quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Capitão Caverna no Rock in Rio

Bons tempos


Maus tempos

Da idade da pedra para o "dia do metal": Capitão Caverna juntou uns amigos para fazer um som, ainda que de péssima qualidade. Mas, considerando o nível do Rock in Rio (descontado o show do Metallica, segundo Zelig) o velho Capitão Caverna se tornou notícia.

Na entrevista coletiva antes do show, disse várias vezesque estava cansado da aposentadoria (!?) e que resolveu aparecer na cena musical com um propósito digno:

- Fiquei meio deprê com as mortes de Hanna e de Barbera, então resolvi homenageá-los com um som legal.

Acredito que, onde quer que estejam, Hanna e Barbera devem estar desejando que Caverna desista logo da homenagem, ou virão buscá-lo.

O som da banda de Caverna é sofrível. Soa como um ajuntamento de descordenados tentando impressionar alguém com instrumentos musicais. Um de seus fãs disse ter saudade do tempo em que seu ídolo apenas emitia grunhidos e falava palavras desconexas. "Que saudade do caverna das antigas" afirmou uma de suas fãs.

Realmente a entrada de um cara da pedra lascada no ramo do metal não está rendendo bons frutos. E a galera "camisa preta" não perdoou o novo visual de Caverna, notório inimigo dos barbeiros e cabelereiros: atribuiram apelidos para o ex-piloto, como "Samambaia From Hell", "Samambaia 666"...

Rufus Lenhador, que desistiu da carreira musical após envolvimento com drogas (aproveitara no começo dos 90's, seu carisma, a cena grunge e suas camisas de lenhador) mandou seu recado para o ex-companheiro de corridas: "sai dessa, Caverna".

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Quiz retrô (for your eyes only, old school nerds!)

Aproveitando a onda de refilmagens de grandes sucessos dos anos 80 - o novo "A hora do espanto" estreia em breve - que tal um pequeno quiz sobre alguns clássicos oitentistas? Não vale procurar no google...

1 - Na série "De volta para o futuro" (cruzo os dedos para que os executivos dos estúdios não resolvam refilmar esse), quantos Deloreans é possível encontrar em 1955?



2 - Qual o nome do roteirista de "Os goonies" (tirem as patas desse também, malditos!)?


3 - Em qual livro infantojuvenil podemos encontrar os gremlins?




4 - Qual o nome da cidade em que se passa "Os fantasmas se divertem"?



5 - Em que período do futuro se passa a saga "Star Wars" (a original, não essa lambança que o Lucas fez depois)?

Quem acertar o maior número de respostas tem direito a ver a Princesa Leia no traje usado em "O retorno de Jedi" (você sabe de qual traje estou falando...).

terça-feira, 27 de setembro de 2011

O dia em que o rock in rio deixou de ser banal

Que o Rock in Rio é, mais do que um festival de rock, uma grande marca comercial, eu já sabia. Por isso, não dou tanta bola assim pro evento. Mas confesso que ontem, quando vi o show do Metallica, tive que admitir que uma grande banda ainda faz a diferença. Os caras fizeram uma grande apresentação.
Já me ganharam na abertura, com a trilha de Morricone... Que coisa linda! E ainda emendaram vários clássicos de sua carreira. Foi muito legal ouvir ao vivo "Ride the lighting", "For whom the bell tolls" e "Fade to black". James Hatfield continua muito carismático, Lars Ulrich é um monstro da bateria e Kirk Hammett, cara, é um legítimo "guitar hero". Toca muito...

Fazia tempo que não escutava nada da banda, mas foi ótimo confirmar que um grande festival de rock ainda é feito com os bons e velhos dinossauros...

domingo, 25 de setembro de 2011

os 10 melhores filmes da década

Como Nick Hornby tão bem define em seu livro "Alta Fidelidade", todo homem tem suas listas particulares, espécies de top 10 de tudo: músicas, discos, livros, atores, atrizes, beldades, jogos de futebol etc. Por isso, e também para não fugir `a regra dos blogs em geral, vou começar a postar aqui uma lista básica daqueles que considero os 10 melhores filmes deste início de milênio. Obviamente, as preferências são pessoais e, claro, deixei de assistir a vários filmes dessa década que passou. Mas, como a proposta do blog é a diversidade de opiniões, vou aguardar os comentários e as opiniões divergentes.
Para começar a lista, vou retroceder até o início da década passada e lembrar aquele que, para mim, é o melhor filme do grande Pedro Almodóvar: "Fale com ela".

