domingo, 1 de julho de 2012

Ainda Ridley Scott: Blade Runner

Prometheus ainda é uma curiosidade. Pretendo assistir. Tenho lido alguns comentários destruidores, outros, nem tanto. 
No contexto, vale lembrar aquele que para muitos, incluindo eu, é o melhor filme de Ridley Scott: Blade Runner. Um clássico que a sua época revisitou os clássicos filmes policiais, do cinema noir. O enredo se desenvolve no futuro (logo ali, em 2019!), mas Scott sugere um passado no futuro, com os chapéus e os casacos característicos dos filmes policiais dos 40's, com fotografia que enquadra a estética do cinema noir na ficção futurista. A fotografia é perfeita, assim como a trilha sonora e o roteiro, com seu caráter propositivo sobre vida e engenharia genética, vida e morte, com data e hora marcados. 
A impressão que se tem, trinta anos depois, é a mesma: o diretor fez um grande acerto, contrariando o que o estúdio pretendia com o filme. Tanto que anos depois do lançamento nos cinemas, saiu a versão de Scott, que havia sido deixada de lado pelos produtores, que impuseram uma versão que foi para as telonas em 1982, com o propósito de fazer o filme mais aceitável à clientela.




Tenho curiosidade sobre o livro que serve como (vaga, segundo alguns) referência para o filme, Andróides Sonham com Ovelhas Elétricas? de Philip Dick, pelo que sei ainda não publicado no Brasil (se foi, eu não encontrei até hoje). O nome do filme deriva de uma obra do doido beat William Burroughs, influência que fica só no título . Uma curiosidade oportuna: a banda punk portoalegrense Replicantes, tem um disco cujo título faz referência-trocadilho com o livro que originou o filme que inspirou o batismo da banda (o título do álbum é andróides sonham com guitarras elétricas).
No filme Deckard vive o dilema de fazer o serviço sujo de limpar Los Angeles dos replicantes que se rebelaram após serviços em colônias fora da terra. Harrison Ford fez no filme sua melhor atuação, assim como Rutger Hauer, que, hoje se tem certeza, não poderia ter ido muito além do papel do andróide de cabelos brancos. No meio da caçada de replicantes, ocaçador se apaixona pela vítima, no caso, por uma replicante, Rachael, interpretada pela desaparecida Sean Young.
Surpreende o futuro exposto por Scott, com grande presença de orientais na vida e na economia da Los Angeles superpovoada e poluída, dominada por grandes corporações. Se bem que faltam latinos em maior número, restando a "cota" para James Olmos, que acompanha/policia Deckard em sua triste jornada de testes Voight-Kampff e tiros em andróides. O contexto é permeado pela trilha sonora de Vangelis, grego que fazia parte da banda progressiva Aphrodite's Child (que nome!) e que havia, no ano anterior, conquistado o oscar pela trilha de Carruagens de Fogo, sempre lembrada em épocas olímpicas, de atletismo e de maratonas. A trilha, uma das mais legais já feitas, encerra o climão do filme. Tanto que sempre que se escuta a love theme feita por Vangelis se remete ao filme, como "as time goes by" emparelha no cérebro de qualquer um alguma coisa relacionada com Casablanca. Mesmo que a versão seja a de Chet Baker.


Busquei na internet, o reino do control c + control v algumas curiosidades e observações no mínimo interessantes sobre o filme, especialmente no blog capacitor fantástico, cuja indicação nos livra do plágio e a seguir destaco:

Ao deixar seu apartamento com Rachael, ao fim do filme, ela encontra um origami de um unicórnio. O unicórnio foi a última das figuras criadas por Gaff. Quando Gaff e Deckard estão no escritório de Bryant e Deckard insiste em permanecer fora da força policial, Gaff faz um origami de galinha. ‘You’re afraid to do this”. Mais tarde, Gaff faria um homem com uma ereção. ‘You’re attracted to her”, e finalmente o unicórnio “You’re dreaming, you cant run away with her, but she wont live”. O unicórnio costuma ser associado a pureza, à virgindade. Lendas dizem que só uma virgem (Rachael) pode capturar um unicórnio. Uma das explicações para a retirada da seqüência do sonho com o unicórnio, seria a de Scott admitir que deixaria muito obvio, ser Deckard outro replicante. Apesar disto, a unicórnio é mantido na versão de 1982 (Theatrical) , mas os produtores vetaram por considerá-la “muito artística”. 
 
 

O final feliz
O fim que conhecemos também foi sugestão do estúdio, pois Scott desejava terminar com o casal entrando no elevador. Os estúdios preferiram um fim menos ambíguo e feliz.
As cenas aéreas utilizadas na versão de 1982 foram restos de filmagens do filme de Kubrick, ‘The Shinning’ (O iluminado).
 
