sábado, 26 de novembro de 2011

review de hq. Batman: ano um

A panini comics está fazendo um belo trabalho com as republicações de clássicos dos quadrinhos Marvel/DC. Sempre com acabamento de luxo, extras em profusão e uma boa tradução, a editora vem dando uma nova oportunidade para os leitores iniciantes conhecerem obras que marcaram a história das hq's.  É o que acontece mais uma vez aqui, com o relançamento da obra-prima de Frank Miller e David Mazzucchelli, "Batman: ano um".

edição da Panini lançada recentemente
Retomando a parceria que já havia rendido a seminal "Queda de Murdock", em 1986, Miller e Mazzucchelli foram contratados pela DC para recontar a origem do homem-morcego após o evento "crise nas infinitas terras". Para quem não lembra, a "crise" (a primeira de muitas que a DC promoveria desde então) foi uma espécie de "reboot" do universo DC, no qual antigos personagens ganharam novas origens e tratamento mais contemporâneo. Depois de entregar o Super-Homem para John Byrne e a Mulher-Maravilha para George Pérez (que também fizeram trabalhos excelentes), a major americana convidou Miller para uma pequena repaginada na origem do homem-morcego. O convite veio logo após o impacto da publicação de outra grande obra de Miller, "O cavaleiro das trevas". Esta, em conjunto com "A piada mortal", de Alan Moore, e "Ano um", forma a tríade das melhores histórias do Batman de todos os tempos, leitura obrigatória para todos os fãs do morcegão.
Diferente do que aconteceu em "Cavaleiro dos trevas", onde ficou com o roteiro e a arte, aqui Miller se encarregou apenas da história, deixando os desenhos para o mestre Mazzucchelli. E, assim como tinha acontecido em "A queda de Murdock", os dois produziram uma obra marcante do início ao fim. 

a gênese do herói
A trama, a princípio, é uma típica história de origem, mostrando os primeiros dias de Bruce Wayne em sua cruzada contra o crime. Está quase tudo lá: a motivação em razão da morte de seus pais, a preparação física e mental, o auxílio precioso de Alfred, a participação de Harvey Dent (o futuro Duas-Caras) e o início da amizade com o então tenente James Gordon. No entanto é a forma de contar a história que, como sempre, faz toda a diferença. Não satisfeito em mostrar Gotham como uma cidade podre, comandada por políticos corruptos e patrulhada por policiais idem, Miller dá um aprofundamento psicológico jamais visto aos já conhecidos personagens da DC. Bruce Wayne surge como alguém preparado e ciente de sua missão como defensor da cidade, mas ao mesmo tempo comete erros e é inseguro quanto ao melhor método a utilizar no combate ao crime. A brilhante sequência em que Batman evita um assalto mas quase mata um dos assaltantes é emblemática e nos dá a perfeita noção da gênese do herói. Gordon, por sua vez, aparece como o personagem mais interessante da trama, um policial veterano que representa o último vestígio de honestidade em uma cidade tomada pela corrupção. Pressionado pelo comissário e pelos colegas, em nenhum momento ele dá mostras de que seu caráter será modificado, mas simultaneamente se envolve em um caso amoroso fora do casamento, falha várias vezes e ganha sua redenção ao final da história.

bela sequência criada por Mazzucchelli
Artista ímpar em seu ramo, Mazzuccheli marcou época mais uma vez com "Batman: ano um". Sua arte econômica e expressionista casa maravilhosamente bem com os diálogos precisos de Miller. Valendo-se de enquadramentos por vezes inusitados, o desenhista contribui, e muito, para a ambientação perfeita de Gotham City. Nesta hq a cidade revela-se como um verdadeiro personagem, praticamente interagindo com os protagonistas da trama, em uma simbiose raras vezes encontrada nos quadrinhos de super-heróis. Não é `a toa que Mazzucchelli tem sido premiadíssimo por sua obra autoral recente, algo que representa um tardio reconhecimento ao trabalho desse grande desenhista.

                                            cena de "Batman Begins inspirada em "Ano um"

A edição da panini está lindíssima, com prefácio do editor Denny O'Neill e esboços de Mazzucchelli. Para melhorá-la, talvez a DC pudesse ter convidado Christopher Nolan para escrever um pequeno texto também, tendo em vista a clara inspiração de "Ano um" para o roteiro de "Batman Begins". Como os fãs bem sabem, sequências inteiras do filme de 2005 dirigido por Nolan foram tiradas diretamente da hq, como o ataque dos morcegos, a chegada de Bruce a Gotham e até mesmo a carta do Coringa no final, dando um gostinho do que aconteceria em "Batman: o cavaleiro das trevas". Mais recentemente, a Warner lançou uma elogiada animação baseada na hq. De qualquer forma, é sempre recomendável a leitura do texto original, que comprova o talento de Miller como um dos grandes nomes dos quadrinhos dos anos 80 e até nos faz esquecer suas recentes e polêmicas declarações sobre o movimento de ocupação de Wall Street.

capa do DVD da animação que adapta a hq

2 comentários:

  1. Uma da obras de arte dos quadrinhos. Um trabalho de primeira, merecia o post.

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  2. Esse é clássico mesmo. Acho muito melhor que o Cavaleiro das Trevas.

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