belo cartaz do filme
Assisti a esse belíssimo filme em 2002, ano de seu lançamento, e `a época fiquei bastante impressionado com a forma como Almodóvar conduz sua história. Como sempre ocorre nas películas do diretor espanhol, vemos um roteiro original repleto de personagens marcantes, situações ao mesmo tempo cômicas e dramáticas e uma belíssima trilha sonora, aqui assinada por Alberto Iglesias.
Como é recorrente na obra do diretor espanhol, o filme enfoca algumas histórias paralelas que, em algum momento da trama, vão se cruzar. Aqui, Almodóvar optou por narrar a história de duas mulheres, Alicia e Lydia, que, em razão de fatalidades do  destino, ficam em coma num hospital de Madri. Nesse hospital trabalha como enfermeiro Benigno, responsável por cuidar de Alicia; aos poucos, ele faz amizade com Marco, o atormentado e sensível companheiro de Lydia. No decorrer da película, o espectador fica sabendo de detalhes que revelam a paixão de Benigno por Alicia, um sentimento que o leva a praticar um ato que desencadeia graves consequências nas vidas dos personagens e que redundará num grande dilema moral: afinal, qual o verdadeiro significado de nossas ações?  Será possível que uma atitude absolutamente reprovável  pode gerar efeitos positivos para aqueles por ela atingidos?
Leonor Watling
Fosse qualquer outro diretor, teríamos certamente um dramalhão de novela das 9, com muita respostas fáceis e situações-clichê. Mas isso não acontece quando há um grande realizador por trás de um roteiro extremamente bem escrito. Obviamente, Almodóvar ja era um diretor reconhecido internacionalmente quando lançou "Fale com ela", inclusive tendo recebido um Oscar de filme estrangeiro por "Tudo sobre minha mãe". Mas, para mim, foi aqui que ele realizou sua obra máxima, confirmando de vez a virada em uma carreira marcada por temáticas ligadas ao desejo, aos conflitos morais e aos relacionamentos familiares. Nesse filme, o diretor abandonou os exageros de obras anteriores e chegou a sua maturidade como realizador.



Note como está tudo no lugar: o roteiro impecável, as belas atuações, os conflitos morais, a excelente trilha sonora de Alberto Iglesias. Nem a participação de Caetano Veloso estraga o filme; ao contrário, é um momento essencial para entendermos a personalidade de um dos personagens. De bônus, ganhamos ainda um interessantíssimo curta-metragem surrealista inserido na trama e que se revela uma bela homenagem a Buñuel.
Sei que alguns críticos viram o filme como uma concessão de Almodóvar a um cinema mais certinho, portanto, mais palatável ao grande público. Como não vejo problema em cineastas que filmam de maneira tradicional e acredito que um grande cineasta é aquele que faz grandes filmes,  ainda incluo "Fale com ela" entre meus filmes favoritos de todos os tempos e Almodóvar entre os grandes cineastas contemporâneos.

sábado, 24 de setembro de 2011

Lendas, mitos e outras verdades urbanas: o "Com Licença"

um incauto


Há pouco tempo descobri uma história, talvez uma estória, sobre um tal sujeito, vulgarmente conhecido como Com Licença. Não se confundam: seu nome não era Com, nem seu sobrenome Licença. Trata-se aqui do alter ego de um vilão, quiçá um anti-herói, de meia-idade.




Foi, como se lê na crônica lançada no blog Recanto das Letras, um terror para cinéfilos ou melhor, para as massas frequentadoras de filmes arrasa-quarteirão. Enquanto os efeitos especiais ou a pancadaria corriam solto nas telas, Com Licença agia: corria seu pinto pelas poltronas do cinema, por trás da plateia, sem avisar. Uma verdadeira covardia. Com seu fetiche por nucas, e sempre espreitando pescoços incautos, disparava o alerta vermelho para os lanterninhas dos cinemas cariocas. De qualquer modo, sempre escapou dos treinados lanterninhas, sem jamais deixar de realizar sua tara-de-meia-idade. Ironicamente, nenhum diretor de cinema ainda pensou num personagem de tal estirpe.


Leiam, mas não temam: na maioria dos lugares, o "habitat natural" de Com Licença foi destruído e o sujeito sumiu. Mas...


