terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Justiça seja feita ao Oscar

A lista de indicados ao Oscar foi, de modo geral, uma decepção. Nem tanto pela qualidade dos filmes indicados, mas sim porque constatamos definitivamente a mediocridade do cinema americano atual. É certo que existem exceções, mas no geral os talentos estão bastante escassos, tanto que a Academia não conseguiu nem mesmo preencher a lista de dez finalistas, como vinha fazendo nos anos anteriores. Onde está aquele cinema vigoroso, atrevido e até mesmo divertido que nos acostumamos a acompanhar em décadas anteriores? Aonde foram parar aqueles grandes cineastas como Coppola, De Palma e Friedkin? Cada vez mais parece que a lógica dos grandes estúdios é regida muito mais pelo poder do marketing do que pela vontade legítima de fazer filmes de qualidade.
De qualquer forma, dando uma olhada na lista de indicados, dá pra tirar algumas personalidades e filmes que merecem estar ali, não que isso vá fazer qualquer diferença pra carreira deles, mas seria legal vê-los premiados. Por exemplo: Gary Oldman. Que ator fantástico! Se não derem o prêmio pra ele agora, não sei mais quando vão dar. O cara já fez tanta coisa marcante: "Sid e Nancy", "O profissional", "Drácula""Minha amada imortal", "O cavaleiro das trevas". É daqueles atores ingleses que dão dignidade a qualquer película. Me surpreende que seja sua primeira indicação.
Outro que, sem dúvida, merece a indicação é o bom e velho Woody Allen. "Meia-noite em Paris" é o melhor filme que vi no ano passado, com um roteiro primoroso e os diálogos sempre excelentes que são a marca do bom cinema que Allen vem praticando há quarenta anos. Trata-se de um dos cinco melhores cineastas em atividade e a indicação ao Oscar é nada menos do que obrigatória. Por mim, o prêmio seria dele.
George Clooney é um dos grandes astros dos últimos vinte anos e tem se destacado com filmes de conteúdo político e francamente engajados. Também merece a indicação. Tem alternado filmes comerciais e de boa qualidade, como a série "Onze homens…", com filmes voltados a um público mais seletivo. Gostei de quase tudo que ele fez nos últimos anos.
O mesmo raciocício aplico `a indicação de Brad Pitt. Parece que ele é mesmo o favorito, concorrendo por "Moneyball", (mais) um filme sobre baseball. Não acho que ele seja grande ator, mas não dá pra negar que tem feito trabalhos memoráveis com grandes diretores como Tarantino, Terry Gillian e David Fincher. Além do mais, é casado com a deusa Angelina Jolie e superou há muito tempo o estigma de galã sem talento. Enfim, é um grande astro, reunindo beleza, carisma e engajamento político.
Muita gente torce o nariz para mais uma indicação de Meryl Streep, agora por "A dama de ferro", interpretando a famigerada Margaret Thatcher. Que ela é queridinha da Academia, não dá pra negar. Mas duvido que consigamos apontar, na atualidade, alguma atriz americana mais talentosa e versátil do que ela. Streep é a grande dama do cinema americano e isso não se discute. Portanto, nada mais justo que figure entre as indicadas a melhor atriz.
Por fim, no quesito animação a Academia pisou feio na bola, "Kung Fu Panda 2" indicado e "Tintim" fora? Inacrediável. Porém devemos ficar tranquilos, pois deve ganhar mesmo "Rango", que é, de longe, a melhor animação de 2011. A animação é divertidíssima e muito bem filmada, resultando em uma grande homenagem aos faroestes clássicos.
Por tudo isso, apesar de ficarmos injuriados com algumas posturas da Academia e com a quantidade de cineastas e atores que têm sido preteridos nos últimos anos, como Christopher Nolan, David Fincher, Michael Fassbender e Tarantino, dá pra curtir a (cafoníssma) festa do Oscar torcendo por alguns nomes que têm feito o cinema americano conemporâneo um pouquinho melhor. Pena que temos que aguentar os chatíssimos números musicais...

2 comentários:

  1. Desse trio aí, eu torço pelo Gary Oldman. Não vi o Espião que Sabia Demais, mas acho que o filme deve ser interessante. Claro que, depois de papeis mais estrambóticos, que vão de Sid Vicious a Drácula, Gary Oldman acabou ficando marcado em minha mente como o Comissário Gordon. Todos os filmes posteriores, com atuação mais comedida, provavelmente fruto de uma evolução de quem já não precisa provar nada a ninguém, sempre vejo a cara do Comissário no ator inglês.

    George Clooney é um grande ator e diretor. Pena que esse Descendentes seja fraco demais. Devem ter gasto metade do orçamento em jabá para a Academia, porque, fora essa hipótese, não consigo imaginar outra plausível.

    Descendentes é um corno-movie, curioso sub-gênero cinematográfico, tipicamente norte-americano, que não encontra paralelo no cinema de outras culturas. Seu maior expoente, até hoje, ainda é aquele horroroso Proposta Indecente, do igualmente horroroso Adrian Line. Mas há outros exemplos como aquela porcaria "Crossed Hearts", estrelado por Harrison Ford na fase fundo do poço, na segunda metade da década de 1990.

    Já a Glenn Close, eu acho over rated. Com essa Drama de Ferro, para mim, Hollywood quer fazer com os neoliberais o mesmo que fizeram com os nazistas nos últimos anos. Será que, assim como conseguiram fazer um Hitler com lado humano em A Queda, conseguirão convencer que os neoliberais também amam? I don't think so.

    Por fim, Kung Fu Panda II foi o momento vergonha alheia do Oscar. Simplesmente não dá para entender essa indicação, ainda mais colocando de fora uma animação de qualidade como o Tintin, que inclusive ganhara o Globo de Ouro. Esse deve ser o fundo do poço para a Academia. Até Shakespeare Apaixonado fora uma indicação mais digna.

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  2. Meu voto vai para Gary Oldman, de Beethoven a Sid Vicious, de Drácula a Comissãrio Gordon: merece o prêmio pelo conjunto da obra. George Clooney já fez coisas melhores, como boa noite boa sorte. Filme para a Tatcher em época de crise econômica provocada pela sanha neoliberal é no mínimo sacanagem. Shakespeare Apaixonado é um filme tri bom. Fundo do poço é guerra ao terror! Uma bosta americano-miliquista.

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