sexta-feira, 30 de novembro de 2012
Marvel Bond girls
O artista Bill Walko fez um mashup bacana das heroínas da Marvel, em versões Bond-girls. Dedicado ao Paulista, que é fã da Marvel e do 007.
segunda-feira, 19 de novembro de 2012
10 filmes cultuados
Dia desses, assistindo ao telecine cult, que exibia o filme "mulher nota 1000", me perguntei: mas afinal, o que faz um filme ser cultuado? Quais os ingredientes que transformam uma película em um típico "cult movie"?
Geralmente, os estudiosos da sétima arte costumam dizer que "cult" é aquele filme que, mesmo não senso um grande sucesso de bilheteria, consegue angariar uma legião de admiradores, fãs que incorporam a filosofia proposta pela obra e que fazem questão de assistir várias vezes ao filme que tanto adoram. O fato de ser "cult" também não é garantia de qualidade, segundo a crítica especializada. Vários filmes que são ignorados pelos críticos são absolutamente adorados pelos aficionados. Há, obviamente, filmes cultuados tanto pelos fãs quanto pelos críticos, assim como há grandes sucessos de bilheteria (como a saga "Star Wars") que podem perfeitamente ser considerados "cult movies". É possível falar também de um grupo de diretores "cult", como David Lynch, John Waters e David Cronenberg. De igual modo, há aqueles filmes cultuados pelos próprios diretores, como " Cidadão Kane" e "Oito e meio", que constantemente recebem homenagens.
A verdade é que, no fim das contas, tudo acaba sendo uma questão de gosto pessoal. Por isso, selecionei alguns filmes que considero verdadeiros "cult movies":
Com exceção de E.T., Henry Thomas é muito pouco lembrado pelo público em geral. No entanto, em 1984 ele fez esse filme delicioso que virou um verdadeiro clássico da "sessão da tarde". Aventura que mexe com a imaginação de crianças e adolescentes, assim como "Os goonies", faz parte daquele tipo de filme que não se faz mais no cinema atual, que está mais preocupado com merchandising do que com qualquer outra coisa.
2 - Um século em 43 minutos
Misto de ficção científica e suspense, traz Malcolm Mcdowell em um dos raros papéis "normais" de sua carreira. Aqui ele interpreta o escritor H.G. Wells, que viaja no tempo atrás de Jack, o estripador. Uma grande sacada do roteiro, explorada de forma bem eficiente pelo diretor Nicholas Meyer. O filme é tão bom que pode perfeitamente entrar na lista dos melhores sobre viagem do tempo, tema bastante recorrente no cinema
David Bowie e trilha sonora do Bauhaus. Mais "cult", impossível. Pena que depois Tony Scott foi dirigir "Top Gun".
4 - O sol por testemunha
A versão definitiva do livro de Patricia Highsmith traz Alain Delon no auge da carreira, interpretando o "talentoso Ripley". Dá até pena do Matt Damon. Final arrebatador para um clássico do suspense, que rivaliza com os melhores dirigidos pelo mestre Hitchcock
Um dos grandes filmes de assalto de todos os tempos. Jules Dassin precisou abandonar os EUA e ir para a França para poder realizar sua obra-prima. O filme influenciou todo mundo, de Tarantino a Christopher Nolan, que prestou uma bela homenagem a Dassin em "A origem". A sequência do roubo dura 12 minutos e (ao que parece) foi feita sem cortes.
Um dos maiores "cult movies" da história e provavelmente o melhor filme da carreira de Ridley Scott. Adaptação de texto de Philip K. Dick realizada com elenco perfeito: Harrison Ford, Rutger Hauer e a belíssima Sean Young transitam em um futuro que tem muito do nosso presente.
Recentemente, vi a versão original de Orson Welles, montada de acordo com sua visão para o filme. O início do filme é um dos mais famosos e copiados "travellings" do cinema. O elenco é de chorar de bom: Charlton Heston, Janet Leigh e Marlene Dietrich em uma trama noir que , se não é o melhor trabalho de Welles como diretor, é sem dúvida sua obra mais cultuada.
