E.T., Henry Thomas é muito pouco lembrado pelo público em geral. No entanto, em 1984 ele fez esse filme delicioso que virou um verdadeiro clássico da "sessão da tarde". Aventura que mexe com a imaginação de crianças e adolescentes, assim como "Os goonies", faz parte daquele tipo de filme que não se faz mais no cinema atual, que está mais preocupado com merchandising do que com qualquer outra coisa.

2 - Um século em 43 minutos


Misto de ficção científica e suspense, traz Malcolm Mcdowell em um dos raros papéis "normais" de sua carreira. Aqui ele interpreta o escritor H.G. Wells, que viaja no tempo atrás de Jack, o estripador. Uma grande sacada do roteiro, explorada de forma bem eficiente pelo diretor Nicholas Meyer. O filme é tão bom que pode perfeitamente entrar na lista dos melhores sobre viagem do tempo, tema bastante recorrente no cinema

3 - Fome de viver

David Bowie e trilha sonora do Bauhaus. Mais "cult", impossível. Pena que depois Tony Scott foi dirigir "Top Gun".

4 - O sol por testemunha

A versão definitiva do livro de Patricia Highsmith traz Alain Delon no auge da carreira, interpretando o "talentoso Ripley". Dá até pena do Matt Damon. Final arrebatador para um clássico do suspense, que rivaliza com os melhores dirigidos pelo mestre Hitchcock

5 - Rififi

Um dos grandes filmes de assalto de todos os tempos. Jules Dassin precisou abandonar os EUA e ir para a França para poder realizar sua obra-prima. O filme influenciou todo mundo, de Tarantino a Christopher Nolan, que prestou uma bela homenagem a Dassin em "A origem". A sequência do roubo dura 12 minutos e (ao que parece) foi feita sem cortes.

6 - Blade Runner


Um dos maiores "cult movies" da história e provavelmente o melhor filme da carreira de Ridley Scott. Adaptação de texto de Philip K. Dick realizada com elenco perfeito: Harrison Ford, Rutger Hauer e a belíssima Sean Young transitam em um futuro que tem muito do nosso presente.

7 - A marca da maldade


Recentemente, vi a versão original de Orson Welles, montada de acordo com sua visão para o filme. O início do filme é um dos mais famosos e copiados "travellings" do cinema. O elenco é de chorar de bom: Charlton Heston, Janet Leigh e Marlene Dietrich em uma trama noir que , se não é o melhor trabalho de Welles como diretor, é sem dúvida sua obra mais cultuada.

8 - Commitments - loucos pela fama



Alan Parker era um dos diretores europeus de maior sucesso em Holywood quando voltou a sua Irlanda natal para fazer esse musical que trata de um grupo de proletários que resolvem montar uma banda de "soul music". Com uma trilha sonora maravilhosa, o filme é uma aula sobre como se fazer um grande trabalho com poucos recursos. 

9 - Almas gêmeas


Antes de "O senhor dos anéis", Peter Jackson realizou essa verdadeira pérola, lembrada até hoje por seus fãs. Uma jovem Kate Winslet dá show de interpretação em uma história marcante sobre amor, obsessão e violência. Com toques de suspense e terror, o filme foge dos padrões convencionais e é bastante ousado ao tocar na temática da homossexualidade. Belíssimo.

10 - `A meia-noite levarei sua alma

Primeiro filme de José Mojica como personagem Zé do Caixão. Até Tim Burton adora o sujeito, o que quer dizer muito. Terror nacional da melhor qualidade, é sem dúvida um dos grandes "cult movies" da história do cinema nacional, provando que cinema se faz com muita vontade e criatividade.

domingo, 11 de novembro de 2012

Dez fatos relacionados com as contradições existentes nos EUA

Interessante lista de fatos relacionados abaixo. Polêmicas se desdobram da análise dos fatos, mas negá-los e deixar de reconhecer, pelo menos em parte, boa parte das contradições existentes nos EUA e que fundam o drama das classes subalternas. Especialmente daqueles que dependem de saúde pública (?) e que estão incluídos na massa carcerária. Ah, não esqueçamos o obscurantismo religioso, que ganha cada vez mais espaço, lá como cá.
 