Boa leitura, no atalho seguinte:
www.recantodasletras.com.br/cronicas/1811804

Review: Donnie Darko

Aproveitando meu mês grátis da Netflix (cuja assinatura vou cancelar antes que comecem a me cobrar devido ao fraco repertório de títulos disponíveis), revi Donnie Darko, mas dessa vez na versão original, e não a director’s cut. Para quem não sabe do que se trata, é o tipo filme do gênero what the fuck?, que o cara assiste e fica se perguntando do que se trata, afinal, aquilo tudo.

Donnie Darko tem várias coisas bacanas que permitiram, não obstante o orçamento mirrado, a criação de um dos melhores filmes da década de 2000. A abertura é com chave de ouro: Donnie andando de bicicleta ao som de Killing Moon.





Não precisa dizer mais nada. É trilha sonora oitentista na veia. Confiram se não estou mentindo:

  • "Never Tear Us Apart" by INXS
  • "Head Over Heels" by Tears for Fears
  • "Under the Milky Way" by The Church
  • "Lucid Memory" by Sam Bauer and Gerard Bauer
  • "Lucid Assembly" by Gerard Bauer and Mike Bauer
  • "Ave Maria" by Vladimir Vavilov and Paul Pritchard
  • "For Whom the Bell Tolls" by Steve Baker and Carmen Daye
  • "Show Me (Part 1)" by Quito Colayco and Tony Hertz
  • "Notorious" by Duran Duran
  • "Stay" by Oingo Boingo
  • "Love Will Tear Us Apart" by Joy Division
  • "The Killing Moon" by Echo & the Bunnymen

Bom, só a trilha sonora já valeria o filme. Mas os anos 80 não ficam só na trilha sonora. Embora produzido em 2001, toda a trama se passa em 1988. Para os saudosistas (como eu e meus companheiros deste humilde blog) é um prato cheio. E a explicação para a escolha da época, pelo diretor Richard Kelly é que ele queria fazer um filme sobre adolescentes, mas não se sentia a vontade para falar sobre a geração de hoje (no caso, já a de ontem) que ele não viveu, e que os anos 80 eram a época favorita dele. Ponto para o diretor: mais uma escolha acertada.

A caracterização da época também é muito fiel. Particularmente gostei do diálogo da irmã de Donnie com o pai. “Vou votar no Dukakis”. O pai repreende a guria ao melhor estilo tea party, e começa com aquela velha ladainha sobre os democratas aumentarem os impostos. Outra cena memorável é a conversa dos amigos de Donnie sobre a sexualidade dos Smurfs.

Claro que só isso não faria o filme ser o cult que viria a ser. Como já tinha falado no início, Donnie Darko é um filme what the fuck?, ou seja, faz o cara pensar o que seria aquilo tudo. Basicamente é difícil entender o filme por si só, e não é a toa que existem um zilhão de FAQs pela Internet. Para os curiosos, é bom ler a http://www.stainlesssteelrat.net/ddfaq.htm e tentar entender alguma coisa.


















A versão original é mais difícil ainda. Recomendo a director’s cut, que traz páginas do livro fictício “A filosofia da viagem no tempo”, de autoria da Vovó Morte, outra personagem bizarra e memorável.


Aliás, bizarro é quase tudo nesse filme, começando pela interpretação de Jake Gyllenhaal, que mais tarde ganharia notoriedade com aquele filme de cowboy gay. Donnie parece estar sempre num estado letárgico e perturbado.









Uma das teorias populares sobre o filme é que Donnie Darko é realmente um adolescente esquizofrênico, e que as visões do coelho Frank e o enredo de viagem no tempo não passam de fantasias criadas por sua mente.

Há também uma teoria envolvendo questões como desejo de incesto e repressão da sexualidade mediante fantasias de ficção científica (no caso, as viagens no tempo).

Entretanto, o diretor faz questão de enfatizar que o filme é sim sobre viagem no tempo. No caso, entretanto, o tema é abordado de uma forma mais confusa que aquela normalmente abordada em filmes do gênero. E parece que o director’s cut procura esclarecer isso. Destaque para a cena em que a psiquiatra fornece placebos a Donnie, provavelmente acreditando que o guri não está louco, no final das contas.

Também não poderia deixar de mencionar mais dois personagens memoráveis: o guru da auto-ajuda e pedófilo, vivido pelo já no final de carreira Patrick Swayze, e a professora carola entusiasta.