Alan Parker era um dos diretores europeus de maior sucesso em Holywood quando voltou a sua Irlanda natal para fazer esse musical que trata de um grupo de proletários que resolvem montar uma banda de "soul music". Com uma trilha sonora maravilhosa, o filme é uma aula sobre como se fazer um grande trabalho com poucos recursos.
Antes de "O senhor dos anéis", Peter Jackson realizou essa verdadeira pérola, lembrada até hoje por seus fãs. Uma jovem Kate Winslet dá show de interpretação em uma história marcante sobre amor, obsessão e violência. Com toques de suspense e terror, o filme foge dos padrões convencionais e é bastante ousado ao tocar na temática da homossexualidade. Belíssimo.
Primeiro filme de José Mojica como personagem Zé do Caixão. Até Tim Burton adora o sujeito, o que quer dizer muito. Terror nacional da melhor qualidade, é sem dúvida um dos grandes "cult movies" da história do cinema nacional, provando que cinema se faz com muita vontade e criatividade.
domingo, 11 de novembro de 2012
Dez fatos relacionados com as contradições existentes nos EUA
Interessante lista de fatos relacionados abaixo. Polêmicas se desdobram da análise dos fatos, mas negá-los e deixar de reconhecer, pelo menos em parte, boa parte das contradições existentes nos EUA e que fundam o drama das classes subalternas. Especialmente daqueles que dependem de saúde pública (?) e que estão incluídos na massa carcerária. Ah, não esqueçamos o obscurantismo religioso, que ganha cada vez mais espaço, lá como cá.
Do Diário da Liberdade
10 Factos Chocantes Sobre os EUA
-
Os Estados Unidos têm a maior população prisional do mundo,
compondo menos de 5% da humanidade e mais de 25% da humanidade presa. Em
cada 100 americanos 1 está preso1.
A subir em flecha desde os os anos 80, a surreal
taxa de encarceramento dos EUA é um negócio e um instrumento de controlo
social: À medida que o negócio das prisões privadas alastra como
gangrena, uma nova categoria de milionários consolida o seu poder
político. Os donos destes cárceres são também na prática donos de
escravos, que trabalham nas fábricas no interior prisão por salários
inferiores a 50 cêntimos por hora. Este trabalho escravo é tão
competitivo, que muitos municípios hoje sobrevivem financeiramente
graças às suas próprias prisões camarárias, aprovando simultaneamente
leis que vulgarizam sentenças de até 15 anos de prisão por crimes
menores como roubar pastilha elástica. O alvo destas leis draconianas
são os mais pobres mas sobretudo os negros, que representando apenas 13%
da população americana, compõem 40% da população prisional do país.
Calcula-se que cerca de 16 milhões de crianças americanas vivam
sem “segurança alimentar”, ou seja, em famílias sem capacidade económica
de satisfazer os requisitos nutricionais mínimos de uma dieta saudável.
As estatísticas provam que estas crianças têm piores resultados
escolares, aceitam piores empregos, não vão à universidade e têm uma
maior probabilidade de, quando adultos, serem presos.
São mais os países do mundo em que os EUA intervieram
militarmente do que aqueles em que ainda não o fizeram. Números
conservadores apontam para mais de 8 milhões de mortes causadas pelos
EUA só no século XX. E por detrás desta lista escondem-se centenas de
outras operações secretas, golpes de Estado e patrocínio de ditadores e
grupos terroristas. Segundo Obama, recipiente do Nobel da Paz, os EUA
têm neste momento a decorrer mais de 70 operações militares secretas em
vários países do mundo. O mesmo presidente, criou o maior orçamento
militar norte-americano desde a Segunda Guerra Mundial, batendo de longe
George W. Bush.
