terça-feira, 31 de janeiro de 2012
segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
domingo, 29 de janeiro de 2012
Review: Os homens que não amavam as mulheres
O filme já me ganhou já nos créditos, com a música do Led Zeppelin numa espécie de clip do Marlyn Manson. Já tinha postado o clip anteriormente aqui no blog. Mas, ao contrário do tom cético que coloquei naquele post, tive de me render à versão. Para mim, a letra sobre hordas de vikings saqueando e estuprando fez todo o sentido com o clima do filme, que, de certa forma, também trata de bárbaros nórdicos.
Bom... não vou adiantar muita coisa sobre o filme, até porque acho que vale a pena cada um conferir por si. A garota faca-na-bota que dá o título ao filme em inglês é a atração principal. Mas Daniel Kraig manda muito bem, e consegue desvincular a figura do James Bond psicopata por ele encarnado no cinema.
A trama é complexa e o filme bastante longo. Não vi o original sueco, mas ouvi dizer que esse americano ficou até melhor. Imagino o quanto não deve ter nos livros, já que se trata de uma trilogia. Mesmo assim, vale dizer que o filme termina em si mesmo, não deixando ganchos propositais para os próximos, o que já considero um mérito em si.
Outro mérito - este digno de menção honrosa - é que o filme se passa na Suécia. Não se passa no Alaska, nem na Nova Inglaterra, nem em nenhum lugar da América. Ponto para David Fincher, que há horas não fazia um filme decente: os últimos que me lembro são o Benjamin Button e o Zodíaco, dois belos abacaxis.
Vou dar uma conferida no livro e depois dou minha opinião.
sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
A Igreja da Cópia
O templo dos downloads sagrados
quarta-feira, 25 de janeiro de 2012
Os flagelados do Judiciário
Acabo de ler e ver reportagens sobre dois assuntos, que não sei se são um só.
Uma, no Estadão, sobre as remunerações de até centenas de milhares de reais percebidas por juizes e desembargadores em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Outra, na Folha e no Viomundo, sobre a violência e o desrespeito aos pobres moradores expulsos do Pinheirinho.
Para quem, ainda criança, viu atearem fogo e lançarem cães contra os favelados da Praia do Pinto e do Morro da Catacumba, há 40 anos, é como descrer no progresso humano.
Ontem mesmo o Estadão publicava que os nobres desembargadores consideravam uma violência ser exposto ao público o fato de que alguns deles – nem se discute se com origem legal ou não – terem movimentações imensas em suas contas bancárias, embora nome algum tenha sido revelado, porque as investigações são feitas dentro da prudência da lei, que deve preservar a todos.
E quem preserva essa pobre gente e seus filhos? Crianças, que os senhores juízes, quando são seus filhos, cuidam com tanto empenho, com tantas babás, boas creches, escolas de qualidade e todos os mimos e carícias?
Suas Excelências, decerto, não são monstros e não deixam de saber que – não importa que ganhem muito bem por seu trabalho – do fundamento jurídico da igualdade humana e dos princípios constituicionais da proteção aos direitos humanos e, sobretudo, das crianças. Inclusive e, especialmente, das pobres, que não têm senão o Estado para tutelar seus direitos mais comezinhos.
O que ocorreu em Pinheirinho não se passou no interior de Rondônia, nas selvas do Pará, ou em outro lugar remoto do qual se pudesse dizer estar além das fronteiras da compreensão moderna da aplicação da lei como instrumento de proteção a direitos – e os sociais sempre se sobrepõem, do ponto de vista do Estado, aos individuais, embora não possam anula-los – e não a privilégios.
A Suprema Corte brasileira, que considerou relevante proteger os direitos do Sr. Daniel Dantas, para que este não fosse exposto com algemas nas mãos, acha correto disparar balas de borracha – nem falo das de verdade, que se disparou também – contra mulheres e crianças? A Justiça brasileira acha correto contribuir para o risco de promover outra Eldorado dos Carajás ali pertinho da maior metrópole do hemisfério Sul?
O que está acontecendo com o Direito e a Justiça deste país?
Quando se trata de pressionar o Governo Federal para conceder aumentos ao Judiciário, há declarações públicas, tratativas políticas o apelo ao bom funcionamento de uma instituição da República.
Quando se trata de defender seus mais frágeis jurisdicionados nem mesmo um apelo à moderação, à humanidade, ao bom-senso. Havia, na ordem mandatória do despejo, alguma determinação de que houvesse assistência social, preparação dos serviços públicos para encaminhar as pessoas a casas, as crianças a escolas, os carentes à assistência devida?
Ou apenas para enxotá-los, como se fossem cães?
Será que precisamos de um novo Sobral Pinto para constranger a Justiça brasileira, pedindo que se aplique aos seres humanos do Pinheirinho a lei de proteção aos animais?