Confesso que, mesmo lendo as FAQs, o argumento não parece fazer muito sentido para mim. Acredito que o principal mérito do filme seja exatamente esse de instigar sobre o que aconteceu. Deixar dúvidas. Mesmo que a conclusão não seja lá essas coisas, o caminho que o espectador passa para chegar a sua ­- já que o filme não deixa nenhuma questão realmente clara – é o que faz de Donnie Darko um filme a ser visto e revisto.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

20 anos amanhã: nevermind



No dia 24 de setembro de 1991, há exatos (quase) vinte anos chegava ao mercado um disco que marcou não somente o ano de 1991 mas a música do final do século XX. Nevermind foi lançado num ano no qual houve uma convergência de grandes discos e, mesmo assim, não foi eclipsado. Apesar de ter emergido recentemente da cena underground, o Nirvana conseguiu provocar um turbilhão no cenário musical daquele começo de anos noventa, considerando a perfeita conexão entre uma proposta barulhenta (com guitarras-moto-serra, letras misteriosas e simplicidade) com o pop, considerando a aceitação da banda no mainstream. O resultado foi a busca por bandas alternativas, indie, ou simplesmente "alternativas", o que expandiu os intresses do mercado fonográfico, pelo menos naquele período, para os sujos e malvados da cena underground.


O legal de tal mudança de foco, foi a possibilidade de um dos últimos, senão o último, momento de desafogo do rock, sufocado por heavy de boutique e pop sem-vergonha, despejado pela indústria fonográfica que então passava a lhe dar voz (e guitarras estridentes). Dada a repercussão de Nevermind, surge o efeito Nirvana: todos queriam ser alternativos, ou grunges (o rótulo do momento que se vivia); muitos vestiam camisa de flanela, e poucos fizeram algo que realmente valesse a pena. Se destaca do período, por exemplo, bandas com outras sonoridades, mas que estavam no lugar certo e na hora certa: Seattle. Pearl Jam, Screaming Trees, Soundgarden e Alice in Chains são alguns bons exemplares da safra Seattle. Esses valiam o investimento no vinil!


Na carruagem, ops, carroça, do grunge, ou algo que o valha, outros milhares foram para o brejo. Alguns tentaram se tornar alternativos e grunges, e produziram resultados vexatórios, como os Titãs e o Capital Inicial (!?), reciclados aqui no Brasil. No cenário internacional emergiram muitas bandas, com nomes "diferentes", como TAD e Mudhoney. O mercado farejava em todos os cantos o novo Nirvana, e vários pintaram como pretensos neonirvanas. Era o faça-você-mesmo anos noventa, e muitos fizeram, e muita porcaria apareceu por aí.


Então, o tempo passa. Olhando para vinte anos - e vinte quilos - atrás, se percebe o quanto foi legal o ano de noventa e um, merecedor de destaque aqui no blog, um ano que será tratado em outros textos mais adiante, com a análise de alguns discos de 91 para o resto de nossas vidas. Não se deu somente a exposição de "novas" possibilidades para quem tinha bom gosto e para o mercado fonográfico (convergência de interesses muito rara, hoje inexistente, mas que eventualmente acontecia. E não é mentira!). Bandas que já vinham de algum tempo na estrada produziram grandes discos naquele ano, como, por exemplo, o REM, falecido ontem.
Mas, mesmo assim, o destaque ficou para os três caras que vieram lá de muito longe, vestidos como mendigos para dar uma sacudida no velho barulho. Lembro de uma capa da Bizz (uma revista de música que existiu há milhões de anos em uma galáxia distante) com uma foto do Cobain e a manchete "guerrilheiros invadem o palácio". A reportagem "barulho" foi marcante, dava a nós, pobres rapazes latino-americanos, sem internet (ainda perguntariamos: o que é e para que serve?), uma dimensão do que estava acontecendo lááá e que nos afetaria os tímpanos de alguma forma.
De tudo, ficou o disco com o nenezão na capa e que marcou todo mundo que não era jeca (jecas ainda eram artigos raros por aqui) naquela época. Paradoxalmente, foi o começo do fim para o Nirvana e para Cobain: a pressão do estrelato em escala mundial e a superexposição levaram o cara ao colapso, e ao suicídio quase três anos depois.


O bebê de ontem, hoje, e, ainda, um dolar

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Batman: Ano Um

Postagem bem singela, mostrando o vídeo do Batman: Ano Um. Este desenho promete.