Do Diário da Liberdade

10 Factos Chocantes Sobre os EUA
  1. Os Estados Unidos têm a maior população prisional do mundo, compondo menos de 5% da humanidade e mais de 25% da humanidade presa. Em cada 100 americanos 1 está preso1.
A subir em flecha desde os os anos 80, a surreal taxa de encarceramento dos EUA é um negócio e um instrumento de controlo social: À medida que o negócio das prisões privadas alastra como gangrena, uma nova categoria de milionários consolida o seu poder político. Os donos destes cárceres são também na prática donos de escravos, que trabalham nas fábricas no interior prisão por salários inferiores a 50 cêntimos por hora. Este trabalho escravo é tão competitivo, que muitos municípios hoje sobrevivem financeiramente graças às suas próprias prisões camarárias, aprovando simultaneamente leis que vulgarizam sentenças de até 15 anos de prisão por crimes menores como roubar pastilha elástica. O alvo destas leis draconianas são os mais pobres mas sobretudo os negros, que representando apenas 13% da população americana, compõem 40% da população prisional do país.
  1. 22% das crianças americanas vive abaixo do limiar da pobreza2.
Calcula-se que cerca de 16 milhões de crianças americanas vivam sem “segurança alimentar”, ou seja, em famílias sem capacidade económica de satisfazer os requisitos nutricionais mínimos de uma dieta saudável. As estatísticas provam que estas crianças têm piores resultados escolares, aceitam piores empregos, não vão à universidade e têm uma maior probabilidade de, quando adultos, serem presos.
  1. Entre 1890 e 2012 os EUA invadiram ou bombardearam 149 países3.
São mais os países do mundo em que os EUA intervieram militarmente do que aqueles em que ainda não o fizeram. Números conservadores apontam para mais de 8 milhões de mortes causadas pelos EUA só no século XX. E por detrás desta lista escondem-se centenas de outras operações secretas, golpes de Estado e patrocínio de ditadores e grupos terroristas. Segundo Obama, recipiente do Nobel da Paz, os EUA têm neste momento a decorrer mais de 70 operações militares secretas em vários países do mundo. O mesmo presidente, criou o maior orçamento militar norte-americano desde a Segunda Guerra Mundial, batendo de longe George W. Bush.
  1. Os EUA são o único país da OCDE que não oferece qualquer tipo de subsídio de maternidade4.
Embora estes números variem de acordo com o Estado e dependam dos contratos redigidos pela empresa, é prática corrente que as mulheres americanas não tenham direito a nenhum dia pago antes nem depois de dar à luz. Em muitos casos, não existe sequer a possibilidade de tirar baixa sem vencimento. Quase todos os países do mundo oferecem entre 12 e 50 semanas pagas em licença de maternidade. Neste aspecto, os Estados Unidos fazem companhia à Papua Nova Guiné e à Suazilândia com 0 semanas.
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  1. 125 americanos morrem todos os dias por não poderem pagar qualquer tipo de acesso à saúde5.
Se não tiver seguro de saúde (como 50 milhões de americanos não têm), então, tem boas razões para recear mais a ambulância e os cuidados de saúde que lhe vão prestar, que esse inocente ataquezinho cardíaco. Com as viagens de ambulância a custarem em média 500€, a estadia num hospital público mais de 200€ por noite, e a maioria das operações cirúrgicas situadas nas dezenas de milhar, é bom que possa pagar um seguro de saúde privado. Caso contrário, a América é a terra das oportunidades e como o nome indicam, terá a oportunidade de se endividar até às orelhas e também a oportunidade de ficar em casa, fazer figas e esperar não morrer desta.
  1. Os EUA foram fundados sobre o genocídio de 10 milhões de nativos. Só entre 1940 e 1980, 40% de todas as mulheres em reservas índias, foram esterilizadas contra sua vontade pelo governo americano6.
Esqueçam a história do Dia de Acção de Graças, com índios e colonos a partilhar placidamente o mesmo peru à volta da mesma mesa. A História dos Estados Unidos começa no programa de erradicação dos índios. Tendo em conta as restrições actuais à imigração ilegal, ninguém diria que os fundadores deste país foram eles mesmo imigrantes ilegais, que vieram sem o consentimento dos que já viviam na América. Durante dois séculos, os índios foram perseguidos e assassinados, despojados de tudo e empurrados para minúsculas reservas de terras inférteis, em lixeiras nucleares e sobre solos contaminados. Em pleno século XX, os EUA puseram em marcha um plano de esterilização forçada de mulheres índias, pedindo-lhes para colocar uma cruz num formulário escrito num língua que não compreendiam, ameaçando-as com o corte de subsídios caso não consentissem ou, simplesmente, recusando-lhes acesso a maternidades e hospitais. Mas que ninguém se espante, os EUA foram o primeiro país do mundo a levar a cabo esterilizações forçadas ao abrigo de um programa de eugenia, inicialmente contra pessoas portadoras de deficiência e mais tarde contra negros e índios.
  1. Todos os imigrantes são obrigados a jurar não ser comunistas para poder viver nos EUA7.
Para além de ter que jurar que não é um agente secreto nem um criminoso de guerra nazi, vão-lhe perguntar se é, ou alguma vez foi membro do “Partido Comunista”, se tem simpatias anarquista ou se defende intelectualmente alguma organização considerada “terrorista”. Se responder que sim a qualquer destas perguntas, ser-lhe-á automaticamente negado o direito de viver e trabalhar nos EUA por “prova de fraco carácter moral”.
  1. O preço médio de uma licenciatura numa universidade pública é 80 000 dólares8.
O ensino superior é uma autêntica mina de ouro para os banqueiros. Virtualmente todos os estudantes têm dívidas astronómicas, que acrescidas de juros, levarão em média 15 anos a pagar. Durante esse período os alunos tornam-se servos dos bancos e das suas dívidas, sendo muitas vezes forçados a contrair novos empréstimos para pagar os antigos e ainda assim sobreviver. O sistema de servidão completa-se com a liberdade dos bancos de vender e comprar as dívidas dos alunos a seu bel-prazer, sem o consentimento ou sequer a informação do devedor. Num dia deve-se dinheiro a um banco com uma taxa de juro e no dia seguinte, pode-se dever dinheiro a um banco diferente com nova e mais elevada taxa de juro. Entre 1999 e 2012, a dívida total dos estudantes americanos ascendeu a 1.5 triliões de dólares, subindo uns assustadores 500%.
  1. Os EUA são o país do mundo com mais armas: para cada 10 americanos, há 9 armas de fogo9.
Não é de espantar que os EUA levem o primeiro lugar na lista dos países com a maior colecção de armas. O que surpreende é a comparação com o resto do mundo: No resto do planeta, há 1 arma para cada 10 pessoas. Nos Estados Unidos, 9 para cada 10. Nos EUA podemos encontrar 5% de todas as pessoas do mundo e 30% de todas as armas, qualquer coisa como 275 milhões. E esta estatística tende a se extremar, já que os americanos compram mais de metade de todas as armas fabricadas no mundo.
  1. São mais os americanos que acreditam no Diabo que os que acreditam em Darwin.10
A maioria dos americanos são cépticos; pelo menos no que toca à teoria da evolução, em que apenas 40% dos norte-americanos acredita. Já a existência de Satanás e do inferno, soa perfeitamente plausível a mais de 60% dos americanos. Esta radicalidade religiosa explica as “conversas diárias” do ex-presidente Bush com Deus e mesmo os comentários do ex-candidato Rick Santorum, que acusou os académicos americanos de serem controlados por Satã.

sábado, 10 de novembro de 2012

Todo mundo conhece algum Almeidinha

Descobri o texto no site da Carta Capital. O texto é muito legal: trata de um sujeito desinteressante, mas que está aí para ser parente ou vizinho ou colega de trabalho: Almeidinha (um estereótipo). Todo mundo conhece um, ou pior, convive com um que se enquadra no estereótipo almeidinhano. Pessoalmente, os sujeitos da "família Almeidinha" que conheço são, em grande parte, religiosos e moralistas (eis a cereja do bolo da hipocrisia dos almeidinhas da vida). Naturalmente, quase todos estão no lado do dem e admiram um passaro muito famoso por seu bico avantajado. 
O estereótipo é generoso, não excludente quanto a formação e vida profissional. Abarca, entre os que possuem nível superior, grande número de bacharéis em direito, muitos dedicados ao exercício do bacharelismo, mas não exclui engenheiros, de todas as engenharias. Se os almeidinhas bacharéis são capazes de resolver todos os problemas, com recursos como cadeia e porrada, os almeidinhas gênios são a solução personificada, a realização tecnológica dos desejos bacharelescos. Claro, não poderíamos excluir o universo dos almeidinhas da medicina, senhores da vida e da morte - e de todo o resto. Ressalto que não pretendo generalizar, nem atacar o sobrenome, mas não sejamos tolos: little almeidas estão por todos os lados, mas se destacam nas carreiras, ou formações que citei. Por óbvio, não são todos, nem a maioria, Almeidinhas, mas estes parecem ser hegemônicos nas áreas mencionadas. 
Estão por todos os lados, com ou sem diploma, jovens e velhos, prefeitos e edis, piolhos ou não, sempre atentos às verdades do jornal nacional e às capas da veja. Ah, não esqueçamos que almeidinhas são adeptos e militantes do ativismo...virtual.
Tem até Almeidinha com outro nome e sobrenome que estão para Almeidinha assim como John estava para Mccartney, mas é melhor não mencioná-los, são uma espécie de anti-Flanders, embora pretendam, ou simplesmente  aparentam, ser como Flanders.
Para maiores esclarecimentos sobre Almeidinha, leia o texto (vale a pena). A frase inicial é um dos motes identificadores de Almeidinha, como diria Francis.