O ovo da serpente, ao qual se referiu a Ministra Eliana Calmon, eclodiu em São José dos Campos. Um Judiciário – porque seria desonroso chamar a isso de Justiça – que é algo que já não se rege nem pela moralidade e nem mesmo pela humanidade.
Há um campo de refugiados em São José dos Campos. Lá estão os flagelados. Não da seca, não das chuvas.
Os flagelados do Judiciário brasileiro, que repete a olímpica indiferença de Maria Antonieta.
terça-feira, 24 de janeiro de 2012
Os clássicos que a Academia esnobou
A ausência de outros grandes clássicos na lista de indicados ao Oscar é notória (o próprio Leone pode ser citado novamente com Três Homens em Conflitos, que também não possui indicações), mas no caso de Era Uma Vez no Oeste é realmente assustador constatar que nem mesmo a trilha sonora de Ennio Morricone foi lembrada. Como nosso colega Paulo de Tarso comentou na coluna Frame Sonoro, só a introdução do longa-metragem já é um show de técnica e demonstra toda a genialidade do compositor (que só veio a ter seu trabalho reconhecido pela Academia dez anos depois, quando recebeu a primeira de suas cinco indicações pela música de Dias de Paraíso – no entanto, seu único prêmio é o Oscar honorário, com o qual foi agraciado pela Academia em 2007).
Scarface (1983) e Os Intocáveis (1987), porRenato Silveira
Quem tem medo do CNJ?
Achei na rede: para quem ainda pensa que problemas para o erário público derivam somente do legislativo.
Supersalários de magistrados no Rio variam de R$ 40 mil a R$ 150 mil ao mês
O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) realiza pagamentos milionários a seus magistrados. A folha de subsídios da corte mostra que desembargadores e juízes de primeiro grau, mesmo aqueles que acabaram de ingressar na carreira, chegam a ganhar mensalmente de R$ 40 mil a R$ 150 mil. A remuneração de R$ 24.117,62 é hipertrofiada por 'vantagens eventuais'. Alguns desembargadores receberam, ao longo de apenas um ano, R$ 400 mil, cada, somente em penduricalhos.
A folha de pagamentos revela que em dezembro de 2011 o mais abastado dos desembargadores recebeu R$ 511 mil. Em dezembro de 2010, outro magistrado recebeu depósitos em sua conta que somaram R$ 462 mil, além do salário. Um terceiro desembargador recebeu R$ 349 mil. No total, 72 desembargadores receberam mais de R$ 100 mil, sendo que 6 tiveram rendimentos superiores a R$ 200 mil.
A contabilidade da toga fluminense indica que os valores globais oscilam muito, sempre para cima, porque ora uma determinada vantagem é reconhecida, ora outra é concedida. Por exemplo, vendem férias que alegam não ter desfrutado. Dois meses de férias por ano eles têm direito. O TJ invoca emaranhado de leis estaduais e federais, além de decisões dos tribunais superiores, para justificar os supercontracheques.
O próprio TJ, em obediência à Resolução 102 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) - norma que impõe transparência aos tribunais -, tornou pública a remuneração dos juízes de primeiro grau e dos desembargadores. Mas os nomes estão sob o manto do sigilo.
Dados de novembro de 2011 mostram que 107 dos 178 desembargadores receberam valores que superam com folga a casa dos R$ 50 mil. Desses, quatro ganharam mais de R$ 100 mil cada - um recebeu R$ 152.972,29.
Em setembro de 2011, 120 desembargadores receberam mais de R$ 40 mil e 23 foram contemplados com mais de R$ 50 mil. Um deles ganhou R$ 642.962,66; outro recebeu R$ 81.796,65. Há ainda dezenas de contracheques superiores a R$ 80 mil e casos em que valores superam R$ 100 mil.
Em maio de 2010, a remuneração bruta de 112 desembargadores superou os R$ 100 mil. Nove receberam mais de R$ 150 mil.
A folha de pagamentos do tribunal revela que, além do salário, magistrados têm direito a extenso rol de benefícios, como auxílio-creche, auxílio-saúde, auxílio-locomoção, ajuda de custo, ajuda de custo para transporte e mudança, auxílio-refeição, auxílio-alimentação.
Ainda recebem vantagens eventuais - gratificação hora-aula, adicional de insalubridade, adicional noturno, gratificação de substituto, terço constitucional de férias, gratificação de Justiça itinerante, correção abono variável, abono de permanência, parcela autônoma de equivalência, indenização de férias.
Recorde. Os desembargadores do Rio estão entre os detentores dos maiores rendimentos do serviço público. A folha de pagamentos do TJ seria um dos principais alvos da inspeção que estava nos planos da corregedora nacional de Justiça, Eliana Calmon.
