Tenho a leve impressão de que a maioria dos nerds que curtem quadrinhos não é lá muito chegada em carnaval. Não que seja uma questão de ideologia ou falta de apreço pela cultura nacional. É só uma questão de gosto pessoal. O problema é que a empulhação dos "mass media" é tão eficiente que acaba por vezes transformando em antipático o sujeito que não vê diferença entre as baterias da Mangueira e da Beija-flor e acha todos os sambas-enredo absolutamente parecidos e redundantes. Não se trata disso.
Pensando no assunto, resolvi prestar este pequeno serviço de utilidade pública e indicar algumas hq´s que são uma forma bastante eficaz de fugir totalmente daquele clima de "alegria" tão "contagiante" que acomete o Brasil varonil durante esses quatro dias de festividades. Claro que não é tarefa fácil ignorar os batuques, os desfiles, o axé e tudo mais que vem nesse pacote carnavalesco anual. Portanto o nerd que não tem mesmo qualquer vocação pra folião e deseja escapar de verdade do vírus do "lá vou eu, lá vou eu..." que impera no mês de fevereiro deve ser perseverante e munir-se com aquilo que de mais denso e criativo a cultura pop produziu nos últimos anos. Podem ser alguns bons filmes, é claro, mas sempre haverá o risco de ter que assisti-los desacompanhado, pois os amigos, namorada e familiares do nerd muito provavelmente irão preferir dar uma curtida nos desfiles, ir a alguma baile ou até mesmo viajar. Assim, nada melhor do que uma boa leitura. Um livro é sempre bem-vindo, mas também não precisamos exagerar pois, a não ser que o nerd queira parecer mais antipático ainda, é pouco recomendável ser visto em pleno carnaval com um exemplar de "Guerra e Paz" a tiracolo. Por isso, os bons e velhos gibis são os companheiros ideais para este feriadão prolongado e deveras quente com o qual somos contemplados por essas paragens. Eis a lista:
1 - "O grito do povo" (Conrad): Que carnaval que nada! Festa popular legítima foi a comuna de Paris. Nesta graphic novel sensacional, o não menos sensacional Jacques Tardi conta algumas histórias fictícias que se entrelaçam tendo com pano de fundo um dos períodos mais conturbados da história das lutas sociais na Europa. São dois volumes lindões que vão te fazer esquecer qualquer carro alegórico bizarro que tenha sido mostrado na Sapucaí.
2 - "Sábado dos meus amores" (Conrad): Marcello Quintanilha é um gênio dos quadrinhos e nos mostra que o olhar aguçado sobre o cotidiano pode render ótimas hq´s. Aqui são reunidas algumas crônicas em forma de hq´s, nas quais o autor retrata de com toda a sensibilidade a realidade de brasileiros que vão de um fanático torcedor de futebol a um circo de beira de estrada. A beleza das histórias bate qualquer letra do Chiclete com Banana.
3 - "Camelot 3000" (Panini): Grande hq dos ingleses Mike W. Barr e Brian Bolland, escrita no auge da invasão britânica aos EUA, em meados dos anos 80. Barr pegou a lenda do Rei Arthur e transformou em uma original ficção científica. A edição da Panini é luxuosa, daquelas de colocar na estante ao lado daquele Garcia Márquez que você tanto admira. Mais agradável do que assistir ao bloco do Gilberto Gil na Band.
4 - "Retalhos" (Cia das letras): Graphic novel premiada de Craig Thompson, uma cria dos estúdios de Art Spiegelman. Agora virou moda fazer hq autobiográfica, mas nenhuma superou a beleza desta. Thompson narra um pouco da sua vida no interior dos EUA, sob o jugo de uma família protetora e extremamente religiosa. Emocionante do início ao fim, nos faz chorar mais do que quando uma escola de samba é desclassificada por não desfilar no tempo regulamentar.
5 - "Che" (Conrad). Sou muito fã de Alberto e Enrique Breccia. Pai (já falecido) e filho argentinos desenharam essa biografia do Che na década de 60 e somente neste século ela foi publicada, em razão da censura sofrida à época. A edição brasileira é linda e traz um prefácio especialíssimo de Ernesto Sábato. Esta é pro nerd de esquerda provocar aquele parente meio reaça, emendando um discurso sobre como o carnaval brasuca virou mesmo uma grande festa do capital monopolista da grande mídia.
4 - "Retalhos" (Cia das letras): Graphic novel premiada de Craig Thompson, uma cria dos estúdios de Art Spiegelman. Agora virou moda fazer hq autobiográfica, mas nenhuma superou a beleza desta. Thompson narra um pouco da sua vida no interior dos EUA, sob o jugo de uma família protetora e extremamente religiosa. Emocionante do início ao fim, nos faz chorar mais do que quando uma escola de samba é desclassificada por não desfilar no tempo regulamentar.
5 - "Che" (Conrad). Sou muito fã de Alberto e Enrique Breccia. Pai (já falecido) e filho argentinos desenharam essa biografia do Che na década de 60 e somente neste século ela foi publicada, em razão da censura sofrida à época. A edição brasileira é linda e traz um prefácio especialíssimo de Ernesto Sábato. Esta é pro nerd de esquerda provocar aquele parente meio reaça, emendando um discurso sobre como o carnaval brasuca virou mesmo uma grande festa do capital monopolista da grande mídia.
Bela seleção de HQs.
ResponderExcluirTalvez eu seja o único que considere Camelot 3000 superestimado. Sei lá, acho a trama de ressuscitar toda a Tavola Redonda muito enredo de desenho dos Superamigos. Preferia, por exemplo, que Camelot fosse um reino alienígena, à moda do Império de Trantor, do Bom Doutor Asimov (que George Lucas copiaria anos mais tarde em seu Star Wars). Mas é só minha opinião.
Me interessei por esse gibi do Che. É verdade que o autor foi assassinado pela ditadura argentina? Fiquei bastante chocado em ler essa noticia, mesmo conhecendo os crimes dos hermanos.
Já que o tema é Carnaval e, como ando numa fase Tintim, li esses dias "Tintim e os Pícaros"' uma das ultimas aventuras do nosso amigo de blusão azul e topete (hoje bem mais rarefeito). A trama se passa
ResponderExcluirNuma republiqueta da América Central, governada pelo ditador General Tapioca, um "Mussolini de Carnaval", segundo Capitão Haddock, em mais um de seus xingamentos criativos. Tintim e seus amigos fã terceira idade unem esforços junto a um grupo de guerrilheiros numa Revolución para derrubar o regime em pleno Carnaval, aproveitando-se da bebedeira habitual dos guardas nesta época do ano. É uma historinha simples e despretensiosa, mas com boas alfinetadas políticas que nunca entrariam em quadrinhos americanos. Parece que, ao final da vida, Hergé conseguiu se livrar da (injusta) fama de reaça
ResponderExcluirParece que o filme do Spielberg reacendeu mesmo o interesse pelo Tintim.
ResponderExcluirAdoro Camelot 3000, inclusive por causa dos desenhos do Brian Bolland. E a edicao da panini ta valendo a pena.
Cara, o Oesterheld, que escreveu essa hq do Che, desapareceu em 1977. Uma barbaridade mesmo! A hq e muito boa. Eu tenho a original argentina, mas a da Conrad ta muito mais caprichada, com o prefacio do Sábato. Recomendo
Bom, a qualidade dos desenhos da Camelot 3000 é indiscutível mesmo. A história é que não acho lá o bicho.
ResponderExcluirVou procurar esse gibi do Che.
Para fugir do Carnevale basta casar. rerererere
ResponderExcluir