“Direitos humanos para humanos direitos”
Matheus Pichonelli

 Almeidinha era o sujeito inventado pelos amigos de faculdade para personalizar tudo o que não queríamos nos transformar ao longo dos anos. A projeção era a de um cidadão médio: resmungão em casa, satisfeito com o emprego na “firma” e à espera da aposentadoria para poder tomar banho, colocar pijama às quatro da tarde, assistir ao Datena e reclamar da janta preparada pela esposa. O Almeidinha é aquele sujeito capaz de rir de qualquer piada de português, negro, gay e loira. Que guarda revistas pornográficas no armário, baba nas pernas da vizinha desquitada (é assim que ele fala) mas implica quando a filha coloca um vestido mais curto. Que não perde a chance de dizer o quanto a esposa (ele chama de “patroa”) engordou desde o casamento.

O Almeidinha, ativista virtual e cidadão de bem.
O Almeidinha, para nosso espanto, está hoje em toda parte. Multiplicou-se em proporção geométrica e, com os anos, se modernizou. O sujeito que montava no carro no fim de semana e levava a família para ir ao jardim zoológico dar pipoca aos macacos (apesar das placas de proibição) sucumbiu ao sinal dos tempos e aderiu à internet. Virou um militante das correntes de e-mail com alertas sobre o perigo comunista, as contas no exterior do ex-presidente, os planos do Congresso para acabar com o 13º salário. Depois foi para o Orkut. Depois para o Facebook. Ali encontrou os amigos da firma que todos os dias o lembram dos perigos de se viver num mundo sem valores familiares. O Almeidinha presta serviços humanitários ao compartilhar alarmes sobre privacidade na rede, homenagens a pessoas doentes e fotos de crianças deformadas. O Almeidinha também distribui bons dias aos amigos com piadas sobre o Verdão (“estude para o vestibular porque vai cair…hihihii”) e mensagens motivacionais. A favorita é aquela sobre amar as pessoas como se não houvesse amanhã, que ele jura ser do Cazuza mas chegou a ele como Caio Fernandes (sic) Abreu.
O Almeidinha gosta também de se posicionar sobre os assuntos que causam comoção. Para ele, a atual onda de violência em São Paulo só acontece porque os pobres, para ele potenciais criminosos (seja assassino ou ladrão de galinha) têm direitos demais. O Almeidinha tem um lema: “Direitos Humanos para Humanos Direitos”. Aliás, é ouvir essa expressão, que ele não sabe definir muito bem, e o Almeidinha boa praça e inofensivo da vizinhança se transforma. “Lógica da criminalidade”, “superlotação de presídios”, “sindicato do crime”, “enfrentamento”, “uso excessivo da força”, para ele, é conversa de intelectual. E se tem uma coisa que o Almeidinha detesta mais que o Lula ou o Mano Menezes (sempre nesta ordem) é intelectual. O Almeidinha tem pavor. Tivesse duas bombas eram dois endereços certos: a favela e a USP. A favela porque ele acredita no governador Sergio Cabral quando ele fala em fábrica de marginais. A USP porque está cansado de trabalhar para pagar a conta de gente que não tem nada a fazer a não ser promover greves, invasões, protestos e espalhar palavras difíceis. O Almeidinha vota no primeiro candidato que propuser esterilizar a fábrica de marginal e a construção de um estacionamento no lugar da universidade pública.
Uma metralhadora na mão do Almeidinha e não sobraria vagabundo na Terra. (O Almeidinha até fala baixo para não ser repreendido pela “patroa”, mas se alguém falar ao ouvido dele que “Hitler não estava assim tão errado” ganha um amigo para o resto da vida).
A cólera, que o fazia acordar condenando o mundo pela manhã, está agora controlada graças aos remédios. O Almeidinha evoluiu muito desde então. Embora desconfiado, o Almeidinha anda numas, por exemplo, de que agora as coisas estão entrando nos eixos porque os políticos – para ele a representação de tudo o que o impediu de ter uma casa na praia – estão indo para a cadeia. Ele não entende uma palavra do que diz o tal do Joaquim Barbosa, mas já reservou espaço para um pôster do ministro do Supremo ao lado do cartaz do Luciano Huck (“cara bom, ajuda as pessoas”) e do Rafinha Bastos (“ele sim tem coragem de falar a verdade”). O Almeidinha não teve colegas negros na escola nem na faculdade, mas ele acha que o exemplo de Barbosa e do presidente Barack Obama é prova inequívoca de que o sistema de cotas é uma medida populista. É o que dizia o “meme” que ele espalhou no Facebook com o argumento de que, na escravidão, o tráfico de escravos tinha participação dos africanos. Por isso, quando o assunto encrespa, ele costuma recorrer ao “nada contra, até tenho amigos de cor (é assim que ele fala), mas muitos deles têm preconceitos contra eles mesmos”.
O Almeidinha costuma repetir também que os pobres é que não se ajudam. Vê o caso da empregada, que achou pouco ganhar vinte reais por dia para lavar suas cuecas e preferiu voltar a estudar. Culpa do Bolsa Família, ele diz, esse instrumento eleitoral que leva todos os nordestinos, descendentes de nordestinos e simpatizantes de nordestinos a votar com medo de perder a boquinha. Em tempo: o filho do Almeidinha tem quase 30 anos e nunca trabalhou. Falta de oportunidade, diz o Almeidinha, só porque o filho não tem pistolão. Vagabundo é outra coisa. Outra cor. Como o pai, o filho do Almeidinha detesta qualquer tipo de bolsa governamental. A bolsa-gasolina que recebe do pai, garante, é outra coisa. Não mexe com recurso público. (O Almeidinha não conta pra ninguém, mas liga todo dia, duas vezes por dia, para o primo de um conhecido instalado na prefeitura para saber se não tem uma boca de assessor para o filho em algum gabinete).
O filho do Almeidinha também é ativista virtual. Curte PlayStation, as sacadas do Willy Wonka, frases sobre erros de gramática do Enem, frases sobre o frio, sobre o que comer no almoço e sobre as bebedeiras com os moleques no fim de semana (segue a página de oito marcas de cerveja). Compartilha vídeos de propagandas de carro e fotos de mulheres barrigudas e sem dentes na praia. Riu até doer a barriga com a página das barangas. Detesta política – ele não passa um dia sem lembrar a eleição do Tiririca para dizer que só tem palhaço em Brasília. E se sente vingado toda vez que alguém do CQC faz “lero-lero” na frente do Congresso. Acha todos eles uns caras fodásticos (é assim que ele fala). Talvez até mais que o Arnaldo Jabor. Pensa em votar com nariz de palhaço na próxima eleição (pensa em fazer isso até que o voto deixe de ser obrigatório e ele possa aproveitar o domingo no videogame). Até lá, vai seguir destruindo placas e cavaletes que atrapalham suas andanças pela cidade.
Como o pai, o filho do Almeidinha tem respostas e certezas para tudo. Não viveu na ditadura, mas morre de saudade dos tempos em que as coisas funcionavam. Espera ansioso um plebiscito para introduzir de vez a pena de morte (a única solução para a malandragem) e reduzir a maioridade penal até o dia em que se poderá levar bebês de oito meses para a cadeia. Quer um plebiscito também para acabar com a Marcha das Vadias. O que é bonito, para ele, é para se ver. E se tocar. E ninguém ouve cantada se não provoca (a favorita dele é “hoje não é seu aniversário mas você está de parabéns, sua linda”. Fala isso com os amigos e sai em disparada no carro do pai. O filho do Almeidinha era “O” zoão da turma na facul).
Pai e filho estão cada vez mais parecidos. O pai já joga Playstation e o menino de 30 anos já fala sobre a decadência dos costumes. Para tudo têm uma sentença: “Ê, Brasil”. Almeidinha pai e Almeidinha filho têm admiração similar ao estilo civilizado de vida europeu. Não passam um dia sem dizer que a vida, deles e da humanidade em geral, seria melhor se o país fosse dividido entre o Brasil do Sul e o Brasil do Norte. Quando esse dia chegar, garantem, o Brasil enfim será o país do presente e não do futuro. Um país à imagem e semelhança de um Almeidinha.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Review de cinema: 007 - operação skyfall





