sábado, 21 de abril de 2012

Os 10 melhores filmes da década. Parte IV: As invasões bárbaras (2003)

`A época do lançamento, "As invasões bárbaras" provocou verdadeira comoção, principalmente entre aqueles que viveram os anos 60. O motivo? O filme de Denys Arcand trata do fim de uma geração que participou intensamente dos sonhos e das esperanças de um período histórico em que mudar o mundo parecia ser uma tarefa não somente realizável, mas necessária. Assim, ao mostrar seu protagonista, um velho intelectual libertário que sofre de câncer,  reencontrando os amigos para uma derradeira despedida, o diretor canadense tocou em muitos pontos delicados, como a decadência da civilização ocidental, a crise das ideologias e a indiscutível supremacia do capitalismo sobre todas as formas de convivência.

cartaz original do filme
Nem todo mundo sabe, mas "As invasões bárbaras" é uma continuação de "O declínio do império americano", filme de 1986 que já trazia boa parte do elenco que Arcand reuniu aqui. Há, no entanto, uma mudança de tom de um filme para outro, sendo que o espaço reservado para o drama é muito maior neste segundo trabalho, consequência do estado em que se encontrava a vida pessoal do diretor, cujo casamento havia acabado e resultado em um período de profunda depressão. 
Em seu belo roteiro, Arcand conseguiu captar boa parte das agruras e decepções pelas quais passou o principal personagem do filme, vivido por Rémy Girard, que incorpora muito bem a figura do  intelectual frustrado que vê seus sonhos do passado ruírem, sentimento que aparece de maneira emblemática na relação com seu filho,  um jovem yuppie que mora nos EUA. 

o invejável elenco 
Marie-Josée Croze
O elenco é excelente e o maior destaque é a lindíssima Marie-Josée Croze, vencedora da Palma de Ouro em Cannes e que depois trabalharia com Spielberg em "Munique" e também em "O escafandro e a borboleta", este último produzido pelo diretor americano. Croze interpreta uma viciada que auxilia o filho de Rémy a conseguir heroína para aliviar as dores decorrentes do câncer. 
Confesso que atualmente, revendo o filme, enxergo alguns pontos críticos que não enxerguei quando assisti no cinema. Por exemplo: é perceptível em alguns diálogos que Arcand termina por se render ao velho discurso de que os sonhos são para a juventude, que fomos atropelados pelos fatos, que as ideologias morreram etc. Não concordo com o cineasta nesses pontos específicos, embora reconheça que a revisão crítica das ideologias é sempre o melhor antídoto contra o dogmatismo e o voluntarismo ingênuo. Nada disso tira os méritos do filme, uma obra-prima humanista que comove como poucas. Tenho um apreço especial pelo diálogo final entre pai e filho, um momento sublime que fez muitos espectadores chorarem no cinema. A canção que encerra o filme é linda e intepretada por Françoise Hardy, cantora francesa ícone dos anos 60. 

Talvez seja o filme mais emocionante dos últimos dez anos, fato que levou a Academia de Hollywood a se render ao talento dos envolvidos, concedendo  a Denys Arcand o Oscar de melhor filme em língua estrangeira do ano de 2004.

2 comentários:

  1. Cara, esse realmente é um filmaço! Talvez o mais relevante dessa insossa década sem nome.

    Faz muito tempo que vi o filme, então não posso dar uma opinião muito precisa sobre a tua "revisão". Mas acho que, sendo um personagem que literalmente está numa situação em que as esperanças foram todas embora, é até natural que ele deixe de acreditar nos sonhos da juventude.

    Esse assunto é recorrente entre eu e o PC. Vários "companheiros" nossos dos tempos de faculdade, que na época eram muito mais radicais do que jamais fomos, hoje se mostram mais inseridos no sistema do que alguém naquela época pudesse imaginar. É uma mudança da água par o vinho. Ou para o vinagre...

    É um tema que me assusta bastante. Será que é natural o cara ficar reaça à medida que envelhece? Será que ainda sou imaturo em continuar sonhando com um mundo mais justo?

    O tempo dirá.

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  2. Um do melhores filmes que já assisti, representativo de tempos neoliberais.
    Assino o comentário do Francis, com atraso, mas antes tarde do que nunca.
    De qualquer modo, hay que se poner viejo, pero sin perder la ternura...

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