Embora nunca consegui realizar meu sonho de ver o Pink Floyd (e depois da morte de Rick Wright, esse sonho tornou-se definitivamente irrealizável), tive o privilégio de ver Roger Waters ao vivo duas vezes. A primeira foi na turnê In The Flesh, no já longínquo ano de 2002. A segunda foi ontem.
Os shows de Waters são daqueles que valem cada centavo investido no ingresso. Ao contrário dos caça-níqueis que costumam pintar pelo sul do Brasil, não se trata de uma apresentação de 45 minutos com direito a mais 10 minutos de bis com muito choro e insistência da plateia.
A equipe de Waters merece nota 10. Já a do Sport Club Internacional, nota 0. Na entrada do Beira-Rio, havia uma fila gigantesca que se prolongava até o Parque Marinha, e dava a volta até o Gigante (ou Chiqueiro). Péssima organização. Milhares de pessoas quase na completa escuridão, quebrada apenas por luzes de celulares. Ao contrário das partidas de futebol usual, quando destacam metade do contingente da Brigada Militar de todo o Estado para a Capital, contei uma meia dúzia de PMs por ali. Com a escuridão que fazia, só me restava rezar para que não aparecesse um arrastão. O pior de tudo é que, até então, eu acreditava que o Beira-Rio estava realmente lotado. Ledo engano. Chegando ao local, havia vários "buracos" entre a plateia da pista e pouco empurra-empurra. Ou seja, a direção do Internacional errou feio na organização, num total desrespeito ao público. Talvez a fila para o moedor de carne fosse menos angustiante.
Lá dentro, porém a coisa muda, graças ao elegante Mr. Floyd. O cenário do muro é realmente uma coisa grandiosa. Dá para descrever como um espetáculo da Broadway on steroids, como diriam os americanos. Uma delícia para os olhos e ouvidos.
Os fogos de artifício ao som dos primeiros power chords de In The Flesh anunciam que a experiência será literalmente "na carne".
Na sequência, a bela Thin Ice mostra que, mais que a pirotecnia, o espetáculo tem conteúdo relevante. Hoje em dia, é difícil ver um artista com culhão para fazer crítica social. Se os detratores de Waters e do Pink Floyd crescessem um pouco e começassem a prestar atenção na mensagem, certamente entenderiam que atitude é algo mais do que se encher de cordões de ouro e mulheres à volta para cantar com o auxílio do T-Pain Effect e passariam a calar a boca.
Os fogos de artifício ao som dos primeiros power chords de In The Flesh anunciam que a experiência será literalmente "na carne".
Na sequência, a bela Thin Ice mostra que, mais que a pirotecnia, o espetáculo tem conteúdo relevante. Hoje em dia, é difícil ver um artista com culhão para fazer crítica social. Se os detratores de Waters e do Pink Floyd crescessem um pouco e começassem a prestar atenção na mensagem, certamente entenderiam que atitude é algo mais do que se encher de cordões de ouro e mulheres à volta para cantar com o auxílio do T-Pain Effect e passariam a calar a boca.
Segue a manjada Another Brick In The Wall, recheada por The Happiest Days of Our Lives. A conhecida sequência com o helicóptero em som quadrifônico e encerrada pelo trem passando na frente do muro é quase a mesma de sempre, com o bonecão do professor malvado e o coro de crianças, sempre recrutado localmente. Nessa versão, não há muito destaque para a máquina de guisado. Menção honrosa para a guitarra de G.E. Smith, que acrescenta um belíssimo segundo solo ao arranjo.
Waters mostra que The Wall continua mais atual que nunca. Ao final de Another Brick In The Wall, o músico britânico mostra o brasileiro Jean Charles dentre as muitas vítimas da guerra. No caso, a tão famigerada Guerra Contra o Terror dos amargos anos Bush. Roger Waters teve a sensibilidade de conversar com os pais de Jean Charles e convidá-los para conhecer a apresentação.
A crítica à indústria da guerra pega um novo enfoque nessa releitura de The Wall. Waters pergunta: "Mother, should I trust the government?", ao passo que o muro responde com "No fucking way". A câmera do Big Brother é um espetáculo a parte, mostrando a opressão e vigilância justificadas pela "proteção".
Senti falta, porém, da cantora que fazia a parte da Mãe na turnê In The Flesh. Ao que parece, Waters quis ser mais fiel à versão original, e optou por um dueto com seu eu jovem, da época em que compôs a canção.
Durante Good Bye Blue Sky, numa das cenas mais belas do espetáculos, vemos, além das cruzes lançadas pelos aviões, estrelas de Davi, crescentes, foices e martelos, cifrões, e, é claro, os logos de corporações como a Shell, Mercedes e Mac Donald's. Impossível um recado ser mais direto que este.
A dobradinha Empty Spaces/Young Lust é outro momento que Gilmour faz falta. Única canção composta por Gilmour em todo o álbum, qualquer interpretação por estranhos vai ser um desafio. Embora G.E. Smith seja um guitarrista de calibre e consiga imitar com competência a elegante guitarra do Pink Floyd, os vocais de Robbie Wyckoff deixam muito a desejar.
De qualquer forma, as belas imagens da flor devoradora falam por si. Se, em 1980, a crítica ao consumismo para "preencher os espaços" era pertinente, hoje ela é muito mais do que atual nestes Tempos Líquidos.
De qualquer forma, as belas imagens da flor devoradora falam por si. Se, em 1980, a crítica ao consumismo para "preencher os espaços" era pertinente, hoje ela é muito mais do que atual nestes Tempos Líquidos.
Na sequência, Another Brick In The Wall Parte III. Com Good Bye Cruel World, o muro se fecha completamente, encerrando o primeiro bloco da apresentação.
Muito bom o review. Infelizmente, nao pude ir ao show. Tenho certeza de que foi inesquecivel. Pena que uma reuniao do Pink Floyd esteja cada vez mais distante.
ResponderExcluirPois é. Na verdade rolaram umas apresentações do Gilmour nessa turnê. Claro que esperar que elev viesse junto Ao Brasil já ia ser demais. Espero concluir o revire amanha.
ResponderExcluirReview. Revire fica por conta do corretor do iPad.
ResponderExcluirVais no show do Macca? Recomendo muito!
ResponderExcluirsim. irei pela segunda vez ao show do veio paul.. fazer o q? genio é genio e deve ser celebrado sempre que possivel...
ResponderExcluirPois é... infelizmente não consegui comprar os ingressos a tempo. Agora me resta ficar na torcida para que o Grêmio traga o AC/DC na inauguração da Arena!!!
ResponderExcluirBelo post, descontado o comentário sobre o templo do futebol não rebaixado.
ResponderExcluirA propósito, não sei se o AC/DC vem tocar na arena, mas é certo que o último show do "olímpico" vai ser o show da Madonna (UUUUUIIIII, rerererere).
Belo post, descontado o comentário sobre o templo do futebol não rebaixado.
ResponderExcluirA propósito, não sei se o AC/DC vem tocar na arena, mas é certo que o último show do "olímpico" vai ser o show da Madonna (UUUUUIIIII, rerererere).
Pode até ser "não rebaixado", mas que o show no Olímpico em 2002 estava bem mais organizado, estava...
ResponderExcluirA propósito: é engraçado que a paixão futebolística acaba prevalecendo até sobre o respeito ao consumidor... No ClicRBS conseguiram até transferir a culpa pela falta de planejamento, que era exclusivamente do time, à EPTC, que não tinha nada a ver com a fila. Os caras querem cortar custos com o pessoal da segurança e mandam a galera entrar toda pelo mesmo portão...
ResponderExcluir