A liminar deferida no final do ano passado pelo ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), interrompeu as inspeções do CNJ até que informações detalhadas fossem prestadas pela corregedora.
A ordem de Lewandowski atendeu ao pedido da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), símbolo da resistência à ação de Calmon.
A diferença entre o TJ do Rio e o de São Paulo é que magistrados da corte paulista receberam quantias excepcionais em caráter antecipado - atropelaram a ordem cronológica interna. Um desembargador recebeu bolada de R$ 1,6 milhão; pelo menos outros cinco levaram montante acima de R$ 600 mil cada.
Conselheiros do CNJ destacam que pagamentos vultosos no Rio são possíveis porque o tribunal conta com um fundo próprio de receita para administrar. Lei da década de 90 criou um fundo especial de receitas provenientes das custas judiciais e outras taxas (leia na página 5).
O passado que a Argentina enfrenta com a coragem que o Brasil não tem
Do Sul 21
O passado que a Argentina enfrenta com a coragem que o Brasil não tem
Luiz Cláudio Cunha
Especial para Sul21
A frase inesperada congelou a plateia colorida de azul, branco e marrom cáqui que lotava na segunda-feira, 12 de dezembro, o Salão San Martín, o espaço nobre do Edifício Libertador, sede do comando do Exército em Buenos Aires. Perfilados diante do ministro da Defesa, Arturo Puricelli, os brigadeiros, almirantes e generais do Alto Comando das Forças Armadas argentinas ouviram, crispados, a sentença súbita e cortante da autoridade que subvertia o rígido protocolo castrense:
p>Forti: "Juro por la pátria, mi madre y los 30 mil desaparecidos"
— ¡ Juro por la pátria, mi madre y los 30 mil desaparecidos! — improvisou o advogado e diplomata Alfredo Waldo Forti, 61 anos, ao prestar o juramento de praxe para renovar seu mandato como Secretário de Assuntos Internacionais da Defesa. Nenhum militar aplaudiu, mas nenhum protestou. Todos respeitaram a frase atrevida de Forti, que dava ali o seu corajoso testemunho pessoal diante da corporação fardada que legou à Argentina, no período da chamada ‘guerra suja’ de 1976 a 1983, o desonroso título de ditadura mais sangrenta entre os regimes militares que sufocaram a democracia no Cone Sul do continente, na segunda metade do Século 20.
Forti e sua mãe são símbolos dessa violência — ele como sobrevivente, ela como um nome a mais na multidão de desaparecidos políticos no período da repressão militar. A bela morena Nélida Azucena Sosa de Forti, ex-integrante dos Montoneros, o movimento guerrilheiro da esquerda peronista, tinha acabado de embarcar no voo 284 da Aerolíneas Argentinas que sairia do aeroporto de Ezeiza rumo a Caracas, na manhã de 18 de fevereiro de 1977.
Fugindo do clima político cada vez mais fechado do país, desde o golpe militar desfechado um ano antes, Azucena levava consigo os seis filhos, de 6 a 16 anos, incluindo Alfredo, o mais velho. Já com os cintos afivelados para a decolagem, tiveram que desembarcar, chamados de repente para resolver ‘problemas de documentação’. A mãe e as crianças foram recebidas por agentes armados da polícia de Buenos Aires, subordinada ao Primeiro Corpo de Exército. Com os olhos vendados, foram colocadas em dois carros e levadas para o Pozo de Quilmes, um quartel da Brigada de Investigações da polícia localizado numa cidade da região metropolitana, ao sul da capital.
Forti para Bussi: "Não tenho problema nenhum em cravar a faca cinco vezes em você. Mas a formação que recebi de minha mãe me diz que esta não seria a maneira certa"
Uma semana depois, as crianças reapareceram, vendadas com lençol e amarradas na árvore de uma praça no Parque Patrícios. Azucena ainda foi vista por um prisioneiro de Quilmes na primeira semana de março, até ser transferida para a chefatura de polícia de San Miguel de Tucumán, sua cidade de origem, 1.300 km a noroeste de Buenos Aires. A ordem de prisão e transferência para Tucumán partiu do general Antonio Domingo Bussi, que comandava a repressão mais feroz à guerrilha rural mais ativa do país na menor província da Argentina.
Azucena foi vista com vida, pela última vez, no centro clandestino de detenção conhecido como Arsenales, na saída norte da cidade, onde funcionava a Companhia de Arsenais Miguel de Azcuénaga, da V Brigada de Infantaria. Era um típico campo de concentração, cercado por duas cercas de alambrado separadas por uma faixa de terra vigiada por soldados e cães e altas torres de sentinelas.
