terça-feira, 20 de setembro de 2011

Frank Miller, hq's e cinema


Frank Miller, antes de elaborar “a queda” (cujo review foi apresentado acima), salvou o advogado cego do ostracismo na Marvel, evitou o cancelamento da HQ nos EUA, no final dos anos setenta, e, de quebra apresentou a personagem Elektra para o universo dos quadrinhos. Revitalizou a estética dos quadrinhos com argumentos que abrangem o submundo, com suas putas, criminosos e corrupção policial, lançados sobre cenários de sombras e violência. Eis o pano de fundo para arte de Frank Miller e daqueles que com ele colaboram e com os quais colaborou, seja com roteiros que refletem a perversidade mundana, seja com as sombras sobre as quais se desenvolvem roteiros.

Percebem-se elementos de linguagem cinematográfica transposta para os quadrinhos, com closes e sequências que sugerem movimento, luzes e sombras. Dentro de um contexto comercial e de cultura de massa, no qual personagens servem para vender bonecos, Miller estabeleceu um novo patamar de qualidade e de proposição artística, sem desencantar-se com a cultura pop. Desenha, para o argumento de Chris Claremont, uma série de HQ que dá protagonismo para Wolverine, hoje um ícone pop; salva o cavaleiro das trevas da jequice, ao apresentá-lo como um sujeito de meia-idade ranzinza e pessimista em um futuro nuclear repleto de adolescentes violentos; mata e ressuscita Elektra, em uma obra de arte em forma de HQ; conta a história de um samurai em Ronin e da luta dos 300 nas Termópilas; edita, desenha e roteiriza o mundo-cão de Sin City...

Entretanto, se trouxe Miller para os quadrinhos uma proposição cinematográfica, a relação de sua obra, de seus roteiros e de personagens com os quais trabalhou com o cinema não se dá com a mesma qualidade lançada nas hq’s. Claro que os (piores) resultados de sua obra no cinema não se devem exclusivamente a ele, embora tenha contribuído para desastres, como os roteiros elaborados para as sequências de Robocop, personagem que parecia ter saído das páginas de um gibi de Miller, mas que resultou num retumbante fiasco que comprometeu o ciborg protagonista e seu futuro nas telas. O resultado, fiasco, também está presente em filmes de sua personagem favorita (Elektra), de quinta categoria (clássico “não vi, não gostei”), e no que cometeram com o Demolidor. Justiça seja feita: nos dois casos, Miller é inocente, a química que funciona nos quadrinhos não foi transposta para as telas. Já em 300, a tentativa de compor nas telas o que se apresenta nos quadrinhos leva a uma conclusão fácil: nos quadrinhos trezentos é muito mais legal. Claro, descontando o absurdo do Xerxes tapado de piercings, o que foi piorado no cinema, com o ator que representa Xerxes parecendo uma drag queen careca, gigante com piercings. Cabe, para amenizar, reconhecer que os cenários compostos virtualmente são por vezes, ao longo do filme, interessantes.

A redenção de Miller no cinema se dá em Sin City, que virou Cult e que não é exatamente um filme, parecendo mais um gibi na tela, em preto e branco, com luzes e sombras, sem moral da história, com personagens sem nenhuma idoneidade, num cenário de submundo. Aqui o mérito é todo do sujeito: compôs a HQ, roteiro e ilustrações, e acompanhou Robert Rodriguez na direção do filme. Infelizmente, a proposta hq/filme torna a não funcionar em Spirit. Vai entender...






2 comentários:

  1. Cara, tenho várias restrições ao Miller, que vem desde o Robocop 2. Não vou nem mencionar o 3, que seria caso de pena capital.

    Não li o gibi do 300, porque considero o filme entre os 10 (talvez 5?) piores que já vi na vida. É uma fantasia homo-sado-masoquista do autoentitulado (como fica isso com a reforma ortográfica?) "diretor visionário". Tudo no filme é ruim, desde o cenário tosco, passando pelas frases de efeito, a canastrice de Gerard Butler, o Rei Xerxes fazendo massagem no ombro do Rei Leônidas, culminando com a morte do rei espartano ao melhor estilo Martírio de São Sebastião (que para quem não sabe, é o Santo Padroeiro dos homossexuais, tendo muitos devotos entre o Grupo Gay da Bahia). Isso sem entrar no mérito das questões políticas, com mensagens do tipo, foda-se a diplomacia e as instituições democráticas", vamo prá guerra duma vez!

    Já o Sin City é um grande filme, e talvez tenha se saído bem por causa da direção de Robert Rodriguez. O Spirt ficou muito ruim talvez porque o Miller não saiba que roteiro de quadrinhos e direção de cinema são duas coisas diferentes. Cada um no seu quadrado, como já dizia aquela sábia canção de nossa música brasileira.

    Já pelos filmes do Demolidor e da Elektra acho que não se pode culpar o cara, ele não teve nada a ver com aquilo e até quem nunca leu os quadrinhos percebe que só os nomes dos personagens permanecem nas adaptações para a telona.

    Teria um reparo somente a fazer no teu post: esqueceste de mencionar o talento de Miller como ilustrador na melhor história já feita sobre o Wolverine.

    ResponderExcluir
  2. Acho que existem dois Frank Millers, o da década de 80 e o atual.
    E algumas adaptações ficaram realmente tenebrosas, como Spirit, uma das hqs mais icônicas da história, que virou um filme pra lá de podre.
    Linkei vocês lá no RS, e um site sobre hqs e cultura pop que eu indico muito é o http://poltronamobius.wordpress.com/
    de Vinícius Falcão, meu amigo da blogosfera de longa data.
    Até mais.

    ResponderExcluir