Das curiosidades, destacam-se alguns problemas que passaram pela edição final e foram para as  telas, mas que não desmerecem o filme:
 
Quando Zhora voa através dos vidros, distingue-se claramente ser um duble, que em nada se parece com a atriz. Além disto, usa botas pequenas, diferentes daquelas calcadas por Zhora no vestiário.
Quando Leon joga Deckard contra o pára-brisa do carro, este já estava quebrado, pois a cena foi refilmada sem um novo pára-brisa.
Quando Pris entra no elevador de Sebastian, seus cabelos estão secos. Ao entrar no apartamento estão molhados de novo.
A filmagem da cena de amor entre Rachael e Deckard foi filmada entre um intervalo de 3 semanas, entre o inicio e o fim, devido a atriz (Sean Young) ter sido internada por problemas com drogas. É perceptível a mudança da maquiagem de Rachael.
Um buraco de bala é visível em Pris, antes dela receber o primeiro tiro.
Quando Deckard se confronta com Roy e este lhe devolve a arma apos quebrar-lhe alguns dedos, é possível ver a sombra na parede do cameraman, da câmera e do assistente do microfone.
Uma frase de Roy Batty “ I want more life, fucker !” aparece em algumas versões como “I want more life father !”
Harrison Ford declarou logo apos o filme que não havia gostado de ser um detetive que não investiga coisa alguma. “Eu apenas tinha que estar no ‘plot’, e prestar atenção nas marcações feitas por Scott”.
 

4 comentários:

  1. Pois é... sobre os reviews negativos de Prometheus, sempre é bom lembrar que o tom das críticas de Blade Runner à época que foi lançado foram bastante semelhantes.

    Antes de virar um dos maiores clássicos sci-fi da história, figurando ao lado de pesos pesados como 2001, a visão de Ridley Scott para o livro de Phillip K. Dick foi apontada como um verdadeiro abacaxi pela crítica e público. Só anos mais tarde, com a popularização do videocassete e a campanha boca-a-boca, Blade Runner se tornaria um cult nas locadoras, para, somente anos mais tarde, especialmente com o lançamento da versão do diretor, ganhar o status que merecia.

    O livro de Phillip K. Dick não é grande coisa. Contrariando a regra, o filme de Scott é muito melhor. Acredito que tenha sido lançado no Brasil porque li (embora numa versão digital) e em português. Não sei se ainda está em catálogo. A versão em inglês é relativamente fácil de achar e uma vez cheguei a ver à venda numa loja da Saraiva.

    Embora seja realmente uma pena que bons livros de ficção científica praticamente não existem nas livrarias do Brasil. Já houve uma época de ouro, em que se encontrava toda a coleção de Arthur Clarke e Asimov em qualquer livraria, embora em edições sofríveis. Muita coisa boa ainda se encontra em sebos.

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  2. Assisti ao filme algumas vezes e me parece que é daqueles que sempre melhoram a cada conferida. Sean Young é linda demais. Uma pena que simplesmente sumiu…
    Já vi em várias entrevistas que Harrison Ford não gosta do filme, pois o acha cerebral demais, e ele prefere algo mais visceral. Parece que, enquanto filmavam, Ford não tinha ideia do que Scott estava fazendo.
    Concordo que o filme, junto com o Alien de 78, é o melhor da carreira de Scott, que há seculos não faz nada muito relevante.
    Bom lembrar que o filme completa 30 anos este ano e terá um relançamento em blu-ray, assim como há um planejamento para uma continuação (contra a qual torço enfaticamente).
    Aliás, este é o ano dos aniversários: 30 anos de Blade Runner, E.T. e Poltergeist; 10 anos da morte de Charles Schulz, 20 anos de Instinto Selvagem, 50 anos de Bond nos cinemas etc, etc… Viram quantos temas para os posts??

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  3. É verdade. Na época em que foi lançado, Blade Runner também dividiu opiniões, desde o estúdio até público e crítica. O próprio Harrison Ford, conforme escrito acima, não tem muita consideração com o filme. Depois que Scott enveredou pelos épicos os trabalhos do cara ganharam como megaespetáculos e perderam densidade de roteiro e de apelo estético, como fora Alien (o primeiro) e Blade Runner.
    De resto, continuação normalmente é sacanagem, tomara que não ocorra.
    Os aníversários serão tratados futuramente, assim como se tratou de Casablanca.

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  4. Falando em épicos, li por aí que o director's cut do Cruzada conseguiu deixar o filme bom. Fiquei bastante curioso de rever nesta versão.

    Semana passada revi Alien, na versão do diretor, que me parece ser bastante diferente do que eu lembrava da versão original.

    Inclusive tem a cena do Dallas capturado pelo Alien, que não ficou no primeiro corte, mas foi incluída na sequência do James Cameron (que, até então eu achava que era invenção deste último), numa tentativa de fazer justiça ao filme de Scott.

    Digo bastante diferente porque o Alien só aparece exatamente na metade do filme. A primeira metade é toda a função sobre o planetoide dos Space Jockeys, onde se vê o fantástico trabalho de H.R. Giger. Prometheus tem muito dessa "pegada" do Alien no director's cut, coisa que aparece pouco na versão original de 1979 e praticamente é ignorada nas sequências, que basicamente são filmes de monstro, sem muito apego à ficção científica. Antes achava que Alien, O Oitavo Passageiro era mais um filme de terror que de FC, mas com a versão do diretor percebe-se que a coisa não é bem assim.

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