Alfredo Forti e seus cinco irmãos nunca mais tiveram notícias de Azucena. No final da década de 1990, advogado com banca em Washington e consagrado assessor político dos governos do Peru, Equador e Guatemala, ele descobriu que dividia casualmente o mesmo voo da Aerolíneas com o algoz de sua mãe, Bussi, então um septuagenário general reformado. Naqueles tempos, a refeição era servida com talheres de metal, não de plástico. Em pleno voo, Forti deixou sua poltrona e foi até onde se sentava o general. Sem se apresentar, inclinou-se sobre ele, entreabriu o paletó e lhe disse:
— Estás vendo esta faca? Não tenho problema nenhum em cravá-la cinco vezes em você. Mas a formação que recebi de minha mãe me diz que esta não seria a maneira certa de resolver as coisas. Eu quero te ver apodrecer no cárcere! — amaldiçoou Forti, deixando para trás, tremendo, o homem que fazia a Argentina estremecer na década de 1970.
Caso americano
O nome de Bussi fazia abalar o prestígio da Argentina até nos Estados Unidos, no auge da ditadura. O National Security Archive da Universidade George Washington revelou, em 2002, o conteúdo de 4.600 documentos secretos do Departamento de Estado que abordavam violações de direitos humanos no país. O telegrama 04997 que a Embaixada em Buenos Aires enviou a Washington, no dia 29 de junho de 1978, relacionava os nomes de 103 pessoas das quais o governo norte-americano exigia informações. Um dos “casos de direitos humanos de interesse para os Estados Unidos” era o nº 71-77-5, de Nélida Azucena Sosa de Forti, com o status de “desaparecida”.
Azucena e milhares de compatriotas começam a desaparecer quando emerge, no mapa argentino, a sinistra figura do CCD. É a sigla dos Centros Clandestinos de Detenção, instalações secretas das Forças Armadas para executar o mesmo plano que Adolf Hitler, em 1941, batizou poeticamente de Nacht und Nebel (Noite e Névoa): um projeto de Estado para o desaparecimento de opositores ao regime. Os generais argentinos, como seus confrades nazistas, programaram a eliminação física dos dissidentes numa operação que começava com os sequestros, geralmente sob o manto da noite, e depois se completava pela névoa do desaparecimento sem pistas, sem rastros.
Havia método na loucura, como bradava Hamlet. Os CCD, apesar das diferenças, tinham uma estrutura básica e eficiente: uma ou duas salas de tortura, espaço amplo e indecente para receber os presos e alojamento decente para abrigar os guardas e torturadores. Todos tinham serviço médico e, em alguns casos, até um capelão para atender a consciência pesada dos mantenedores da ordem.
Inspiração brasileira
Começaram em meados da década de 1970 como pequenas casas ou porões clandestinos e, à medida que endurecia o regime, cresciam os CCD, espalhados pelos maiores quartéis do país, todos engolfados no turbilhão da tortura. Em 1976, ano do golpe de 24 de março, 610 CCD assombravam o país. Havia 68 deles só na província de Buenos Aires, 13 apenas na capital — incluindo os temidos CCD da ESMA, a temida Escola de Mecânica da Armada, e do Campo de Mayo, o maior quartel do país.
Bussi: uma das mais terríveis faces da repressão argentina.
A província de Tucumán, onde reinaria o general Bussi, tinha 16 CCD, a metade deles apenas na capital, San Miguel, terra onde nasceu a cantora Mercedes Sosa e onde desapareceu Azucena. Era um número espantosamente grande de terror disseminado por um único país. Os CCD excediam, em número, aos DOI-CODI da ditadura no Brasil (1964-1985), um país três vezes mais extenso, quase cinco vezes mais populoso e assolado por um regime de arbítrio três vezes mais longevo do que a da ditadura na Argentina (1976-1983).
A receita brasileira surgiu bem antes, em 1969, com a modelar OBAN, a Operação Bandeirante do II Exército, em São Paulo, que inovou unindo inteligência e violência das Forças Armadas, da Polícia Militar e dos policiais mais truculentos das delegacias da capital, onde despontou a liderança do delegado Sérgio Fleury, que se tornaria o símbolo internacional da repressão brasileira como estrela maior do DOPS.
Um ano depois, a fórmula de sucesso foi definitivamente militarizada, sob o comando do Exército, com a criação dos Destacamentos de Operações de Informações, os DOI do serviço sujo, que saíam às ruas para combater, sequestrar e torturar os militantes da guerrilha urbana. Eram coordenados pelos Centros de Operações de Defesa Interna, os CODI. Nascia a marca mais letal do regime brasileiro: os DOI-CODI, parceria macabra que se estendia pelos dez mais importantes comandos militares do país, nas grandes capitais.