Quando terminei de assistir a "quantum of solace", o segundo filme de Bond estrelado por Daniel Craig, lembro de tê-lo achado um filme mediano, bem inferior a "cassino royale", e havia tido a impressão de que a série esgotara suas possibilidades de renovação. Mas, como sempre digo, nada melhor do que nos enganarmos `as vezes.
Em "skyfall", os produtores se superaram. Escalando um elenco de primeira, com Judi Dench, Ralph Fiennes, Javier Bardem, Naomi Harris e Albert Finney como coadjuvantes, e contando ainda com Daniel Craig como protagonista, Barbara Brocolli e Michael Wilson finalmente conseguiram fazer o que vinham tentando há tempos: uma renovação total da franquia, com a inserção de elementos contemporâneos e a preservação das características essenciais da mitologia de 007. No entanto, acredito que a grande aquisição para a série foi mesmo o nome de Sam Mendes. Cineasta ligado a filmes dramáticos como "beleza americana" e "foi apenas um sonho", ele está perfeitamente `a vontade na condução das várias (e empolgantes) sequências de ação. Contando com a ajuda do diretor de fotografia Roger Deakins, Mendes deu uma nova interpretação aos cenários grandiosos e `as cenas de luta que tanto agradam as plateias atualmente. Aliás, uma das sequências de ação, filmada na contraluz, é das mais belas já feitas na cinema.
O roteiro de "skyfall", por sua vez, se não é perfeito, mostra-se bastante coeso e até mesmo surpreendente, trazendo uma trama bem acima da média das que já foram mostradas em um filme de James Bond. Embora simples, é bem amarrado e consegue criar a tensão necessária para conduzir as mais de duas horas de projeção. Não vale a pena revelar nada sobre a história, mas basta dizer que ela traz de volta `a série alguns personagens clássicos repaginados e perfeitamente adequados aos novos tempos. Gostei especialmente de  Ben Winshaw como o novo Q, com aquela cara de nerd viciado em tecnologia e que tem alguns dos diálogos mais divertidos do filme. Aliás, os diálogos estão ótimos, afiadíssimos e contribuem para o desenvolvimento do roteiro de forma raras vezes vistas em um blockbuster.

Bardem perfeito com o vilão
Sei que alguns críticos têm comparado "skyfall" com "batman - o cavaleiro das trevas", e acredito que as comparações são bem pertinentes. Em vários momentos tive a impressão de estar vendo um filme dirigido por Christopher Nolan, com aquele jeitão "realista" e aquelas viradas de trama tão comuns nas obras do diretor. Por outro lado, prefiro comparar "skyfall" ao "star trek" dirigido por J. J. Abrams em 2009. Ali, Abrams mostrou o que é preciso para que a renovação de uma série de sucesso seja bem-sucedida: um bom roteiro, respeito aos cânones que são caros aos fãs e a inserção de elementos contemporâneos. Para mim, é exatamente isso que faz o novo 007 ser tão bom: da tradicional sequência de abertura - a bela canção de Adele é perfeita - ao uso da clássica música-tema, passando pela aparição do Aston Martin até o final absolutamente nostálgico, tudo funciona como uma verdadeira homenagem aos fãs, sem soar repetitivo ou apelativo. Ao mesmo tempo, o filme atrai qualquer um que aprecie o bom cinema, mesmo que jamais tenha assistido a um filme de James Bond.


