Do André Forastieri.
A crise na Europa começa a bater aqui no Brasil. Na verdade, a crise americana de 2008 bateu depois na Europa, e as ondas de choque continuam se espalhando; o capitalismo, sempre ele, é que está em crise, mais uma. A Grécia está de fato no bico do corvo; talvez saia da União Europeia, abandone o Euro, restaure o dracma.
Na Espanha está difícil conter corrida aos bancos. O ministro do país negou hoje que esteja sendo preparado um pacote de ajuda do FMI, garantia de que é isso mesmo que está acontecendo. Portugal, Itália, Irlanda - solução difícil, sem mudanças de fato, e mudar nunca é fácil.
De todas as besteiras que se fala sobre a crise na Grécia, a mais injusta é que os gregos estão nessa situação difícil porque são vagabundos. É mentira. E mesmo assim se espalhou e cristalizou. A gente vê a mesma cantilena repetida infinitamente. É imprensa, articulistas, políticos.
Os gregos são boas-vidas, todo mundo garante. Levam a vida na flauta, só curtindo o sol esplendoroso, o mar turquesa, o ouzo e os kebabs. Safados, se aproveitando do dinheiro que a Alemanha manda para eles.
Pobres trabalhadores tedescos, gente séria, que pega no pesado e vê sua grana suada sustentando esses gregos picaretas. E os jovens gregos ainda querem fazer universidade de graça! E os velhos gregos ainda querem receber as aposentadorias integrais!
Bem, a BBC fez uma pesquisa para identificar os países em que se trabalha mais. Só entre os países que fazem parte da OECD (Organization for Economic Cooperation and Development), um clube de 34 países que se ajudam, a maioria europeus, a maioria bastante ricos. Na média, as pessoas que vivem nestes países trabalham 1718 horas por ano.
Onde mais se trabalha é na Coreia (2193), seguida do Chile (2068), e em seguida... a Grécia, com 2017 horas por ano. Os Estados Unidos estão quase na média geral da OECD, com 1695 horas. E a Alemanha? É o segundo país onde se trabalha menos. São 1407 horas por ano. Só perde em horas livres para a Holanda. Veja a pesquisa completa aqui.
A crise na Grécia tem várias causas. A principal não tem nada a ver com o País: é a desregulamentação do sistema financeiro global. Nenhuma tem a ver com o quanto os gregos se esforçam para ganhar a vida. Se você quiser chamar algum povo europeu de boa-vida, mais justo dizer isso dos alemães.
Não que eu tenha nada contra boa vida. Meu ideal seria combinar o melhor dos dois mundos. Trabalhar só 1407 horas por ano, como os Alemães - mas vivendo na Grécia, não na Alemanha...
Nenhum comentário:
Postar um comentário