Essa dezena de repartições públicas do terror, na estimativa do historiador Carlos Fico, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, autor de Como eles agiam — os subterrâneos da ditadura militar: espionagem e polícia política (ed. Record, 2001), abrigava cerca de 1.000 pessoas diretamente envolvidas com a repressão e a tortura — a quinta parte do efetivo do SNI, 5.000 arapongas, no auge do Governo Figueiredo. Antecipando os CCD argentinos, os militares brasileiros ainda montaram sete centros clandestinos de tortura em cinco Estados diferentes.
Doi-Codi Hilton e CCD Sheraton, maus locais de hospedagem
Hilton e Sheraton
Um sítio em Sergipe, um apartamento em Goiânia, uma casa no Recife, três locais em São Paulo (uma casa na avenida 23 de Maio, um sítio em Atibaia e uma chácara em Parelheiros, na zona rural paulistana) e a ‘Casa da Morte’, uma residência de aspecto acolhedor, com varanda e lareira na sala, numa rua tranquila de Petrópolis, na serra fluminense. O lugar, como um superlativo dos horrores comandados pelo CODI, ganhou um cifrado apelido dos militares que o frequentavam: “Codão”.
Os DOI-CODI mais importantes estavam nas duas maiores cidades brasileiras. O do Rio de Janeiro, instalado no quartel da Polícia do Exército, na rua Barão de Mesquita, registrou 735 denúncias de torturas, segundo o projeto Brasil Nunca Mais. Num espaço de 21 meses, entre julho de 1972 e março de 1974, quando o I Exército era comandado pelo general linha-dura Sylvio Frota, morreram ali 29 presos. O maior e mais notório DOI-CODI do país era o de São Paulo, com 250 homens da PM e da polícia civil, integrado ainda por 10 oficiais do Exército, 25 sargentos e cinco cabos sob o comando de seu fundador, o major Carlos Alberto Brilhante Ustra.
Ele redesenhou o 36º Distrito Policial, uma decadente delegacia a cinco quadras do ginásio do Ibirapuera, para instalar ali o DOI-CODI que se tornou o símbolo mais sangrento do regime: passaram por lá 2.541 ‘subversivos’ e 51 ‘terroristas’ morreram trocando bala com sua equipe barra-pesada, na heroica versão do próprio Ustra. Nos 40 meses em que o major reinou ali, entre 1970 e 1974, houve 502 denúncias de tortura (uma a cada 60 horas) e 40 mortos (um por mês) nos interrogatórios, segundo levantamento da Arquidiocese de São Paulo.
O centro de torturas de Ustra ficava na esquina da rua Tutóia com Tomás Carvalhal. Quando um preso era levado para lá, os agentes do DOI-CODI brincavam com a fama do lugar: “Agora você vai conhecer o Tutóia Hilton“, diziam. O que era Hilton, no Brasil, era conhecido como Sheraton na Argentina. O CCD Sheraton funcionava na subcomissária de polícia de Villa Insuperable, em La Matanza, o mais populoso dos municípios da região metropolitana de Buenos Aires, onde vivem 13 milhões de pessoas, a maior aglomeração do continente, abaixo só de São Paulo.
Martinez de Hoz, com um CCD (Centro Clandestino de Detenção) em sua empresa
Era um prédio de dois andares, com a garagem e as celas no térreo e a sala de tortura no andar superior, situado a quatro quadras da avenida General Paz, uma movimentada via de 24 km de extensão que margeia a capital ao norte e a oeste. Um CCD chegou a funcionar em 1975 na maior siderúrgica do país, a Acindar, presidida por José Alfredo Martinez de Hoz, a versão portenha de Delfim Netto, o poderoso ministro da Economia ao longo dos cinco anos do brutal governo do general Jorge Videla.
A patota dos Falcon
Talvez para amenizar a sombra que pairava sobre os CCD, os generais da névoa argentina lhes outorgavam codinomes ou apelidos singelos, quase inocentes, que camuflavam sua lúgubre destinação: El Campito, La Perla, Los Plátanos, El Banco, El Chalecito, La Casita de Los Mártires, El Olimpo, El Motel, La Escuelita para Mudos. Como os DOI brasileiros, os CCD argentinos contavam com seus grupos de busca e apreensão, os GT (ou grupos de tarefas), conhecidos como patotas.
Milhares de retratos em branco e preto que jamais foram atualizados | Foto-montagem de Emmanuel Frezzotti / Flickr
A eles cabiam a captura dos subversivos, circulando pelas ruas das cidades nos temidos sedã Ford Falcon azul ou verde, quatro portas, que formavam a frota da repressão. Os presos eram detidos, encapuzados, algemados e levados ao CCD para a tortura, praticada pela mesma patota, durante um ou dois meses. Após este período, os detidos simplesmente desapareciam, sumiam.