Bérénice Malohe: bond girl que faz jus `a tradição

Craig é o Bond perfeito para o século 21
Por último, não custa destacar a marcante atuação de Daniel Craig. Se Javier Bardem já entra para a lista dos vilões clássicos da série, Craig é o Bond perfeito. Muitos fãs antigos não concordam, mas o ator é um dos grandes responsáveis pela qualidade do novo filme. Seu 007 "pé-na-porta" é carismático e consegue se sobressair em todas as cenas, mesmo quando contracena com atores do porte de Judi Dench ou Ralph Fiennes. Ele pode não ser Sean Connery, mas no mínimo se equipara a intérpretes como Pierce Brosnan ou Roger Moore. Talvez sem Craig tivéssemos que comemorar o cinquentenário de 007 de forma bem menos satisfatória; no entanto, graças a ele e ao diretor Sam Mendes as bodas de ouro do personagem foram uma belíssima surpresa para todos os fãs.

domingo, 28 de outubro de 2012

Opinião do Prof. Hariovaldo Almeida Prado sobre a eleição em São Paulo

Me parece que Hariovaldo anda contribuindo com as matérias e reporcagens daquela revista. Não seria ele financiador, apoiador moral e, ainda, redator na empresa de Rupert Civita?

Lula é o grande derrotado em São Paulo

28 de outubro de 2012
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O apedeuta-mór do PT sai dessas eleições como o grande derrotado, uma vez que sua força já se acabou e a única vitória duvidosa que conseguiu foi uma vitória  pirro em São Paulo, que na verdade representa uma derrota pois durante todo o processo eleitoral ele não foi páreo para a  sagacidade ética de José Serra e não conseguiu se contrapor às grandes análises coerentes de Dora K., Eliane C. e Merval P.
Serra por sua vez sai desse pleito como o grande vencedor moral e certamente, seguindo o grande momento de lucidez atual dos tribunais maiores com a nova jurisprudência no combate aos usurpadores do poder, será declarado o verdadeiro eleito  pois de acordo com o critério qualitativo a ser adotado pelo Juízo Eleitoral, em detrimento do arcaico quantitativo, os seu fotos foram os mais qualificados, superiores, oriundos de gente de bem, enquanto os votos de Haddad foram rotos, ignaros, das classes inferiores e não devem ser contados com o mesmo  peso. Isto posto não há como não declará-lo vencedor e único digno de ser diplomado alcaide da maior cidade do país. Perdemos a batalha mas não o Serra.

Uma interpretação para as time goes by

Nos setenta anos de Casablanca, a música que marca o filme e que transcende filme e cinema também é lembrada. Escutar as time goes by é escutar Casablanca. 
Dentre as diversas versões para a música, muitas no padrão jeca-bolerão, destaco a que considero mail legal, ou melhor, mais cool, já que menciono Chet Baker. O doidão, da vida dedicada à heroína e outros vícios, nos legou algumas versões cool para clássicos da música popular e para standards do jazz. A voz suave, quando do lançamento do primeiro disco no qual cantava, foi considerada efeminada e frágil. A crítica da época considerou Chet um fracasso como cantor. Mas, com o passar do tempo, percebeu-se que a cópia do estilo Chet Baker de interpretar seria imitada pela turma da bossa nova, especialmente por João Gilberto. Dizem que muitos da turma do baiano andavam com o disco Chet Baker Sings  debaixo do braço.
Eis a melhor versão para as time goes by.

Será que Nosferatu deixará de nos importunar?

Parece que o destino de Nosferatu na República Privata está selado.
Entretanto, afirmar que parte para o descanso eterno (dele) e o sossego eterno (nosso) é muita pretensão.





Entrevista com Roberto Saviano, autor de Gomorra

Gomorra é um grande livro. Um livro de caráter jornalístico com grande qualidade, que trata da chaga histórica instalada no sul da Itália, adaptada ao mundo globalizado. O filme fica aquém do livro, o que normalmente acontece quando se converte para as telas livros de grande qualidade. Ainda assim, cabe a recomendação: leia o livro, assista o filme. Dentre as conclusões de Saviano, destaca-se a afirmação de que a empresa mafiosa é a realização mais contundente do capitalismo. Financia a empresa capitalista globalizada, interage com os chineses e com a alta costura.
A entrevista é interessante, e demonstra um pouco do preço pago pelo autor (ele deve ter inveja de Rushidie!).