20 anos de 1991

Aproveitando que este ano comemoramos (eu, pelo menos...) os 20 anos do grunge, o último grande movimento do rock, com festividades e lançamentos ocorrendo a torto e a direito, não poderia deixar passar em branco o lançamento do recomendadíssimo documentário sobre o Pearl Jam, uma das maiores bandas de Seattle. Dirigido por Cameron Crowe, PJ20 faz um balanço da banda de Eddie Vedder e conta com participações especiais como a do diretor David Lynch. Preciso dizer que trata-se  de programa obrigatório para todos aqueles que (felizmente) viveram aquela época?
Assista ao trailer e repare como "given to fly" continua poderosa, mesmo após mais de 10 anos do seu lançamento. Típico de um clássico.


Lembrando, ainda, que o www.omelete.com.br fez uma excelente entrevista com o pessoal da banda e o diretor. Vale a pena conferir.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Recall de cavalo empacado


O dia vinte de setembro, data nacional do Rio Grande, apresenta algumas situações peculiares. Destaco o gaudério de pilcha nova, com seu pingo empacado. Sem saber como desempacar o equino, puxa o celular da guaiaca e liga para pedir ajuda. Mas, cavalo não tem recall, nem mecânico. Eis, então, que surge o filho de um peão de seu pai para ajudar a tocar o cavalo. E oigalê!!!
Esses cavalos...

Frank Miller, hq's e cinema


Frank Miller, antes de elaborar “a queda” (cujo review foi apresentado acima), salvou o advogado cego do ostracismo na Marvel, evitou o cancelamento da HQ nos EUA, no final dos anos setenta, e, de quebra apresentou a personagem Elektra para o universo dos quadrinhos. Revitalizou a estética dos quadrinhos com argumentos que abrangem o submundo, com suas putas, criminosos e corrupção policial, lançados sobre cenários de sombras e violência. Eis o pano de fundo para arte de Frank Miller e daqueles que com ele colaboram e com os quais colaborou, seja com roteiros que refletem a perversidade mundana, seja com as sombras sobre as quais se desenvolvem roteiros.

Percebem-se elementos de linguagem cinematográfica transposta para os quadrinhos, com closes e sequências que sugerem movimento, luzes e sombras. Dentro de um contexto comercial e de cultura de massa, no qual personagens servem para vender bonecos, Miller estabeleceu um novo patamar de qualidade e de proposição artística, sem desencantar-se com a cultura pop. Desenha, para o argumento de Chris Claremont, uma série de HQ que dá protagonismo para Wolverine, hoje um ícone pop; salva o cavaleiro das trevas da jequice, ao apresentá-lo como um sujeito de meia-idade ranzinza e pessimista em um futuro nuclear repleto de adolescentes violentos; mata e ressuscita Elektra, em uma obra de arte em forma de HQ; conta a história de um samurai em Ronin e da luta dos 300 nas Termópilas; edita, desenha e roteiriza o mundo-cão de Sin City...

Entretanto, se trouxe Miller para os quadrinhos uma proposição cinematográfica, a relação de sua obra, de seus roteiros e de personagens com os quais trabalhou com o cinema não se dá com a mesma qualidade lançada nas hq’s. Claro que os (piores) resultados de sua obra no cinema não se devem exclusivamente a ele, embora tenha contribuído para desastres, como os roteiros elaborados para as sequências de Robocop, personagem que parecia ter saído das páginas de um gibi de Miller, mas que resultou num retumbante fiasco que comprometeu o ciborg protagonista e seu futuro nas telas. O resultado, fiasco, também está presente em filmes de sua personagem favorita (Elektra), de quinta categoria (clássico “não vi, não gostei”), e no que cometeram com o Demolidor. Justiça seja feita: nos dois casos, Miller é inocente, a química que funciona nos quadrinhos não foi transposta para as telas. Já em 300, a tentativa de compor nas telas o que se apresenta nos quadrinhos leva a uma conclusão fácil: nos quadrinhos trezentos é muito mais legal. Claro, descontando o absurdo do Xerxes tapado de piercings, o que foi piorado no cinema, com o ator que representa Xerxes parecendo uma drag queen careca, gigante com piercings. Cabe, para amenizar, reconhecer que os cenários compostos virtualmente são por vezes, ao longo do filme, interessantes.