Como toda ditadura, a argentina recriava o idioma para ocultar sua maldade. Ninguém era preso, apenaschupado, eufemismo militar para quem era preso. Entre os repressores, os CCD eram conhecidos comochupaderos. Da mesma forma, ninguém morria. Os detidos que eram desaparecidos passavam apenas por um translado. Não importava a forma final utilizada, fosse fuzilamento em massa, fossa comum, incineração de cadáver ou uma tumba com a lápide NN (no nombrado), todos eram apenas transladados.
Pichação num muro de Buenos Aires
Quem tivesse o azar de ser sugado por um chupadero dos CCD dificilmente escaparia do translado. No CCD El Olimpo, num bairro do lado oeste, a 100 metros da agitada avenida Rivadavia que atravessa Buenos Aires, foram chupados cerca de 700 homens e mulheres. Menos de 50 saíram vivos dali. Na ESMA, a escola de morte da Marinha na capital argentina, passaram mais de 5.000 presos, dos quais sobreviveram pouco mais de cem. O CCD El Campito foi instalado no coração do maior quartel argentino, o Campo de Mayo, a 30 km do centro de Buenos Aires. Ali sobreviveram apenas 43 dos 5.000 detidos chupados pela repressão. Ele tinha um requinte a mais: o hospital militar utilizado para os partos clandestinos nas prisioneiras. Após o nascimento, o bebê era chupado para famílias dos militares e a mãe, usualmente, era submetida ao transladoinapelável. Cerca de 500 bebês, sequestrados de pais desaparecidos, fazem parte desta tétrica estatística argentina.
"Temos que matar e aniquilar a todos os guerrilheiros", ordenou Isabelita
O primeiro CCD do país surgiu, por ironia, na terra natal da transladada Azucena. Em 1975, ainda antes do golpe de Videla, o Exército aproveitou o prédio inacabado de uma escolinha na saída oeste da cidade de Famaillá, a 40 km da capital de Tucumán, San Miguel, para instalar o seu primeiro centro clandestino, que passou à história como La Escuelita. Das oito salas de aula, sete viraram celas e a última, o local de tortura. A menor província do país estava agitada, como foco guerrilheiro escolhido pelo grupo trotskista ‘Exército Revolucionário do Povo’ (ERP) para confrontar o regime da presidente Isabelita Perón, aproveitando a geografia montanhosa da região aos pés dos Andes.
Linha duríssima superada por Bussi
A sanha de Isabelita
O governo lançou a ‘Operação Independência’, para reprimir a guerrilha do ERP, sob a chefia do general Acdel Edgardo Vilas, comandante da V Brigada de Infantaria de Montanha, baseada em Tucumán. Linha duríssima, ele confiava mais na bala do que na lei: “É mais fácil passar um camelo pelo buraco da agulha do que condenar um subversivo num tribunal”, avisava Vilas. Pela agulha do CCD de Famaillá passaram, nas contas do general, 1.507 pessoas, mas cálculos mais realistas falam em mais de 2.000 pessoas.
La Escuelita já operava com força quando a presidente da República visitou o Comando Tático de Famaillá, a cinco quadras dali, para insuflar a sanha assassina dos militares: “Temos que matar e aniquilar a todos os guerrilheiros”, ordenou Isabelita, com ímpeto chupadero, meses antes dela mesmo ser transladada do poder pelos companheiros de armas de Vilas.
Bussi logo encontrou o que fazer
Uma investigação posterior de parlamentares apurou que, sob o comando do general, Tucumán assistiu a 123 sequestros de opositores — dos quais 14 foram assassinados e 77 simplesmente desapareceram,transladados. Quando o general Antonio Domingo Bussi chegou para assumir o comando, no final de 1975, lamentou-se com seu antecessor: “Vilas, você não me deixou nada por fazer!…”.
Modéstia de Bussi. Entre 1976 e 77, o general fez três vezes mais do que Vilas: aconteceram 371 desaparecimentos na província — 194 deles supostos militantes Montoneros ou meros simpatizantes. Numa comissão de investigação parlamentar, Osvaldo Humberto Pérez — que foi chupado pelo CCD Arsenales e, ao contrário de Azucena, sobreviveu — contou que ali, no espaço de um ano, foram fuziladas entre 800 e 1.000 pessoas. Em abril de 1976, o lugar ganhou o reforço de 40 soldados enviados desde Campo de Mayo.
Um deles, Omar Eduardo Torres, depondo na década de 1980 perante a Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas (CONADEP), presidida pelo escritor Ernesto Sábato, contou como era a vida (e a morte) no CCD Arsenales, subordinado diretamente ao general Bussi.
