Caê recebe a bença de Painho |
Caetano, 70 anos e 30 sem fazer um disco decente: parabéns (pelos seus fãs)
Caetano Veloso completou setenta anos. A imprensa empinou ensaiadinha o rabicó, coreografia previsível, estilo abertura das Olimpíadas. Submissão abjeta à autoridade e ao consenso que compensa. Surpresa zero. Mas se o tema das matérias era o passado do cantor, compositor, músico, muso, e ênfase é o presente. Pergunto: que presente? Caetano não importa há três décadas.
Li em uns cinco lugares diferentes que Caetano continua tão relevante como sempre. Que sua produção atual não destoa de seu melhor; suas opiniões políticas repercutem; suas recomendações artísticas pesam. Os artigos, inclusive dos amigos aqui da casa, foram da generosidade disfarçada de imparcialidade à subserviência total.
Me tenta deixar pra lá. Com Caetano é sempre assim. Provoca paixões ou vomitório, nada intermediário. Nunca escrevi sobre Veloso, e não será hoje. Me entediam sua bazófia, ansiedade e glossolalia. A vida é curta e os fãs de Caetano, à prova de argumentos. Já sei o que penso. E ele é um senhor, ou, mais precisamente, um sinhozinho. Podia ser meu pai. Vamos respeitar o tio.
Mas não vamos respeitar suas fanzocas baba-ovo, coisíssima nenhuma. Pau neles, ou, se for o caso, você. Tenho prática. Vinte anos atrás eu costumava animar festinhas desanimadas zoando os zumbis-Caê. Jornalistaiada jovem e companhia, festinha no apê, turminha reunida em volta da geladeira, cerveja gelada, cheiro de maconha etc., discussões esquentando, eu jornalista culturets, suposto entendedor de música.
Bola quicando, eu chutava: a questão não é se Caetano Veloso já fez um monte de música boa. Claro que fez! (Qual? Minha resposta de arquivo é Leãozinho, que fãs de Caetano frequentemente odeiam, eu acho uma beleza de canção de ninar).
O problema, explicava eu acendendo espocando outra latinha, não é Caetano, é gente como vocês, que continuam babando por ele, batendo palmas sem pensar, quando ele não faz um disco que preste há muitos anos. Polêmica! Contestações raivosas: como assim? Tá maluco? E essa música, e aquela outra da novela ano passado, e o dueto com não sei quem?
E aí eu cravava a estaca: não estou falando de uma canção ou outra. Estou falando de um disco decente. Quer dizer, de dez músicas do álbum, pelo menos um terço tem que ser de bacanudas. Cite aí, amigo, três canções sensacionais de um disco recente de Caetano Veloso. Silêncio. Tentativas falhas.
Eu rebatia: não, essa é do Araçá Azul, essa é deste, essa não foi composta por ele, só vale composição própria etc. (quase tudo enrolação minha...). O fato é que NINGUÉM jamais acertou três músicas decentes pertencentes ao mesmo álbum. Rendia uma meia hora de bate-boca, seguida de um satisfatório calaboca nos coleguinhas.
Hoje seria mais fácil ainda. Conferi há alguns minutos a discografia completa de Caetano. Encontrei vários discos que têm três músicas inquestionavelmente legaizinhas, pelo menos. São todos dos anos 70. Lá se vão três décadas. Não é nem de longe suficiente para beatificação.
Compare com ícones pop coroas de fora (Dylan, Jagger, Bowie, McCartney, Lou Reed e outros que fizeram canções memoráveis e relevantes no passado distante) e veja se encontras na crítica ou opinião pública gringas babação de ovo semelhante a que vemos com Caetano no Brasil. Não mesmo.
Caetano sobrevive da admiração acrítica de fãs bestas e, principalmente, da condescendência da imprensa. É compositor para panelinhas, sempre correndo para colar na nova modinha. Invariavelmente chega atrasado, mas sempre a tempo de passar por vanguardista junto aos desinformados, quem acredita ou se importa com vanguardinhas.
Em 2050, esqueleto de Caetano brilhando no caixão, ele será lembrado por Sampa, Alegria, Alegria etc., suas canções mais populares e antigas, umas 15 ou 20, que ficarão como retrato de uma época distante. Não é pouco. Também não é grande coisa.
Uma pena que o Caetano ficou tão chato ao longo dos anos. Isso obscureceu sua carreira como compositor.
ResponderExcluirPois é, e compositor ele deixou de ser desde o final da década de 1990, quando passou a gravar as músicas do Peninha.
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