quarta-feira, 9 de novembro de 2011

...since i've rock and rolled

Entretanto, como dizia no início do post anterior, a música era o que realmente importava. E o conteúdo musical deste álbum é aquele que que há de melhor em termos de rock and roll até hoje. Se Eric Hobsbawn fosse crítico músical, certamente diria que a década de setenta inicia lá por 1968, marcada pela geração flower-power e o Woodstock, e termina por volta de 1976 ou 1978, já moribunda com o advento do punk e da disco. Assim, o ápice da década de 1970, e, por conseguinte, de todo o rock and roll, encontra sua melhor representação neste verdadeiro clássico.

Não é para menos. O quarto album é o Led no auge de sua maturidade e popularidade. Após o decepcionante lançamento de Led Zeppelin III, com sua irregular mistura de porradas do porte de Immigrant Song com números acústicos puxando para o folk, pairavam dúvidas sobre as possibilidades criativas da banda e que direções tomaria. Os quatro cavaleiros britânicos do apocalipse se infurnaram na Hadley Grange para gravar no Rolling Stones Mobile Studio. Sim, aquele famoso Rolling Truck Stones que quase pegou fogo numa famosa sessão em Montreux, às margens do Lago Genebra.

As sessões contaram com a ilustre participação de Ian Stewart, que havia tocado piano com os Stones. Daí gravaram uma versão de Oh My Head, de Richie Valens, injustamente rebatizada como Boogie With Stu, sem dar os devidos créditos. Anos depois, a banda perderia um processo movido pela mãe do falecido cantor de La Bamba.




De qualquer forma, esta canção só seria lançada no Physical Graffiti. O mesmo aconteceu com a magnífica Down By The Seaside. A princípio, a banda pensava em lançar o álbum sem nome no formato duplo, mas Peter Grant foi cauteloso após o aparente fracasso comercial de Led III. De qualquer forma, a escolha foi acertada. Um vinil perfeito, com quatro músicas de cada lado.

O lado A começa abre com chave de ouro, com os vocais de Plant em acapella (inspirada em Oh Well, do Fleetwood Mac), falando sobre uma mulher de pernas longas e sem alma, alternados com o matador riff idealizado por Jonesy após ouvir Tom Cat, de Muddy Waters. Depois de ouvir Black Dog pela primeira vez, minha vida nunca mais foi a mesma. Sabia que aquilo era uma viagem sem volta para o mundo do rock and roll.











O disco que representa o auge do rock and roll, na sua forma mais brutal e, ao mesmo tempo elegante, não poderia deixar de ter uma música com o nome de... Rock And Roll. Nada mais, nada menos que o velho twelve-bar-blues de três acordes, acompanhado pela bateria peso-chumbo de Bonzo e a guitarra furiosa de Pagey. Merece registro a participação de Stu e seu piano forte. Uma verdadeira homenagem aos mestres Little Richard e Chuck Berry, sem os quais nada disso seria possível. Quando ouvi Rock And Roll pela primeira vez, tive realmente certeza que minha vida nunca mais seria a mesma.


Depois de dois petardos sonoros, segue um número acústico. A bela The Battle Of Evermore e seus maravilhosos bandolins mostram o lado mais eclético da banda, com suas influências de música celta. A letra de Plant mostra toda sua admiração pela obra do carola J.R.R. Tolkien, ironicamente um ídolo dos hippies. Como faria um bardo na Idade Média, o dueto com Sandy Denny conta a epopeia de O Senhor dos Aneis, fazendo menção aos Cavaleiros Negros, a rainha da luz Eowyin, o príncipe da paz Aragorn, e o senhor das trevas Sauron. Mostra uma musicalidade e elegância que diferenciaria o Led para sempre das outras bandas de hard rock e protometal da época. À essa altura, já ficaria muito difícil para a crítica especializada baixar o cassete.

Segue então o maior sucesso comercial da banda. A música que seria até hoje a mais tocada nas rádios americanas. Stairway To Heaven faz uma síntese das facetas acúsica/elétrica da banda. Uma balada que culmina numa apoteose de solos de guitarra e riffs heavy metal. Isso sem mencionar a bela letra de Plant e suas referências pagãs. Fala de uma senhora rica e arrogante, que acredita que pode comprar tudo, inclusive uma escada para o céu. Fala sobre um flautista, que ao final levará à razão. Sobre a promessa de um novo dia à todos aqueles que aguardaram por muito tempo. Fala sobre o triunfo da natureza, quando as florestas rirão por último. Quase um poema libertário. Não é a toa que até hoje arrepia alguns conservadores da "maioria moral".

O lado B só confirma toda a competência da banda. Misty Mountain Hop volta ao tema de O Senhor dos Aneis. Só, que desta vez, sob a ótica de hippies maconheiros perseguidos pela polícia, que bem preferiam estar em montanhas nebulosas, aonde voam os espíritos. Destaque para o riff marcante e os teclados de Jonesy.

A belíssima Going to California é uma canção de amor sobre uma garota hippie da California, com amor nos olhos e flores no cabelo, que toca violão, chora e canta. O estranho verso "The mountains and the canyons started to trumble and shake" é uma referência direta à um terremoto ocorrido à época das gravações.




Four Sticks mostra toda a fúria de Bonzo, usando quatro baquetas na gravação.

O disco fecha em grande estilo com a pesadíssima When The Levee Breaks. A letra cantada por Plant é mais um velho blues não creditado. Mas o som da batera de Bonzo ecoando por um grande salão é algo que nunca tinha sido feito até então. Até hoje é um efeito buscado pelos técnicos de estúdio. Ainda há a sacada genial de gravar a fita e reproduzir em slow motion, acentuando o caráter arrastado e pesado da faixa.

O álbum dos quatro símbolos é um clássico absoluto. Uma verdadeira obra prima. Daquelas que não parece ficar datada com o passar dos anos. Obrigado, Mr. Page, Mr. Plant, Mr. Jones e Mr. Bonhan. Sem vocês, minha vida certamente não seria a mesma. E acredito que o mesmo ainda acontecerá com as gerações de roqueiros que virão.

Um comentário:

  1. Sem dúvida, um dos discos mais marcantes da minha vida também. O Led era demais. Page, Pant, Bonzo e Jones… saudades da época em que os gigantes realmente caminhavam sobre a Terra.

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