— Uma vez vi como um preso desnudo era enterrado vivo, só com a cabeça fora do buraco, com a terra em volta molhada para ser compactada com os pés. O preso ficava lá 48 horas. O buraco provocava cãibras dolorosas e infecções na pele. Por duas vezes presenciei fuzilamentos ali, e quem efetuava o primeiro disparo era o general Antonio Bussi. Depois ele fazia com que todos os oficiais de maior hierarquia atirassem também. O local das execuções estava localizado a uns 300, 400 metros da Companhia de Arsenais, montanha acima. Estendiam um cordão de segurança a uma distância de 20 metros e outro a uns 100 metros do local. Os disparos eram feitos com pistolas calibre 9 mm ou 11.25 mm, sempre entre as 23h e 23h30. A cada 15 dias se assassinavam entre 15 a 20 pessoas — relatou o soldado Torres.
A coisa certa
O ex-soldado Domingo Jerez garantiu ao juiz Carlos Jiménez Montilla, em fevereiro de 2010, que testemunhou o general Bussi matar a bordoadas a dois homens em um campo de concentração em Timbó Viejo, localidade ao norte de San Miguel, na rodovia 305. “Vi quando colocaram o cano de um fuzil na vagina de uma mulher grávida”, contou o soldado.
Bussi no tribunal
Bussi trocou La Escuelita pelo CCD Nueva Baviera, um velho engenho de açúcar dotado de heliporto e vários caminhões para transporte de tropas e prisioneiros. Ele descentralizou a tortura e ampliou suas patotas. Atacou com bombas a universidade local, os partidos, os opositores. Advogados, sindicalistas e políticos foram alvo de sequestro, prisão e tortura. Bussi, como se via, ainda tinha muito que fazer. Dono de um par de olhos azuis frios como as rajadas que sopravam dos Andes, Bussi mantinha a cara fechada, casmurra, apropriada para aqueles tempos azedos. Seu braço longo cruzou a longa distância até Buenos Aires para alcançar a montonera Azucena minutos antes de alçar voo para a liberdade.
Alfredo Forti abriu processo contra o general em 2005
O secretário Alfredo Forti, o garoto sequestrado por ordem de Bussi, abriu um processo contra o general em 2005, depois que o Governo Kirchner revogou as anistias do Ponto Final e da Obediência Devida que deixavam impunes os torturadores. Assim, outros 800 processos por sequestro, tortura e morte, antes engavetados, voltaram a assombrar o velho general, que passou a frequentar os tribunais como uma caricatura de seu decrépito poder, envelhecido, enfraquecido por doenças dos pulmões e do coração, com uma sonda de oxigênio sempre enfiada no nariz.
"Não nego, nem afirmo"
Acossado também por denúncias de contas clandestinas no exterior, respondia ao melhor estilo Maluf: “Não nego, nem afirmo”. Em 2003, eleito para a prefeitura de San Miguel, a cidade que ele aterrorizou na ditadura, foi impedido de assumir o cargo, acusado pelo desaparecimento e morte do senador peronista Guillermo Vargas Aignasse.
Foi acusado de crimes de lesa humanidade e pelo desaparecimento de outras 72 pessoas, o que lhe rendeu a prisão perpétua em agosto de 2008. O chefe temido da repressão foi destituído com desonra do Exército. Não conseguiu ver as outras condenações iminentes, porque o coração enfim falhou, em novembro passado, determinando o seu translado irremediável aos 85 anos.
Um único deputado de Tucumán animou-se a pagar o anúncio de falecimento num jornal local, assim mesmo com o estrito cuidado de citar o nome do filho vivo, não do pai morto: “O deputado Alberto Colombres Garmendía participa com dor o falecimento do pai do deputado Ricardo Bussi”.
O secretário de Assuntos Internacionais da Defesa, Alfredo Waldo Forti, não viu o sequestrador de sua mãe apodrecer no cárcere, como imaginava.
O filho de Azucena viu coisa pior: o general Antônio Bussi, como acontece com os criminosos de todas as ditaduras, apodreceu em vida, chupado pela memória de seus abusos, cravado pela lâmina aguda dos tribunais e da Justiça.
Como ensinava Azucena a seus filhos, é a maneira correta de resolver as coisas num país que respeita sua história, sua memória, seu povo.
* Luiz Cláudio Cunha é jornalista.
[cunha.luizclaudio@gmail.com]
segunda-feira, 23 de janeiro de 2012
El eternauta no Brasil
Solano Lópes ao lado de sua criação mais famosa |
Capa da edição da Martins Fontes |
sexta-feira, 20 de janeiro de 2012
lista elementar de hq's
*momento preferido da história: o diálogo entre o batman e o coringa no final.
2 - A morte de Gwen Stacy (Gerry Conway e Gil Kane).
As histórias do homem-aranha escritas por Stan Lee e desenhadas por Steve Ditko e, posteriormente, por John Romita, são clássicos absolutos, fazendo parte do acervo das melhores obras que a Marvel produziu em seus áureos tempos. Com a saída de Lee e de Romita, os artistas que os substituíram tiveram a obrigação de manter o alto nível da fase anterior. Mas Conway e Kane foram além, criando um dos momentos mais dramáticos das hq's em todos os tempos. Por representar a perda da inocência e o impacto de um trauma sem precedentes na vida de um super-herói, "a morte de Gwen Stacy" é considerada o ponto final na Era de Prata dos quadrinhos.
