sábado, 1 de outubro de 2011

Lendas, mitos e outras verdades urbanas: o "domingo de greve"



Percebe-se, pelo título do texto, que a coluna "Lendas, Mitos e Outras Verdades Urbanas" não se limita a tratar apenas de personagens, de figuras, mas que se dedica também ao estudo de fatos, locais e episódios que possuem contornos surreais, até mesmo lendários e míticos. Sim, existe uma confusão entre realidade e ficção, uma ponte sem pedágios entre terra dos jecas - terra do nunca - terra do contrário, onde o certo é errado, o errado é certo, funk é música e o assustador se torna encantador. Por aí existem fatos, pessoas e locais que nos levam a uma bifurcação entre real/irreal, como num episódio de além da imaginação (nas fotos abaixo: na esquerda, professores no domingo, ao lado, o patrão convocando para greve).


Hoje, trataremos de algo muito estranho, que provoca curiosidade de se saber qual será a fonte criadora de tal ideia: será o extremo da criatividade, algo que se coloca além de nossa compreensão limitada, algo transcedental que, quiçá, entenderemos algum dia, ou simplesmente uma proposta, digamos, excêntrica. Eu aposto minhas fichas na segunda possibilidade, mas penso em outras, como uma brincaderia, ou um trote. Mas, vamos lá, se trata de um assunto sério, se trata do DOMINGO DE GREVE!!!
É uma ideia do Sinpro do Rio Grande do Sul, do sindicato dos professores, para se "opor" a exploração das fábricas de diploma e das escolas do mal de educação básica. No site da "greve" percebe-se que o dia 2 de outubro será dia de "paralisação". Segundo informações, parece que estão preparando uma marcha, a ser realizada no dia 32 de outubro, dia em que está agendado, também, o começo da revolução, o fim do ensino privado e a chegada de uma comitiva de Vênus, para negociar empréstimos com o FMI.
Está claro que Domenico de Masi (na foto abaixo), é o grande teórico revolucionário, o mentor intelectual da
greve, que fez escola com sua ideia de ócio criativo, a qual é interpretada pela indústria da educação como possibilidade de o trabalhador continuar a trabalhar até mesmo quando não está em dia de trabalho. Assim, está claro, é possível fazer greve em dia de folga, ora pois! Dizem que está circulando entre os subversivos uma cartilha de orientação Masista, um tal "Manifesto Comodista", que tem a seguinte introdução: "Um fantasma ronda o Rio Grande..." o encerramento é adequado à proposta do sindicato em questão: "colaboradores e executivos do mundo, uni-vos".
Ficamos a imaginar alguns diálogos entre os empresários e industriais da educação e o curioso movimento paredista em questão, em meio a luta das classes:
- Sou representante do sindicato dos professores e venho informar sobre a greve no domingo.
O industrial da educação não entende, e pergunta:

- Greve que começa no Domingo???
O “sindicalista”:
- Não, chefe, greve no domingo, domingo de greve!!!
Surpreso, o dono da fábrica de diplomas diz:
- Muito bem! Vocês devem lutar pelos seus direitos, e deixar o descanso de lado para fazer greve no domingo, sem me dar prejuízo na segunda e nos dias de trabalho, claro.
E conclui:
- Estamos juntos nessa luta! Vocês tem o meu apoio!
Após a saída do “grevista”, o industrial pede para sua
secretária ligar para o dono da unibomba, seu amigo, e ao telefone, rindo, começa o diálogo:
- Você não vai acreditar no que vi e ouvi...
Fico a imaginar a indignação dos manifestantes em meio as palavras de ordem “domingo de greve, a luta continua” pelos parques e praças, sob o olhar estarrecido daqueles que passeiam aos domingos.
Afirma-se que durante a assembleia que definiu a greve aos domingos, propostas de greve aos sábados foram descartadas, e os grupos que fizeram tais propostas estão sendo expurgados, por serem radicais e anarquistas. A opinião de uma das lideranças, atucanado em meio ao debate, sobre os radicais foi: “assim não dá, assim não pode!”
Entretanto, mesmo entre os proponentes do domingo de greve, existem outras propostas mais radicais, como a paralisação nos feriados e até mesmo a greve nas férias.
Em meio a tais propostas, se discute o encaminhamento de projetos de lei para regular a greve aos domingos, que deverá tramitar junto com outros projetos polêmicos, como o que prevê a aplicação de penas aos suicidas, quando do cometimento do crime de suicídio, e a punição do aborto em mulheres não-grávidas.


O movimento tem o apoio da imprensa isenta: um colunista do jornal zero-hora mostra muito agrado com as manifestações dos professores, ao afirmar que o movimento faz sentido, que não terá pneus queimados e que, por isso, ganha "apoio da sociedade". De fato, é a primeira vez que se vê uma greve que consegue conjugar esforços e interesses em uma única grande frente, que une empresários e industriais da educação, professores e a "imprensa isenta". É realmente um grande feito. Um conjunção de interesses assim deverá render grandes resultados.
Aguardemos para ver os resultados do movimento de orientação masista e seu radicalismo-pós-moderno. Um objetivo é considerado certo pelos grevistas e, em parte, comemorado de ante-mão: o aumento e/ou manutenção do lucro de industriais e empresários da educação.
Em meio ao radicalismo, alguns poucos ainda defendem a realização de greves como as que eram feitas nos séculos XIX e XX, na luta contra a exploração cada vez maior dos professores do ensino privado. Esses, entretanto, são considerados antiquados, démodé, não são ouvidos pelo sindicato que defende a greve aos domingos e acabam, quase sempre, demitidos.

8 comentários:

  1. Concordo com os neogrevistas sansculotistas. A radicalização é o caminho. Greve geral, greve geral no domingão! Pra garantir o lucro do patrão!
    O próximo passo poderia ser uma grande passeata no dia 24 de dezembro, momento bastante propício para a manifestação popular!

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  2. Tem que chamar a brigada para baixar o pau nesses baderneiros de domingo! E sentar o cacete naqueles baderneiros que andam queimando pneus e bloqueando estradas por aí!

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  3. Cara, na boa, acho que foi o melhor post até agora. Só uma coisa estranhei, o que aconteceu com o fundo dos Vs?

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  4. Pois é... Fui ver as possibilidades de fundo novo e me atrapalhei. Não soube como voltar para os Vs (fiquei sem a imagem). Daí coloquei inception. Se os camaradas querem os vs de volta, beleza.
    Ah, a brigada descer o pau nos "baderneiros de domingo", rerererere... Esses baderneiros. Só fico na dúvida quanto a quem vai atacar os caras que colocam pneus queimados. Tu andas lendo muito prof. hariovaldo!
    Sobre o Zelig: ouvi dizer que a passeata será no dia primeiro de janeiro!!!!

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  5. Os pseudo-grevistas esqueceram-se da origem da palavra greve, que significa PARALISAÇÃO como instrumento de negociação e não abraçar seus interesses com os chefes...a essência do movimento paredista se perdeu!

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  6. Cara, nada contra o fundo do Inception, mas tem esse SD que é de algum outro blog, aí não acho legal. Vamos procurar outra imagem que não tenha essa coisa aí.

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  7. Na verdade, os nossos grevistas voltaram às origens da palavra greve, quando os baderneiros franceses se reuniam num domingão para tomar chimarrão na Place de Grève.

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  8. pessoal, gostei do fundo, mas ainda prefiro os Vs. O q vcs acham?

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