domingo, 18 de setembro de 2011

review de hq

Vou iniciar os artigos do blog com uma resenha sobre uma das maiores obras dos quadrinhos de super-heróis de todos os tempos: A queda de Murdock, de Frank Miller e David Mazzucchelli. Aproveitando que a panini lançou no ano passado uma bela edição dessa história, aproveitei para reler a saga que é considerada por muitos a melhor história do demolidor de todos os tempos.

capa da caprichada edição da panini no Brasil

Lembro de ter lido "a queda de Murdock" pela primeira vez na saudosa revista superaventuras marvel, no (hoje) famigerado formatinho. E, de cara, tomei um susto com a abordagem de Miller em relação ao demolidor. Claro, todos sabem que o autor havia feito um trabalho memorável em sua passagem anterior pelo título do homem sem medo, mas aqui ele se superou. Auxiliado pela fantástica arte de Mazzuchelli, o roteirista criou uma história de redenção absolutamente maravilhosa. Sim, mais do que tratar da derrota e decadência de um herói, Miller nos ofereceu um olhar sobre os motivos e circunstâncias que fazem um homem renascer das cinzas extremamente modificado e, ao mesmo tempo, com sua essência intacta. Sempre é bom lembrar que o título original da saga é "born again" (renascido).
Renascimento é exatamente o que acontece com Matt Murdock quando uma série de acontecimentos leva Wilson Fisk, o Rei do Crime e maior inimigo do demolidor, a descobrir que Matt e o vigilante mascarado são a mesma pessoa. Valendo-se de suas diversas conexões políticas e de seu domínio do submundo do crime, Fisk simplesmente destrói a vida de Murdock. Em poucos meses, o advogado perde sua licença profissional, sua casa, seus amigos e sua sanidade, escapando por pouco de ser morto como um indigente nas ruas de Nova York. Essa primeira parte do roteiro de Miller é muito bem trabalhada e o leitor acompanha, passo a passo, a decadência física e principalmente mental do personagem. Mais do que qualquer outra coisa, somos forçados a refletir sobre a inutilidade das ações do demolidor em face do poder do dinheiro, da influência política e da corrupção das instituições. Mergulhamos bem fundo no âmago de um homem preso em uma situação-limite, sem qualquer esperança de recuperação. No entanto, Frank Miller não se contenta em nos mostrar o quão frágeis são os atos de heroísmo perante a onipotência de uma grande organização criminosa, pois na segunda parte da saga ele investe deliberadamente na reconstrução do mito do herói mascarado, nos fazendo crer que, mais do que poderes, a atitude heróica tem como premissas básicas o desprendimento, a superação e, claro, uma enorme capacidade de renovar as crenças perdidas. Não é `a toa que, ao final da história, testemunhamos Matt Murdock retornar a suas raízes na Cozinha do Inferno, onde finalmente encontra sua redenção.


capa de um dos números da saga nos EUA

É claro que uma grande história em quadrinhos não é grande sem um excelente desenhista por trás e David Mazzucchelli é mesmo um grande artista. Hoje afastado das revistas de super-heróis, o desenhista vive, em "a queda de Murdock", um de seus grandes momentos. Sua arte ao mesmo tempo realista e minimalista é nunca menos do que formidável. Mazzucchelli cria sequências memoráveis, como a da morte do policial no hospital, quando um amigo de Matt é forçado, por telefone, a testemunhar um homicídio, ou aquela em que um policial corrupto atira em uma testemunha a queima-roupa. Simplesmente genial e uma aula de narrativa em quadrinhos. Pena que aqui no Brasil pouca coisa desse desenhista maravilhoso esteja sendo publicada.


video com registro de desenhos de Mazzucchelli

De qualquer modo, ler "a queda de Murdock", mesmo após mais de 20 anos de sua primeira publicação, é comprovar que uma grande hq não envelhece. Ao contrário, fazer uma releitura dessa obra foi extremamente gratificante. Obrigado por essa, Frank e David.

3 comentários:

  1. Texto maravilhoso, cara! Espero que os meus consigam chegar neste nível. Abraço!

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  2. Pra mim esta é a melhor saga do Demolidor jamais criada.
    Embora o tema central não seja novo (a queda e renascimento do herói), a narrativa única de Miller e o traço incomparável de Mazzuchelli (Batman Ano Um) conseguiram criar uma obra icônica.
    Uma pena que Mille de uns tempos pra cá só fez histórias sofríveis, como Cavaleiro das Trevas 2, Big Guy e Rusty e All Star Batman, que não valem o papel em que foram impressas.
    Parabéns e até a próxima.

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  3. Valeu o post, Jacquea. Vou add teu blog nos nossos amigos. Abraço.

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