*momento preferido da história: a sequência em que o homem-aranha tenta salvar Gwen. Uma aula de enquadramento do mestre Gil Kane.
3 - O cavaleiro das trevas (Frank Miller).
Não concordo com os que afirmam que Miller foi o responsável pela reinvenção do batman como herói sombrio, pois isso já tinha sido feito pela dupla O'Neill/ Adams na década de 70. Talvez a grande novidade do batman de Miller seja mesmo a psicopatia levada a extremos em vários momentos da hq. Em que pesem nossas atuais opiniões sobre a pessoa de Miller, não dá pra negar que, nos anos 80, não tinha pra ninguém no ramo. O "velho reaça" criou aqui uma das suas obras-primas; violenta, politizada, magistralmente escrita e desenhada.
*momento preferido da história: são tantos, mas gosto de destacar o embate entre o cavaleiro das trevas e o chefe da gangue dos mutantes, quando batman toma uma legítima surra.
4 - A queda de Murdock (Frank Miller e David Mazzucchelli)
Já fiz uma resenha sobre esta história, uma verdadeira aula de desenho de Mazzucchelli. É a obra que redefiniu um dos melhores e mais maltratados personagens da Marvel. Mais uma prova de que Frank Miller era o máximo em termos de arte sequencial. Era.
*momento preferido da história: sem dúvida, a sequencia em que Ben Ulrich presencia um assassinato pelo telefone. Como sempre digo, Mazzucchelli é o cara!
5 - Watchmen (Alan Moore e David Gibbons).
O que dizer a respeito de Watchmen que já não tenha sido dito? Maior hq de todos o tempos? Única hq já listada entre os grandes romances do século XX? Chega a doer o coração saber que a DC planeja uma "prequel" da história. Heresia total.
*momento preferido da história: tudo!
6 - Spirit (Will Eisner).
Difícil mensurar a importância de Will Eisner para a arte do século XX. Sei que ele tem outras obras até mesmo mais densas do que o spirit, seu personagem mais famoso e com o qual tive contato no final da década de 80, quando a falecida editora cedibra chegou a publicar seis edições mensais que incluíam as tiras de jornal. Para mim, é uma das poucas hq's inadaptáveis para outras mídias. Ninguém conseguiria reproduzir aquele climão pós-crise de 29 e o humor muito peculiar do velho Eisner.
*momento preferido da história: de modo geral, os incríveis enquadramentos do mestre Will Eisner.
7 - Batman: ano um (Frank Miller e David Mazzucchelli)
Outra hq importante de Miller na década de 80. Recontando a origem do batman de forma magistral, em tom de romance policial. E, claro, com a primorosa arte de Mazzucchelli.
*momento preferido da história: o ataque de batman ao banquete dos mafiosos.
8 - Homem-aranha: a ultima caçada de Kraven (J.M. Dematteis e Mike Zeck)
Sou fã absoluto de Dematteis, um roteirista acima da média no universo das hq's de super-heróis. Aqui ele fez um de seus melhores trabalhos, retratando o que aconteceria se um inimigo de segunda mão realmente resolvesse matar o aranha. Os desdobramentos do ato praticado por Kraven são surpreendentes e o roteiro de Dematteis é perfeito. Uma das melhores histórias do homem-aranha de todos os tempos, que merece uma republicação no Brasil.
*momento preferido da história: a "morte" do homem-aranha
9 - Superman: o homem de aço (John Byrne)
Byrne estava no auge da criatividade quando foi convidado pela DC para reformular o superman. A mitologia do herói nunca foi tão bem trabalhada como aqui. Byrne criou um universo bastante crível e, ao mesmo tempo, com toques de fantasia e ficção científica como só ele sabia fazer. Junto com Frank Miller e Chris Claremont, foi o principal roteirista de histórias seriadas dos anos 80.
*momento preferido da história: a grande inovação em relação `a personalidade de Luthor, que passou de cientista louco a empresário ganancioso.
10 - Liga da justiça cômica (J.M. Dematteis, Keith Giffen e Kevin Maguire
Inovadora por si só, a série cômica da liga revolucionou as hq's de super-heróis ao inserir um humor anárquico jamais visto na DC ou na Marvel. O traço de Maguire é genial e combina muito com os roteiros alucinados da dupla Giffen/Dematteis. Um dos grandes clássicos contemporâneos das hq's.
*momento preferido da história: sem dúvida, a tiração de sarro com o Galactus no episódio do Sr. Nebulosa, o "decorador" de mundos. É de chorar de rir.