Embora estes números variem de acordo com o Estado e dependam dos
contratos redigidos pela empresa, é prática corrente que as mulheres
americanas não tenham direito a nenhum dia pago antes nem depois de dar à
luz. Em muitos casos, não existe sequer a possibilidade de tirar baixa
sem vencimento. Quase todos os países do mundo oferecem entre 12 e 50
semanas pagas em licença de maternidade. Neste aspecto, os Estados
Unidos fazem companhia à Papua Nova Guiné e à Suazilândia com 0 semanas.
Se não tiver seguro de saúde (como 50 milhões de americanos não
têm), então, tem boas razões para recear mais a ambulância e os cuidados
de saúde que lhe vão prestar, que esse inocente ataquezinho cardíaco.
Com as viagens de ambulância a custarem em média 500€, a estadia num
hospital público mais de 200€ por noite, e a maioria das operações
cirúrgicas situadas nas dezenas de milhar, é bom que possa pagar um
seguro de saúde privado. Caso contrário, a América é a terra das
oportunidades e como o nome indicam, terá a oportunidade de se endividar
até às orelhas e também a oportunidade de ficar em casa, fazer figas e
esperar não morrer desta.
-
Os EUA foram fundados sobre o genocídio de 10 milhões de
nativos. Só entre 1940 e 1980, 40% de todas as mulheres em reservas
índias, foram esterilizadas contra sua vontade pelo governo americano6.
Esqueçam a história do Dia de Acção de Graças,
com índios e colonos a partilhar placidamente o mesmo peru à volta da
mesma mesa. A História dos Estados Unidos começa no programa de
erradicação dos índios. Tendo em conta as restrições actuais à imigração
ilegal, ninguém diria que os fundadores deste país foram eles mesmo
imigrantes ilegais, que vieram sem o consentimento dos que já viviam na
América. Durante dois séculos, os índios foram perseguidos e
assassinados, despojados de tudo e empurrados para minúsculas reservas
de terras inférteis, em lixeiras nucleares e sobre solos contaminados.
Em pleno século XX, os EUA puseram em marcha um plano de esterilização
forçada de mulheres índias, pedindo-lhes para colocar uma cruz num
formulário escrito num língua que não compreendiam, ameaçando-as com o
corte de subsídios caso não consentissem ou, simplesmente,
recusando-lhes acesso a maternidades e hospitais. Mas que ninguém se
espante, os EUA foram o primeiro país do mundo a levar a cabo
esterilizações forçadas ao abrigo de um programa de eugenia,
inicialmente contra pessoas portadoras de deficiência e mais tarde
contra negros e índios.
Para além de ter que jurar que não é um agente secreto nem um
criminoso de guerra nazi, vão-lhe perguntar se é, ou alguma vez foi
membro do “Partido Comunista”, se tem simpatias anarquista ou se defende
intelectualmente alguma organização considerada “terrorista”. Se
responder que sim a qualquer destas perguntas, ser-lhe-á automaticamente
negado o direito de viver e trabalhar nos EUA por “prova de fraco
carácter moral”.
O ensino superior é uma autêntica mina de ouro para os
banqueiros. Virtualmente todos os estudantes têm dívidas astronómicas,
que acrescidas de juros, levarão em média 15 anos a pagar. Durante esse
período os alunos tornam-se servos dos bancos e das suas dívidas, sendo
muitas vezes forçados a contrair novos empréstimos para pagar os antigos
e ainda assim sobreviver. O sistema de servidão completa-se com a
liberdade dos bancos de vender e comprar as dívidas dos alunos a seu
bel-prazer, sem o consentimento ou sequer a informação do devedor. Num
dia deve-se dinheiro a um banco com uma taxa de juro e no dia seguinte,
pode-se dever dinheiro a um banco diferente com nova e mais elevada taxa
de juro. Entre 1999 e 2012, a dívida total dos estudantes americanos
ascendeu a 1.5 triliões de dólares, subindo uns assustadores 500%.
