sexta-feira, 23 de setembro de 2011

20 anos amanhã: nevermind



No dia 24 de setembro de 1991, há exatos (quase) vinte anos chegava ao mercado um disco que marcou não somente o ano de 1991 mas a música do final do século XX. Nevermind foi lançado num ano no qual houve uma convergência de grandes discos e, mesmo assim, não foi eclipsado. Apesar de ter emergido recentemente da cena underground, o Nirvana conseguiu provocar um turbilhão no cenário musical daquele começo de anos noventa, considerando a perfeita conexão entre uma proposta barulhenta (com guitarras-moto-serra, letras misteriosas e simplicidade) com o pop, considerando a aceitação da banda no mainstream. O resultado foi a busca por bandas alternativas, indie, ou simplesmente "alternativas", o que expandiu os intresses do mercado fonográfico, pelo menos naquele período, para os sujos e malvados da cena underground.


O legal de tal mudança de foco, foi a possibilidade de um dos últimos, senão o último, momento de desafogo do rock, sufocado por heavy de boutique e pop sem-vergonha, despejado pela indústria fonográfica que então passava a lhe dar voz (e guitarras estridentes). Dada a repercussão de Nevermind, surge o efeito Nirvana: todos queriam ser alternativos, ou grunges (o rótulo do momento que se vivia); muitos vestiam camisa de flanela, e poucos fizeram algo que realmente valesse a pena. Se destaca do período, por exemplo, bandas com outras sonoridades, mas que estavam no lugar certo e na hora certa: Seattle. Pearl Jam, Screaming Trees, Soundgarden e Alice in Chains são alguns bons exemplares da safra Seattle. Esses valiam o investimento no vinil!


Na carruagem, ops, carroça, do grunge, ou algo que o valha, outros milhares foram para o brejo. Alguns tentaram se tornar alternativos e grunges, e produziram resultados vexatórios, como os Titãs e o Capital Inicial (!?), reciclados aqui no Brasil. No cenário internacional emergiram muitas bandas, com nomes "diferentes", como TAD e Mudhoney. O mercado farejava em todos os cantos o novo Nirvana, e vários pintaram como pretensos neonirvanas. Era o faça-você-mesmo anos noventa, e muitos fizeram, e muita porcaria apareceu por aí.


Então, o tempo passa. Olhando para vinte anos - e vinte quilos - atrás, se percebe o quanto foi legal o ano de noventa e um, merecedor de destaque aqui no blog, um ano que será tratado em outros textos mais adiante, com a análise de alguns discos de 91 para o resto de nossas vidas. Não se deu somente a exposição de "novas" possibilidades para quem tinha bom gosto e para o mercado fonográfico (convergência de interesses muito rara, hoje inexistente, mas que eventualmente acontecia. E não é mentira!). Bandas que já vinham de algum tempo na estrada produziram grandes discos naquele ano, como, por exemplo, o REM, falecido ontem.
Mas, mesmo assim, o destaque ficou para os três caras que vieram lá de muito longe, vestidos como mendigos para dar uma sacudida no velho barulho. Lembro de uma capa da Bizz (uma revista de música que existiu há milhões de anos em uma galáxia distante) com uma foto do Cobain e a manchete "guerrilheiros invadem o palácio". A reportagem "barulho" foi marcante, dava a nós, pobres rapazes latino-americanos, sem internet (ainda perguntariamos: o que é e para que serve?), uma dimensão do que estava acontecendo lááá e que nos afetaria os tímpanos de alguma forma.
De tudo, ficou o disco com o nenezão na capa e que marcou todo mundo que não era jeca (jecas ainda eram artigos raros por aqui) naquela época. Paradoxalmente, foi o começo do fim para o Nirvana e para Cobain: a pressão do estrelato em escala mundial e a superexposição levaram o cara ao colapso, e ao suicídio quase três anos depois.


O bebê de ontem, hoje, e, ainda, um dolar

8 comentários:

  1. Eu usava camisa de flanela antes do Nirvana virar modinha... hehe. Nunca fui fã da banda, pela qual tenho várias restrições, mas não deixo de reconhecer sua importância. De qualquer forma, o período de 91/92 foi uma das épocas mais legais do rock. Várias "tribos" conviviam juntas, e mesmo com as divergências, sempre havia alguma coisa boa para ouvir: REM, RHCP, Faith no More, G'n'R, Metallica, dentre tantas outras. Muitas dessas bandas vieram do final dos anos 80, mas faziam sucesso ao lado das bandas "de Seattle". Infelizmente, parece que era o prelúdio da amargura que seria a década de 90, principalmente no Brasil, quando descobrimos que todas nossas esperanças de um futuro melhor não seriam cumpridas. Era o neoliberalismo com toda sua força que passaria a dominar. Parece, afinal, que era isso que as letras tristes de Cobain anunciavam. E deu no que deu...

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  2. Po... po... que post!! Acho que vou chorar.... Cara, me lembro bem da Bizz (que eu comprei, obvio).. Mostrava pros amigos e dizia: Viu?? Falei que a gente iria dominar essa p...! Santa ingenuidade...hehe. Sei que nevermind ocupa meu top ten do coracao.. e o disco que eu levaria pra uma ilha deserta, a capa mais fantastica da historia, tem duas musicas que sao as minhas preferidas (Drain you e Lounge act) e ainda me lembro do sentimento de vazio com a morte do Kurt (sim, nao chamo de Cobain.. isso e pra quem nao tem intimidade...). Multiman nao e muito fa da banda? Hmm... teremos que reconsiderar sua participacao neste blog.. hehe.

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  3. Já vi que a proposta do blog é democrática!

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  4. Drain you é a melhor do disco, concordo.
    Bem, se tivemos o breve século XX do Hobsbawn, os anos noventa também foram breves: começaram e 91 e se encerraram em 94, com a morte de Cobain. Depois vieram alguns suspiros de barulho, mas...
    Multiman: o blog é democrático, mas a liberdade tem limites (rerere, estilo constituição de 67 e ai-5).
    Valeu gurizada.

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  5. Bom, levando a classificação do Hobsbawn o século XX terminou com o The Real Thing do FNM. Nirvana já é séc. XXI.

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  6. Nevermind e The Real Thing para mim foram dois discos que funcionaram como uma pá de cal naquela trasheira oitentista kitsch das bandas de heavy metal.
    E como disse um amigo meu certa vez "o que eu mais gostei no Nirvana é que eles destronaram de vez o Metallica".
    Deixou muitas saudades.
    Ótimo post.

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