A redenção de Miller no cinema se dá em Sin City, que virou Cult e que não é exatamente um filme, parecendo mais um gibi na tela, em preto e branco, com luzes e sombras, sem moral da história, com personagens sem nenhuma idoneidade, num cenário de submundo. Aqui o mérito é todo do sujeito: compôs a HQ, roteiro e ilustrações, e acompanhou Robert Rodriguez na direção do filme. Infelizmente, a proposta hq/filme torna a não funcionar em Spirit. Vai entender...






domingo, 18 de setembro de 2011

review de hq

Vou iniciar os artigos do blog com uma resenha sobre uma das maiores obras dos quadrinhos de super-heróis de todos os tempos: A queda de Murdock, de Frank Miller e David Mazzucchelli. Aproveitando que a panini lançou no ano passado uma bela edição dessa história, aproveitei para reler a saga que é considerada por muitos a melhor história do demolidor de todos os tempos.

capa da caprichada edição da panini no Brasil

Lembro de ter lido "a queda de Murdock" pela primeira vez na saudosa revista superaventuras marvel, no (hoje) famigerado formatinho. E, de cara, tomei um susto com a abordagem de Miller em relação ao demolidor. Claro, todos sabem que o autor havia feito um trabalho memorável em sua passagem anterior pelo título do homem sem medo, mas aqui ele se superou. Auxiliado pela fantástica arte de Mazzuchelli, o roteirista criou uma história de redenção absolutamente maravilhosa. Sim, mais do que tratar da derrota e decadência de um herói, Miller nos ofereceu um olhar sobre os motivos e circunstâncias que fazem um homem renascer das cinzas extremamente modificado e, ao mesmo tempo, com sua essência intacta. Sempre é bom lembrar que o título original da saga é "born again" (renascido).
Renascimento é exatamente o que acontece com Matt Murdock quando uma série de acontecimentos leva Wilson Fisk, o Rei do Crime e maior inimigo do demolidor, a descobrir que Matt e o vigilante mascarado são a mesma pessoa. Valendo-se de suas diversas conexões políticas e de seu domínio do submundo do crime, Fisk simplesmente destrói a vida de Murdock. Em poucos meses, o advogado perde sua licença profissional, sua casa, seus amigos e sua sanidade, escapando por pouco de ser morto como um indigente nas ruas de Nova York. Essa primeira parte do roteiro de Miller é muito bem trabalhada e o leitor acompanha, passo a passo, a decadência física e principalmente mental do personagem. Mais do que qualquer outra coisa, somos forçados a refletir sobre a inutilidade das ações do demolidor em face do poder do dinheiro, da influência política e da corrupção das instituições. Mergulhamos bem fundo no âmago de um homem preso em uma situação-limite, sem qualquer esperança de recuperação. No entanto, Frank Miller não se contenta em nos mostrar o quão frágeis são os atos de heroísmo perante a onipotência de uma grande organização criminosa, pois na segunda parte da saga ele investe deliberadamente na reconstrução do mito do herói mascarado, nos fazendo crer que, mais do que poderes, a atitude heróica tem como premissas básicas o desprendimento, a superação e, claro, uma enorme capacidade de renovar as crenças perdidas. Não é `a toa que, ao final da história, testemunhamos Matt Murdock retornar a suas raízes na Cozinha do Inferno, onde finalmente encontra sua redenção.


capa de um dos números da saga nos EUA

É claro que uma grande história em quadrinhos não é grande sem um excelente desenhista por trás e David Mazzucchelli é mesmo um grande artista. Hoje afastado das revistas de super-heróis, o desenhista vive, em "a queda de Murdock", um de seus grandes momentos. Sua arte ao mesmo tempo realista e minimalista é nunca menos do que formidável. Mazzucchelli cria sequências memoráveis, como a da morte do policial no hospital, quando um amigo de Matt é forçado, por telefone, a testemunhar um homicídio, ou aquela em que um policial corrupto atira em uma testemunha a queima-roupa. Simplesmente genial e uma aula de narrativa em quadrinhos. Pena que aqui no Brasil pouca coisa desse desenhista maravilhoso esteja sendo publicada.


video com registro de desenhos de Mazzucchelli

De qualquer modo, ler "a queda de Murdock", mesmo após mais de 20 anos de sua primeira publicação, é comprovar que uma grande hq não envelhece. Ao contrário, fazer uma releitura dessa obra foi extremamente gratificante. Obrigado por essa, Frank e David.