Não é de espantar que os EUA levem o primeiro lugar na lista dos
países com a maior colecção de armas. O que surpreende é a comparação
com o resto do mundo: No resto do planeta, há 1 arma para cada 10
pessoas. Nos Estados Unidos, 9 para cada 10. Nos EUA podemos encontrar
5% de todas as pessoas do mundo e 30% de todas as armas, qualquer coisa
como 275 milhões. E esta estatística tende a se extremar, já que os
americanos compram mais de metade de todas as armas fabricadas no mundo.
A maioria dos americanos são cépticos; pelo menos no que toca à
teoria da evolução, em que apenas 40% dos norte-americanos acredita. Já a
existência de Satanás e do inferno, soa perfeitamente plausível a mais
de 60% dos americanos. Esta radicalidade religiosa explica as “conversas
diárias” do ex-presidente Bush com Deus e mesmo os comentários do
ex-candidato Rick Santorum, que acusou os académicos americanos de serem
controlados por Satã.
sábado, 10 de novembro de 2012
Todo mundo conhece algum Almeidinha
Descobri o texto no site da Carta Capital. O texto é muito legal: trata de um sujeito desinteressante, mas que está aí para ser parente ou vizinho ou colega de trabalho: Almeidinha (um estereótipo). Todo mundo conhece um, ou pior, convive com um que se enquadra no estereótipo almeidinhano. Pessoalmente, os sujeitos da "família Almeidinha" que conheço são, em grande parte, religiosos e moralistas (eis a cereja do bolo da hipocrisia dos almeidinhas da vida). Naturalmente, quase todos estão no lado do dem e admiram um passaro muito famoso por seu bico avantajado.
O estereótipo é generoso, não excludente quanto a formação e vida profissional. Abarca, entre os que possuem nível superior, grande número de bacharéis em direito, muitos dedicados ao exercício do bacharelismo, mas não exclui engenheiros, de todas as engenharias. Se os almeidinhas bacharéis são capazes de resolver todos os problemas, com recursos como cadeia e porrada, os almeidinhas gênios são a solução personificada, a realização tecnológica dos desejos bacharelescos. Claro, não poderíamos excluir o universo dos almeidinhas da medicina, senhores da vida e da morte - e de todo o resto. Ressalto que não pretendo generalizar, nem atacar o sobrenome, mas não sejamos tolos: little almeidas estão por todos os lados, mas se destacam nas carreiras, ou formações que citei. Por óbvio, não são todos, nem a maioria, Almeidinhas, mas estes parecem ser hegemônicos nas áreas mencionadas.
Estão por todos os lados, com ou sem diploma, jovens e velhos, prefeitos e edis, piolhos ou não, sempre atentos às verdades do jornal nacional e às capas da veja. Ah, não esqueçamos que almeidinhas são adeptos e militantes do ativismo...virtual.
Tem até Almeidinha com outro nome e sobrenome que estão para Almeidinha assim como John estava para Mccartney, mas é melhor não mencioná-los, são uma espécie de anti-Flanders, embora pretendam, ou simplesmente aparentam, ser como Flanders.
Para maiores esclarecimentos sobre Almeidinha, leia o texto (vale a pena). A frase inicial é um dos motes identificadores de Almeidinha, como diria Francis.
“Direitos humanos para humanos direitos”
Matheus Pichonelli
Almeidinha era o sujeito inventado pelos amigos de faculdade para
personalizar tudo o que não queríamos nos transformar ao longo dos anos.
A projeção era a de um cidadão médio: resmungão em casa, satisfeito com
o emprego na “firma” e à espera da aposentadoria para poder tomar
banho, colocar pijama às quatro da tarde, assistir ao Datena e reclamar
da janta preparada pela esposa. O Almeidinha é aquele sujeito capaz de
rir de qualquer piada de português, negro, gay e loira. Que guarda
revistas pornográficas no armário, baba nas pernas da vizinha desquitada
(é assim que ele fala) mas implica quando a filha coloca um vestido
mais curto. Que não perde a chance de dizer o quanto a esposa (ele chama
de “patroa”) engordou desde o casamento.