Da Folha

MORRIS KACHANI
DE SÃO PAULO

Desde 2006, pelo menos 14 policiais com dois carros blindados à disposição se alternam 24 horas por dia na escolta do escritor e jornalista italiano Roberto Saviano, 33.
Jurado de morte pela máfia, Saviano dorme em hotéis e apartamentos alugados, nunca por mais de um mês. "Não consigo imaginar meu futuro. Gostaria de ter uma vida normal, com um pouco de liberdade", afirma o autor, que não é casado nem tem filhos.
Ele se diz "às vezes" arrependido de ter escrito "Gomorra", o livro-reportagem sobre a extensão do poder das organizações criminosas que o tornou internacionalmente conhecido em 2006.
Agora, a Companhia das Letras está lançando seu mais recente livro, "A Máquina da Lama". A obra é inspirada em um programa que foi apresentado pelo próprio Saviano na TV estatal italiana, em 2010, e que chegou a uma audiência de 10 milhões de pessoas, tendo até mesmo desbancado uma partida entre Inter de Milão e Barcelona.
"Vieni Via con Me" (vem embora comigo), título do programa, escancarou as mazelas do país. Dos empreendimentos imobiliários da máfia calabresa em Milão aos lucros da Camorra e o interesse na manutenção da crise do lixo em Napóles (que já dura duas décadas).
Roberto Saviano na Universidade de Gênova, na Itália
Roberto Saviano na Universidade de Gênova, na Itália
Um programa de TV com essas características não poderia passar incólume pelas pressões políticas, que foram encabeçadas por Silvio Berlusconi, então premiê da Itália, e logo se transformariam em censura, até que saísse do ar, mas não sem deixar um rastro de polêmicas.
Saviano se transformou em um ícone da luta contra as organizações criminosas, assinando periodicamente artigos em publicações como "The New York Times", o espanhol "El País", e o italiano "La Repubblica".
O tom de denúncia e indignação que sempre predominou em seu discurso continua, mas agora acompanhado de uma certa melancolia, como se pode observar na entrevista a seguir, concedida à Folha por e-mail.
*
Folha - Qual é sua impressão do Brasil?
Roberto Saviano - O Brasil está vivendo um momento incrível. De ex-colônia passou a esperança para colonizadores e colonizados: para Portugal, Angola, Moçambique. É uma país extremamente complexo, que conjuga modernidade e kitsch, reformas sociais e crescimento e que está se tornando central para a história do mundo, um parceiro privilegiado da Europa. Tenho certeza de que sairá do Brasil um novo caminho virtuoso, que contaminará os países em crises. A Itália de hoje sonha com o que está ocorrendo no Brasil, isto é, brasileiros que emigraram voltando a sua terra para nela investir, porque acreditam no curso das reformas que vêm se dando.
Que laços há entre a Máfia e facções criminosas no Brasil?
O Brasil --como a Itália-- paga um preço altíssimo ao narcotráfico. Os grandes carregamentos de cocaína (produzida na maior parte na Colômbia) passam pelo Brasil e isso equivale a dizer que a bolsa da coca está em suas mãos, isto é, é no Brasil que se decide o preço do pó. A mercadoria sai em navios para a África Ocidental, chegando à Espanha ou a Portugal. Em outros casos, vai do Brasil diretamente para a Itália, para o porto de Gioia Tauro, na Calábria. E isso é prova evidente dos laços entre as organizações brasileiras e a "'Ndragheta" [equivalente calabresa da Máfia].
Também a Camorra, da Campanha [região de Nápoles], sempre teve laços com facções brasileiras. Basta pensar que Antonio Bardellino, chefe do clã dos "casalesi", chefe da organização criminosa "dona" do território em que nasci e cresci e que me ameaçou de morte, foi morto no Brasil, em 1988. No Rio de Janeiro, na casa em Búzios que ao que parece dividia com Tommaso Buscetta, o "chefe dos dois mundos", ligado à Cosa Nostra e preso em São Paulo.
Como e por que o sr. se interessou pelo tema da Máfia?
Nascer, crescer, estudar --em uma palavra, viver em uma terra onde a criminalidade pode tudo, tem laços com política e economia, decide a vida e a morte das pessoas impõe uma tomada de consciência. Nascer no sul da Itália significa se perguntar constantemente que lado assumir, como reagir, o que fazer. Não dá para ficar indiferente. No sul todos, diariamente, tomam um partido.
É possível estabelecer um vínculo entre a crise financeira global e o crime organizado?
As organizações criminosas têm em mãos uma liquidez enorme proveniente do narcotráfico e, num momento em que isso é exatamente o que falta, fica fácil de entender qual é o vulto de seu poder de aquisição. Se as organizações não são diretamente responsáveis pela crise econômica, é certo que agora elas estão entre os principais atores e, quando houvermos saído da crise, as economias nacionais de muitos países, entre os quais a Grécia, a Espanha e a Itália, serão economias totalmente infiltradas por capital criminoso. E esse problema, por incrível que pareça, não é visto como prioridade.
Como se estrutura e que métodos aplicam hoje as máfias, em relação aos de seu passado?
As organizações têm negócios em todos os lugares possíveis. Usufruem de cada novo canal, de cada tendência, se aproveitam de cada falha do sistema. A estrutura e os métodos não mudaram muito; seria um erro deixar de lado regras atávicas que determinam a manutenção das hierarquias e a possibilidade de gerir organizações tão ramificadas. A força das organizações reside em sua capacidade de aplicar estruturas e métodos do passado a novos âmbitos de investimento.
Como o sr. explica o fenômeno Berlusconi e qual é sua opinião sobre o atual governo italiano?
Sobre o fenômeno, ou melhor dizendo, as duas décadas de Berlusconi, sobram interpretações. Há 20 anos tentamos entender como é possível que ele sempre consiga governar e, depois de mil justificativas, depois de ter tido expostos seus vícios e fraquezas, nas eleições seguintes seu partido consegue novamente a maioria. As explicações são muitas. Em primeiro lugar, Silvio Berlusconi dispõe de potência midiática: TVs, semanais, primeiras páginas de jornais, que lhe permitiram campanhas eleitorais incrivelmente incisivas.
Além disso, por anos personificou o ideal de "self-made man", que conseguiu tudo por mérito, força e empreendedorismo próprios. Na percepção pública, mesmo se cometeu atos ilícitos, o fez com astúcia, servindo-se das brechas de nosso sistema. "Quem não teria feito igual", justificam. E assim ele conseguiu erguer um império imobiliário e midiático. Há muitíssimas lendas sobre ele. E aqueles que poderiam tentar vencê-lo não conseguiram apresentar programas convincentes, não conseguiram conquistar o eleitorado de esquerda, não conseguiram restabelecer o front hoje baldio do comunismo.
O governo atual, por outro lado, era necessário para recuperar a credibilidade internacional da Itália, mas, depois de quase um ano, avaliando-o quanto ao aspecto das organizações criminosas --porque, como já disse, a capacidade dessas organizações de se infiltrar por completo no âmbito econômico durante a crise é exponencial-- digo que, como o precedente, esse governo conhece somente o lado repressor e não ataca nem minimamente o aspecto econômico e fundamental dessas organizações.
O sr. acha que a opinião pública está mais consciente hoje de que a Máfia é um mal?
Se não há homicídios, a presença da máfia em organizações criminais passa, em muitas zonas da Itália, despercebida. Quando fazia "Vieni Via con Me" [algo como "vem comigo"], falei das máfias do norte da Itália, e quem ouvia não acreditava, apesar de que haviam investigações comprovando o que eu contava. O então ministro do Interior, Roberto Maroni, que é da Lega Nord [partido que reúne separatistas do norte italiano], disse que iria ao programa ler a lista de todos os presos nos últimos tempos.
