quarta-feira, 28 de março de 2012

Review: Roger Waters em Porto Alegre (Parte II)

O segundo bloco do espetáculo abre com a belíssima Hey You, com o inconfundível dedilhado de guitarra em Nashville Tuning. Talvez uma das melhores canções do álbum, apropriada pelo personagem de
Mark Zuckerberg Jesse Eisenberg no filme "A Lula e a Baleia", de 2005.






Na sequência, a também bela Is There Anybody Out There e seu também inconfundível dedilhado de violão clássico.



As fracas Vera e Bring The Boys Back Home servem somente para emendar a história e anunciar a chegada da icônica Confortably Numb.



Interpretar uma canção que é marca registrada do Gilmour é um peso para qualquer um. G.E. Smith até consegue emular a guitarra com competência o encargo, mas os vocais de Robbie Wyckoff não chegam nem perto.





A burocrática The Show Must Go On encerra a trama do astro de rock que tem um piti no camarim. Segue, então, a parte que eu considero mais interessante do show. Como no roteiro do álbum, após ser devidamente anestesiado pelo seu médico particular (mais um daqueles casos em que a vida imita a arte, e vice-versa), Pink (interpretado por Waters) chega ao palco vestido de nazista e com delírios de grandeza. Destaque para a ilustre presença do icônico porquinho de Animals, desta vez recriado como um javali nazi.

O porquinho malvado




Em tradução livre, avisa "Tenho más notícias, meu bem. Pink ficou no hotel e nos mandou como banda substituta. Vamos ver quanto os seus fãs vão aguentar". Segue perguntando "Há algum fresco na plateia? Quero ele no paredão! (...) Aquele lá parece ser Judeu, aquele outro, um negão (....) Quem deixou toda essa gentalha entrar aqui?". Então, à moda Rambo, pega uma metralhadora e começa a atirar.

No muro, é projetada a pergunta: "Há paranoicos?", anunciando a arrasadora Run Like Hell e seu inconfundível riff de guitarra com delay.



Se em Goodbye Blue Sky, Waters homenageava corporações como Shell, MacDonald's e Mercedes, aqui ele dedica um bloco inteiro à empresa do finado Steve Jobs. No muro, são projetadas imagens de figurinhas como Mao Tse Tung,  Osama Bin Laden e George W. Bush, em versão "iPod People",  acompanhados de palavras como  iBelieve,  iTeach, iLearn, iProtect e iKill.

Como já havia comentado, Roger Waters tem coragem para dizer o óbvio. Enquanto todo o mundo chorava a morte do fundador da Apple, era preciso alguém lembrar que o "gênio" era acima de tudo um patrão sem escrúpulos. As recentes denúncias contra a FoxxCon só confirmam que Waters é muito mais visionário que o falecido CEO da Maçã.

O artista sempre foi coerente em suas posturas. Logo após o colapso da União Soviética, enquanto Gilmour e cia. festejavam a queda do comunismo em Division Bell, Waters ironizava  o milagre das forças do mercado em Amused To Death. A crítica a uma aparente unanimidade como a Apple também chega em boa hora.






Se Waiting for the WormsStop The Trial não são lá grandes canções, pelo menos vêm acompanhadas de imagens perturbadoras e icônicas, como a marcha dos martelos e o julgamento com personagens que parecem ter saído de Alice no País das Maravilhas. O climax é a esperada queda do muro.




O clima folk de Outside The Wall serve para apresentar a banda ao público, que fica por trás do muro na maior parte da apresentação. Os músicos tocam instrumentos acústicos, como bandolins, violões e acordeons, mostrando a face humana por trás de todo o aparato tecnológico representado pelo muro.

É um final simpático e esperançoso.

Acho difícil outro show em Porto Alegre superar esse.



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