O Almeidinha, para nosso espanto, está hoje em toda parte.
Multiplicou-se em proporção geométrica e, com os anos, se modernizou. O
sujeito que montava no carro no fim de semana e levava a família para ir
ao jardim zoológico dar pipoca aos macacos (apesar das placas de
proibição) sucumbiu ao sinal dos tempos e aderiu à internet. Virou um
militante das correntes de e-mail com alertas sobre o perigo comunista,
as contas no exterior do ex-presidente, os planos do Congresso para
acabar com o 13º salário. Depois foi para o Orkut. Depois para o
Facebook. Ali encontrou os amigos da firma que todos os dias o lembram
dos perigos de se viver num mundo sem valores familiares. O Almeidinha
presta serviços humanitários ao compartilhar alarmes sobre privacidade
na rede, homenagens a pessoas doentes e fotos de crianças deformadas. O
Almeidinha também distribui bons dias aos amigos com piadas sobre o
Verdão (“estude para o vestibular porque vai cair…hihihii”) e mensagens
motivacionais. A favorita é aquela sobre amar as pessoas como se não
houvesse amanhã, que ele jura ser do Cazuza mas chegou a ele como Caio
Fernandes (sic) Abreu.
O Almeidinha gosta também de se posicionar sobre os assuntos que
causam comoção. Para ele, a atual onda de violência em São Paulo só
acontece porque os pobres, para ele potenciais criminosos (seja
assassino ou ladrão de galinha) têm direitos demais. O Almeidinha tem um
lema: “Direitos Humanos para Humanos Direitos”. Aliás, é ouvir essa
expressão, que ele não sabe definir muito bem, e o Almeidinha boa praça e
inofensivo da vizinhança se transforma. “Lógica da criminalidade”,
“superlotação de presídios”, “sindicato do crime”, “enfrentamento”, “uso
excessivo da força”, para ele, é conversa de intelectual. E se tem uma
coisa que o Almeidinha detesta mais que o Lula ou o Mano Menezes (sempre
nesta ordem) é intelectual. O Almeidinha tem pavor. Tivesse duas bombas
eram dois endereços certos: a favela e a USP. A favela porque ele
acredita no governador Sergio Cabral quando ele fala em fábrica de
marginais. A USP porque está cansado de trabalhar para pagar a conta de
gente que não tem nada a fazer a não ser promover greves, invasões,
protestos e espalhar palavras difíceis. O Almeidinha vota no primeiro
candidato que propuser esterilizar a fábrica de marginal e a construção
de um estacionamento no lugar da universidade pública.
Uma metralhadora na mão do Almeidinha e não sobraria vagabundo na
Terra. (O Almeidinha até fala baixo para não ser repreendido pela
“patroa”, mas se alguém falar ao ouvido dele que “Hitler não estava
assim tão errado” ganha um amigo para o resto da vida).
A cólera, que o fazia acordar condenando o mundo pela manhã, está
agora controlada graças aos remédios. O Almeidinha evoluiu muito desde
então. Embora desconfiado, o Almeidinha anda numas, por exemplo, de que
agora as coisas estão entrando nos eixos porque os políticos – para ele a
representação de tudo o que o impediu de ter uma casa na praia – estão
indo para a cadeia. Ele não entende uma palavra do que diz o tal do
Joaquim Barbosa, mas já reservou espaço para um pôster do ministro do
Supremo ao lado do cartaz do Luciano Huck (“cara bom, ajuda as pessoas”)
e do Rafinha Bastos (“ele sim tem coragem de falar a verdade”). O
Almeidinha não teve colegas negros na escola nem na faculdade, mas ele
acha que o exemplo de Barbosa e do presidente Barack Obama é prova
inequívoca de que o sistema de cotas é uma medida populista. É o que
dizia o “meme” que ele espalhou no Facebook com o argumento de que, na
escravidão, o tráfico de escravos tinha participação dos africanos. Por
isso, quando o assunto encrespa, ele costuma recorrer ao “nada contra,
até tenho amigos de cor (é assim que ele fala), mas muitos deles têm
preconceitos contra eles mesmos”.