O que até hoje não ficou claro é que a ala militar não existe sem a ala econômica dos clãs. As prisões de pouco servem: a hidra tem nove cabeças, e se você corta uma, no lugar logo nasce outra. É preciso dotar nosso sistema econômico de anticorpos para impedir que as organizações criminosas se infiltrem em tudo, da coleta de detritos até o transporte rodoviário.
Quanto da cultura italiana se liga às máfias?
A cultura mafiosa compõe somente uma parte da tradição italiana. Não a chamaria nem mesmo cultura, diria mais uma atitude tradicional de apego --à terra, aos bens, à virgindade, os valores familiares, as hierarquias familiares. E tudo isso, soa estranho dizer, se liga estreitamente ao turbocapitalismo. Então há, de um lado, o culto à virgindade, à propriedade, à terra e a regras quase medievais; e, de outro, investimentos financeiros e vanguarda econômica. A união desses dois ingredientes é que faz o DNA extremamente forte e dominante das máfias.
Qual é sua opinião sobre filmes e séries como "O Poderoso Chefão" e "Família Soprano"?
São produtos muito diferentes entre si. "O Poderoso Chefão" cunhou um imaginário de certa forma épico. Prova disso é que os mafiosos --eu contei isso em "Gomorra"-- imitam cenas do filme em seu cotidiano e mandam construir casas inspiradas na de Tony Montana. "Família Soprano", por sua vez, vai no sentido oposto e tenta mostrar a normalidade da vida de um "capo". O lado brutal, criminoso, mas também o dia a dia, às vezes ridículo, feito de pequenos grandes dramas, de sessões de análise, de cabeleireiros, de problemas com os filhos adolescentes.
Talvez essa possa ser uma maneira de desconstruir um imaginário. Mas "O Poderoso Chefão" e "Família Soprano" são filhos de épocas distintas e acho que, tudo somado, se dirigem a públicos diferentes.
O sr. acha que a Máfia pode ser vencida?
O juiz Giovanni Falcone, morto em um atentado mafioso na Sicília, em 1992, dizia: "A Máfia é um fenômeno humano e, como todos os fenômenos humanos, tem um princípio, uma evolução própria e terá, portanto, um fim". Eu espero com todas as minhas forças que sim; mas, sem uma mudança radical na nossa ordem econômica, não será possível.
O seu programa de TV sofreu censura?
A pior das censuras, a mais subterrânea, a mais sub-reptícia: os contratos com os patrocinadores não se firmavam, o estúdio era pequeno e isolado. Variava o número de blocos, uma hora quatro, outra três, outra dois. Em suma, o clima era de total e constante incerteza. Uma forma incrivelmente astuta de fazer desandar o programa e poder dizer: "Viram? O que vocês têm a dizer não interessa, ninguém quer saber".
O que o sr. acha da profissão de repórter, num momento em que a internet é crucial para o mundo da informação?
A internet e as agências de notícias facilitaram muito o trabalho tradicional do repórter, modificaram-no de forma profunda, não necessariamente para o mal, como alguns sustentam. O jornalista tem agora uma terfa mais árdua, mas mais estimulante: reunir as peças de um quebra-cabeças que estão espalhadas à vista de todos. Tudo está à mão, mas não tudo é inteligível. Às vezes certas partes escapam; em outras, não é possível relacionar certos fatos. É isso: o repórter agora não é instado a encontrar a informação em primeira mão, mas também (e sobretudo) a reelaborá-la, a explicá-la.
Que impressões o sr. guarda da experiência de fazer um programa de TV?
Chegar a milhões de pessoas é, sem dúvida, uma experiência incrível, que causa uma vertigem que não se experimenta de outra forma. Saber que 12 milhões de pessoas estão vendo você tira seu fôlego, bloqueia, turva a vista. É inacreditável. Isso é o bom e o ruim ao mesmo tempo. Repetir um sucesso fenomenal é impossível. Então existe o risco de, depois dessa vertigem, ficarmos paralisados.
Por sorte, não foi o que aconteceu conosco. O programa foi ao ar por um canal diferente --menor, com menos recursos-- em maio passado e continuou a ser um sucesso. Isso deixou claro, para nós, que o que conta não é o canal, mas a mensagem. A mensagem que tentamos passar, de novo, foi: as palavras são importantes; é preciso refletir sobre cada uma delas. É importante olhar além das fronteiras do nosso país, mas é fundamental conhecer e entender aquilo que acontece em países distantes que se ligam ao nosso por relações econômicas que se estreitarão mais e mais.
Por isso interessa recordar o que houve em 2004 na escola de Beslan, na Rússia [onde crianças foram mortas por terroristas tchetchenos], como se vive nos "laogai" chineses, que são campos de concentração modernos. Pensamos que a atualidade imediata, feita de spreads e de agências de classificação de risco, pode dar lugar à compreensão do que nos circunda. E esse pensamento foi reconhecido uma vez mais pelos espectadores.
Quais são os livros e pessoas que o sr. admira e por quê?
Seria uma longa lista e ainda assim esqueceria alguém. Mas eu quero recordar Christian Poveda. Eu o conheci porque firmou um abaixo-assinado em solidariedade a mim. Foi morto em 2 de setembro de 2009 em El Salvador por causa do documentário "La Vida Loca", uma obra-prima sobre as maras [quadrilhas salvadorenhas]. Meu pensamento está com ele.
Quais são seus próximos projetos?
Estou escrevendo um novo livro e tenho muitos projetos para TV. Na Itália, claro, mas também no exterior --espero chegar à Espanha e à Alemanha, onde se dá muita atenção ao tema das organizações criminosas.
Como o sr. se descreve?
Como alguém em busca de uma vida normal. De um pouco de liberdade.
Como é seu cotidiano?
Vivo uma vida totalmente anômala. Alterno períodos de completa solidão e isolamento e outros de máxima visibilidade, quando estou na TV ou participo de eventos públicos. Isso faz a minha vida ser completamente esquizofrênica. Tenho uma escolta de sete policiais militares quando saio e faço aparições públicas. Nos percursos cotidianos, são cinco. Uso dois carros blindados.
A sua situação é comparável à do escritor Salman Rushdie?
Rushdie foi ameaçado de morte simplesmente por ter escrito "Os Versos Satânicos". A minha situação é diferente. Se "Gomorra" tivesse ficado restrito àqueles ligados aos fatos, alguns colegas jornalistas, um ou outro advogado ou juiz e alguns fanáticos por temas de crime organizado, a Camorra não teria se sentido ameaçada. O que assustou os criminosos foi o enorme número de leitores, seu interesse crescente pela dinâmica do crime. As pessoas queriam informação, tinham sede de saber. Isso fez com que os chefões se sentissem vulneráveis e daí vieram as ameaças.
O sr. se arrepende? Faria algo diferente?
Eu me arrependi mil vezes de ter escrito "Gomorra" e não outro livro, que poderia ter me dado uma vida de escritor, e não de perseguido.
Como o sr. vê "Gomorra" hoje?
Eu odiei o livro por muito tempo. Sabia que devia muito a ele, talvez até demais, mas às vezes eu gostaria de poder voltar atrás e nunca tê-lo escrito.
O sr. é casado, tem filhos? Como se vê daqui a dez anos?
Não consigo imaginar meu futuro. Gostaria de ter uma vida normal. Venho tentando e espero lentamente conseguir.
O que os seus pais pensam de seu trabalho?
É difícil saber o que opinam. Obviamente se orgulham de mim, mas meu trabalho transtornou a vida deles tanto quanto a minha. É meu maior remorso.
O sr. se sente melancólico, claustrofóbico? O que lhe faz falta?
Eu me sinto assim o tempo todo. Sinto falta do meu passado, da liberdade que perdi. Às vezes queria voltar ao verão de 2006, ano em que saiu "Gomorra". Lancei o livro Itália afora, com uma mochila nas costas, passando noites em trens. As pessoas me esperavam para falar do meu livro, do estilo, do texto, queriam saber como eu tinha reunido tantas informações. Foi a melhor época da minha vida. Era um sonho que estava se tornando realidade: depois de tanto trabalho, o mundo cultural italiano se dava conta desse rapaz de 26 anos que tinha tanta vontade de escrever, de dividir ideias e experiências. Se eu pudesse, pararia o tempo ali.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

