terça-feira, 8 de novembro de 2011

It's been a long, long time...



Há exatos 40 anos atrás, a humanidade recebia um verdadeiro presente dos deuses. Um album que representaria o rock and roll no seu auge. Claro que estou falando do famoso assim chamado Led Zeppelin IV, também conhecido como "álbum dos símbolos", ou mesmo "Zoso".

Nesses atuais tempos bicudos, em que uma cantora de poperô de quinta, que faria corar de vergonha aquelas cantoras de Italo House (pela péssima música, friso, não pela rebeldia de boutique milimetricamente coreografada), é considerada uma "artista talentosa e promissora" por chocar o mundo (essas coisas AINDA chocam alguém) fazendo coisas que Nossa Senhora Imáculavel Madonna (o mais sucedido embuste da indústria fonográfica) já fazia desde a fase Material Girl, é difícil imaginar como uma banda possa ter lançado um álbum sem qualquer coisa escrita na capa possa ter feito sucesso.

Mais difícil ainda, fica imaginar que este álbum seria o segundo mais vendido de todos os tempos (perdendo somente para uma coletânea de uma famosa banda americana one-hit-wonder). E, em tempos pós-MTV, quando a estética e a atitude passou a ser tudo, e a música apenas um elemento coadjuvante na indústria fonográfica, seria insano dizer que alguma banda pudesse obter sucesso sem apelar para o jabaculelê. Mais estranho ainda seria imaginar que esta banda sequer lançava singles para serem tocados nas rádios. Mesmo assim, essa banda, ao mesmo tempo que repudiada pela crítica intelectualoide, era tão avessa ao circuito comercial, conseguiu lançar a música que seria a mais tocada até hoje nas rádios americanas.

O Led era realmente um paradoxo. Jimmy Page e cia. não davam a mínima para a imprensa musical, para as rádios e à televisão. Mesmo assim, conseguiam lotar shows com hordas de fãs enlouquecidos. O legado do quarteto entrou para a história, e nem o movimento iniciado com a boy band de Malcolm McLaren conseguiu apagar a imagem sensual de Robert Plant escorado sobre o soturno Pagey fazendo um solo de guitarra. Taí Axl Rose e Slash, que não me deixam mentir.

Embora avesso à exposição da mídia, o Led criou uma iconografia peculiar. A opção por lançar um álbum sem nome e sem qualquer referência à banda na capa foi idealizada por Page, que à época não aguentava mais a crítica músical, que só baixava o porrete na banda.

Jimmy fez questão de expor claramente seu interesse pelo ocultismo, enchendo a arte gráfica de referências e simbologias pagãs. De um lado do encarte, temos a letra de Stairway to Heaven e uma gravura com a suposta imagem do Mago John Dee.






Do outro lado, os famosos quatro símbolos, cada um representando um membro da banda.





Jonesy e Bonzo escolheram os seus de um livro de magia apresentado por Pagey. O signo de Jonesy representa um homem confiante da sua função, algo digno do músico mais experiente do quarteto. O de Bonzo representa um homem de família. Plant desenhou o símbolo da peninha dentro do círculo, fazendo alusão à cultura indígena americana, assim como à pena do filósofo e mais alguma alegoria egípcia.

O ZoSo de Pagey continua até hoje um mistério. Alguns falam que representaria Cérbero, o cão de três cabeças que guarda o Inferno. Seria esse o tal Black Dog?. Outros dizem que o oSo seria o 666 (e por sua vez, a Besta do Apocalipse, Aleister Crowley), enquanto o Z seria uma forma estilizada do signo de Capricórnio. De qualquer forma, até hoje Pagey guarda o misterioso símbolo como se fosse o Terceiro Segredo de Fátima.




Igual mistério é a autoria do desenho do Eremita. Jimmy Page disse que era uma ilustração criada por um misterioso amigo seu, do qual ninguém nunca ouviu falar. Especula-se que tenha sido desenhado pelo próprio Pagey, que chegou a frequentar a Escola de Artes. De qualquer forma, sabe-se que a imagem representa a carta homônima do Tarot e tem ligação direta com as práticas telêmicas.



Há ainda quem diga que, olhando a capa junto a um espelho, enxerga-se um cão de duas cabeças. Outra alusão ao Cérbero, de três cabeças? Tenho minhas dúvidas. Lembro que até um disco do pagodeiro Belo tinha uma imagem de demônio desse tipo. Se bem que, se este já tinha envolvimento com traficantes do morro, não seria estranho esperar que também realizasse um trato com o cramunhão para ter sucesso. Somente sucesso, repise-se. Faltou pedir talento para o coisa-ruim. Mas, como já havia mencionado no início do post, hoje em dia o fato de a música ser boa ou ruim é o que menos importa.

É certo que toda a iconografia pagã do Led até hoje arrepia pastores do Bible Belt. Há diversas publicações denunciando as chamadas mensagens subliminares satânicas contidas em Stairway To Heaven quando se roda o disco ao contrário. Desnecessário dizer que todas estas publicações são do mesmo nível daquelas que falam a mesma coisa sobre o Harry Potter. De qualquer forma, acho que a direita cristã tem certa razão em chamar o Led de satanista. Do mesmo jeito que teria razão se acusasse os membros deste blog de comunistas.










3 comentários:

  1. Bah, que belo post para um disco que mudou minha vida também. O "disco do velhinho" é um dos melhores do Led, ou simplesmente o melhor. Os seis primeiros discos dos caras são de primeira qualidade.

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  2. Eu gosto de todos, mas os seis primeiros são os melhores mesmo. Embora o disco do velhinho seja batido, representa o auge da banda. Material de primeira linha!

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  3. Ótimo post, parabéns.
    Acho que este disco é um destes que entrou pra História da música de forma inquestionável.
    Lembro que só passei a gostar de Led mesmo após ouvir este disco e o Phisical Graffity, que é outra paulada na orelha.
    Nestes tempos bizarros em que basta uma banda ter um certo número de acessos no Youtube para ser considerada "boa", a trajetória dos caras se torna ainda mais impressionante.
    Abraço.

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