O Almeidinha costuma repetir também que os pobres é que não se
ajudam. Vê o caso da empregada, que achou pouco ganhar vinte reais por
dia para lavar suas cuecas e preferiu voltar a estudar. Culpa do Bolsa
Família, ele diz, esse instrumento eleitoral que leva todos os
nordestinos, descendentes de nordestinos e simpatizantes de nordestinos a
votar com medo de perder a boquinha. Em tempo: o filho do Almeidinha
tem quase 30 anos e nunca trabalhou. Falta de oportunidade, diz o
Almeidinha, só porque o filho não tem pistolão. Vagabundo é outra coisa.
Outra cor. Como o pai, o filho do Almeidinha detesta qualquer tipo de
bolsa governamental. A bolsa-gasolina que recebe do pai, garante, é
outra coisa. Não mexe com recurso público. (O Almeidinha não conta pra
ninguém, mas liga todo dia, duas vezes por dia, para o primo de um
conhecido instalado na prefeitura para saber se não tem uma boca de
assessor para o filho em algum gabinete).
O filho do Almeidinha também é ativista virtual. Curte PlayStation,
as sacadas do Willy Wonka, frases sobre erros de gramática do Enem,
frases sobre o frio, sobre o que comer no almoço e sobre as bebedeiras
com os moleques no fim de semana (segue a página de oito marcas de
cerveja). Compartilha vídeos de propagandas de carro e fotos de mulheres
barrigudas e sem dentes na praia. Riu até doer a barriga com a página
das barangas. Detesta política – ele não passa um dia sem lembrar a
eleição do Tiririca para dizer que só tem palhaço em Brasília. E se
sente vingado toda vez que alguém do CQC faz “lero-lero” na frente do
Congresso. Acha todos eles uns caras fodásticos (é assim que ele fala).
Talvez até mais que o Arnaldo Jabor. Pensa em votar com nariz de palhaço
na próxima eleição (pensa em fazer isso até que o voto deixe de ser
obrigatório e ele possa aproveitar o domingo no videogame). Até lá, vai
seguir destruindo placas e cavaletes que atrapalham suas andanças pela
cidade.
Como o pai, o filho do Almeidinha tem respostas e certezas para tudo.
Não viveu na ditadura, mas morre de saudade dos tempos em que as coisas
funcionavam. Espera ansioso um plebiscito para introduzir de vez a pena
de morte (a única solução para a malandragem) e reduzir a maioridade
penal até o dia em que se poderá levar bebês de oito meses para a
cadeia. Quer um plebiscito também para acabar com a Marcha das Vadias. O
que é bonito, para ele, é para se ver. E se tocar. E ninguém ouve
cantada se não provoca (a favorita dele é “hoje não é seu aniversário
mas você está de parabéns, sua linda”. Fala isso com os amigos e sai em
disparada no carro do pai. O filho do Almeidinha era “O” zoão da turma
na facul).
Pai e filho estão cada vez mais parecidos. O pai já joga Playstation e
o menino de 30 anos já fala sobre a decadência dos costumes. Para tudo
têm uma sentença: “Ê, Brasil”. Almeidinha pai e Almeidinha filho têm
admiração similar ao estilo civilizado de vida europeu. Não passam um
dia sem dizer que a vida, deles e da humanidade em geral, seria melhor
se o país fosse dividido entre o Brasil do Sul e o Brasil do Norte.
Quando esse dia chegar, garantem, o Brasil enfim será o país do presente
e não do futuro. Um país à imagem e semelhança de um Almeidinha.
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