domingo, 8 de abril de 2012

Os 10 melhores filmes da década. Parte III: Cidade de Deus (2002)



cartaz original do filme
Fernando Meirelles já era um publicitário bem-sucedido quando tornou-se diretor de cinema com a comédia "Domésticas", em 2001. No entanto foi com "Cidade de Deus", adaptação do livro de Paulo Lins, que ele foi reconhecido com um grande diretor.
Parte do sucesso do filme se deve ao roteiro, escrito por Bráulio Mantovani, o mesmo que repetiria a fórmula anos depois com "Tropa de Elite". Mantovani fez escola no Brasil, ao tecer uma narrativa cheia de idas e vindas, com narração em primeira pessoa, sempre tendo como figura central o personagem Buscapé, garoto crescido na famosa região do Rio de Janeiro conhecida como "Cidade de Deus". É ao redor dele que boa parte da ação do filme acontece, na medida em que o personagem passa a registrar os acontecimentos do local em sua máquina fotográfica. Com diálogos bem construídos e bastante críveis, o filme deslancha de vez já na primeira parte, situada nos anos 70, quando a criminalidade do local era restrita a ladrões de botijões de gás e praticantes de outros delitos com pouca repercussão. O filme nos apresenta então "Dadinho", o menino que anos depois iria se tornar o famoso "Zé Pequeno", bandido perigosíssimo e chefe do crime na Cidade de Deus.


Leandro Firmino da Hora em cena antológica

`A época do lançamento do filme, uma parte da crítica torceu o nariz para a linguagem utilizada por Fernando Meirelles, que em nada se parecia com o que de melhor (e pior) o cinema brasileiro havia feito no seu auge. Muitos argumentavam, e até com certa razão, que Meirelles abriu mão de um tom realista mais cru em prol de uma narrativa ao estilo MTV, com cortes rápidos e ritmo frenético. Por outro lado, alguns apreciadores do filme chamavam atenção para o teor de denúncia e crítica social que permeia o filme. Não sou adepto de nenhuma das duas posições. Acredito que a maior qualidade do filme, além do roteiro, é a direção de atores, um trabalho excepcional de Katia Lund, que conseguiu extrair o máximo de um elenco absolutamente desconhecido. De quebra, catapultou a carreira da bela Alice Braga e dos meninos Darlan Cunha e Douglas Silva, que tempos depois protagonizariam seu próprio seriado na rede globo.

Alice Braga e Alexandre Rodrigues

Num primeiro momento ignorado pela Academia de Hollywood, em 2004 "Cidade de Deus" acabou recebendo várias indicações ao Oscar, inclusive de melhor filme, um feito inédito para o cinema brasileiro.  Pena que bateu de frente com a última parte da trilogia "Senhor dos Anéis", de sorte que o filme de Peter Jackson acabou obviamente levando a melhor. De qualquer modo, o impacto de "Cidade de Deus" já estava consolidado, possibilitando a Fernando Meirelles uma carreira internacional bastante  respeitável. Ele seguiu dirigindo filmes excelentes como "O jardineiro fiel" e "Ensaio sobre a cegueira" e se tornou, junto com Walter Salles, um caso raro de cineasta brasileiro que é reconhecido no exterior e tem acesso a bons orçamentos e atores com fama em todo o mundo.
Talvez hoje a estética do filme tenha ficado envelhecida após sucessivas imitações e filmes que seguiram a mesma temática, enfocando a realidade urbana das favelas e morros do Rio de Janeiro. Contudo, nada tira o mérito do filme, um verdadeiro marco do cinema brasileiro (e mundial) contemporâneo.











Um comentário:

  1. Taí um grande post para tirar o blog das traças! Considero Cidade de Deus o Pulp Fiction brasileiro. Um verdadeiro divisor de águas no cinema nacional.

    ResponderExcluir