vídeo sobre os privatas emplumados

E já está circulando na internet o mais novo vídeo sobre a famosa privataria tucana. Sim, aquele evento tão bem documentado e vergonhosamente ignorado pelos coronéis midiáticos. E o youtube cumpre seu papel didático, servindo para atiçar ainda mais a vontade daqueles que ainda não conferiram o best-seller sobre o que foi, sem dúvida, um dos maiores esquemas de corrupção da história da República. Ou alguém acha que um prejuízo de 80 bi (!!) para o erário (ou seja, nós!) é troco de pinga? Perto disso, o mensalão é fichinha. Legal que a imprensa marrom brasileira ignorou tudinho, dando o famoso tiro no próprio pé. Mais legal ainda que temos a internet, esse antro de subversivos que não se cansam de criar teorias conspiratórias com a finalidade de abalar a boa-fama do tucanato. Que peninha deles…


quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Grant Morrison e os deuses dos quadrinhos


Grant Morrison já pode ser considerado um dos principais autores de hq's da história. Quem tem contato com sua obra sabe exatamente o que esperar de seus roteiros: muita referência `a cultura pop, tramas lisérgicas e bizarrices sem fim. Sua passagem pelo Batman é polêmica e há fãs que adoram e outros que desprezam complementamente. Eu fico num meio-termo, pois aprecio demais o estilo de Morrison e admiro o que ele tem feito pela DC nos últimos anos, mas não o coloco no mesmo patamar de mestres como Neil Gaiman e Alan Moore. Sou fã incondicional de sua fase no homem-anima, no final da década de 80, e o reputo como um dos raros roteiristas autorais nos quadrinhos de super-heróis atuais. Dizem que ele é o único com carta branca para fazer (quase) tudo que quiser com os personagens que escreve. 

A editora Seoman acaba de lançar no Brasil a obra "Superdeuses", na qual Morrison relata um pouco de suas experiências pessoais (inclusive com drogas, claro!) mescladas com a história das histórias em quadrinhos. Ainda não li todo o livro, que tem tradução do pelotense Érico Assis, mas estou curiosíssimo para fazê-lo. Sendo assim, aproveito para transcrever o review assinado pelo Jota Silvestre, do blog papo de quadrinho.
Detalhe: na livraria em que folheei o livro, ele estava na seção de livros infantis, sinal de que os caras não manjam nada mesmo…

Superdeuses é leitura obrigatória – mas só para iniciados

A apresentação na contracapa de Superdeuses, do roteirista escocês Grant Morrison (editora Seoman, R$ 59,90), diz que o livro explica por que os super-heróis “são importantes, por que sempre estarão entre nós, o que revela sobre quem somos e em que ainda podemos nos transformar”.
A descrição é correta, em parte. Mais precisamente, no que se refere às últimas páginas de um total de quase 500. Antes disso, Morrison fala especificamente da relação dos heróis de papel com uma pessoa: ele mesmo.
Mistura de análise das diferentes Eras dos quadrinhos (e suas obras seminais) com autobiografia, Superdeuses parte da gênese do mito do super-herói dos quadrinhos em Superman e chega aos dias de hoje, citando HQs recentes comoInvasão Secreta (de 2008).
Neste percurso, passa por obscuros heróis da Era de Ouro, pelo Iluminismo da Era de Prata, pela resposta da DC ao Comics Code na forma de histórias surreais, os heróis “humanos” do Universo Marvel nos anos 1960, o início da Era das Trevas e suas HQs sombrias, a Era Image, a fase atual, que Morrison chama de Renascimento.
O que diferencia Superdeuses de outros livros que já se prestaram a contar a história dos comics é que, à análise socioeconômica de cada época em que os quadrinhos foram publicados, Morrison adiciona uma visão da cultura pop: o que os jovens vestiam e ouviam, que drogas usavam, o que tocava nas pistas.
No meio desta trajetória, o roteirista introduz as principais passagens da própria vida, da infância num bairro operário ao sonho de fazer a diferença no mundo das artes. Sem nenhum pudor, fala da perda da virgindade, da adesão ao movimento punk, dos rituais xamânicos que praticava vestido de mulher, da experiência extrassensorial que experimentou num quarto de hotel em Katmandu.
Mais importante de tudo, ele prova que perseguiu obstinadamente o objetivo de trabalhar para a indústria de quadrinhos de super-heróis, e não só chegou lá, como também é considerado um dos mais importantes roteiristas de sua época. Morrison faz parte da chamada “invasão britânica”, grupo de escritores e artistas que passaram a trabalhar para a DC Comics na virada dos anos 1980–90 e inovaram a fórmula de fazer quadrinhos. O fruto mais conhecido deste período é a criação do selo Vertigo, de histórias adultas. Não é pouca coisa.
A maior crítica que a edição brasileira recebeu foi em relação à capa. Na tentativa de reproduzir o conceito da original – a chegada de Superman à Terra – a arte nacional erra feio. A Seoman confirmou a este blog que a capa será refeita para a segunda edição do livro.
Se erra na capa, a editora acerta enormemente na tradução. Morrison tem uma escrita fluida, cativante, mas um estilo difícil, de longos períodos desconexos, cheios de digressões e neologismos. Érico Assis, do site de cultura pop Omelete – e que já traduziu quadrinhos de Craig Thompson e Daniel Clowes, entre outros – conseguiu transpor o turbilhão de ideias e conceitos para o Português, e ainda preservar o estilo do autor.
Superdeuses é leitura obrigatória, mas quase que exclusiva para os iniciados em quadrinhos de super-heróis. O livro exige certa familiaridade com nomes de autores e obras para se tirar o melhor proveito. Se o leitor deste blog faz parte deste grupo, o livro vale o investimento.