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superman de Joe Shuster |
É inegável que a história das histórias em quadrinhos não seria a mesma sem os grandes desenhistas que deixaram suas marcas nas hq's ao longo de quase cem anos. Também é inegável que houve uma evolução natural em termos de traço, principalmente nas últimas quatro décadas. Só para ficar nos quadrinhos americanos, basta lembrar do super-homem surgido na década de 1930 e desenhado por Joe Shuster, cujo traço era bastante rudimentar, mesmo para os padrões da época, principalmente se analisarmos os desenhos detalhistas e maravilhosos de dois contemporâneos de Shuster, Hal Foster e Alex Raymond; e ainda mais se compararmos Shuster com Neal Adams, John Romita, John Buscema e Gil Kane, artistas que, a partir do final da década de 60, estabeleceram um alto padrão de qualidade para as histórias em quadrinhos de super-heróis.
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o príncipe valente de Hal Foster |
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o flash gordon de Alex Raymond |
Nas décadas de 70 e 80, de uma maneira geral, todo grande artista dos
comics se espelhava na obra desses desenhistas. Gente como Frank Miller, John
Byrne e George Pérez, só para citar alguns dos mais conhecidos, claramente se inspirava na arte daqueles mestres.
As mudanças começaram a acontecer mesmo a partir da década de 1990, com a imposição quase generalizada do chamado "padrão
Image", uma referência ao estilo exagerado predominante na editora americana. Nessa época, desenhistas como
Jim Lee,
Whilce Portacio,
Todd Mcfarlane e o famigerado
Rob Liefeld ganharam fama e fortuna desenhando corpos de homens sarados e mulheres de seios fartos, em histórias
descerebradas e repletas de violência, sintomas de uma crise mais aguda que se desenrolava na indústria de
hq's e que levaria a
Marvel Comics a abrir falência em meados da década de 90. Caberia a um jovem e talentoso desenhista recolocar a arte sequencial em seu devido lugar e, ao mesmo tempo, resgatar o prazer de se ler uma boa hq. O nome desse desenhista: Alex Ross.
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os exageros de Rob Liefeld |
Sem dúvida, o trabalho mais lembrado (e, para muitos, o melhor) de Ross é Marvels, a excelente minissérie escrita por Kurt Busiek e lançada em 1994. Com sua abordagem realista e nostálgica dos heróis da Marvel Comics, Busiek e Ross conquistaram os leitores e ganharam o reconhecimento da crítica especializada, com destaque especial para Ross, que, a partir de então, tornou-se um dos grandes astros das hq's e um artista cobiçadíssimo pelas majors americanas. Seu trabalho seguinte foi Reino do Amanhã, uma história futurista que mostrava o destino dos heróis da DC por meio dos belos diálogos de Mark Waid. De certa forma, essa obra serviu como uma crítica `a banalização da violência nos quadrinhos e um resgate do conceito clássico de herói. Mais uma vez, no entanto, é o traço nunca menos do que perfeito de Ross que, com seu inacreditável realismo, conquista os leitores.
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Coringa por Ross |
Desde então, o desenhista tem colaborado com várias editoras americanas, fez trabalhos para cinema (é dele a sequência de abertura de "Homem-Aranha 2"), participou de campanhas políticas e se aventurou como roteirista em histórias como "Justiça" (
DC), "Terra X" (
Marvel), "Tocha Humana" (
Marvel/
Dynamite) e na
recém-lançada no Brasil "
Projeto Superpowers" (
Dynamite), resgatando do limbo vários personagens "
pulp" da era de ouro dos
quadrinhos. Essa, aliás, é uma faceta cada vez mais visível de
Ross, a do
revisionista entusiasmado, do artista engajado na recuperação do brilho clássico das
hq's de heróis. Toda a sua obra é marcada pela influência de artistas como
Norman Rockwell,
Gardner Fox e Julius
Schwartz, e no belo álbum "
DC:
Mythology", organizado com vários desenhos e rascunhos de
Ross, essas influências sugerem ao leitor que o desenhista vem aperfeiçoando seu traço de forma
surpreeendente.
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Liga da Justiça de Ross |
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Bush vampirizando |
Alguns críticos apontam que sua arte é por vezes estática, sem a dinâmica necessária a um desenhista de quadrinhos, fato que o teria levado a dedicar-se muito mais a desenhar capas (pelas quais, segundo dizem, ele chega a receber cerca de dez mil dólares por unidade) do que a desenhar histórias completas. Um outro grupo de críticos acha que ele tem exagerado no revisionismo, criando tramas chatas e redundantes. Bem, fica o registro. Particularmente, eu o considero "apenas" um dos grandes artistas vivos das histórias em quadrinhos.
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homenagem retrô aos heróis da tv |
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Alex Ross
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Dicas de leitura:
1 - Marvels (Panini)
2 - Reino do Amanhã (Panini)
3 - DC: Mythology (importado)
Site de
Alex Ross:
www.alexrossart.com
Massa! Eu tenho o artbook Rough Justice, do Alex Ross, sobre a série da Liga da Justiça. E os traços do cara são muito bons mesmo.
ResponderExcluirAgora, o cara em matéria de desenho de super-herois para mim, ainda é o Neal Adams.
ResponderExcluirgosto muito do Adams tb. Ele e um grande mestre e influenciou muita gente. Acho que merece um post…
ResponderExcluirTenho o album Mythology, do Ross. Belissimo. Mas ainda acho que seus melhores trabalhos foram Marvels e Reino do Amanha, apesar de gostar bastante da serie Justica, da DC.
Ross é genial. Marvels é um trabalho de grande qualidade, um dos últimos grandes marcos das hq's. Nem me lembrava do Byrne, outro cara muito legal. Belo texto.
ResponderExcluirMais um comentário: o nome do post ficou fantástico!
ResponderExcluirAlex Ross chegou pra detonar tudo com Marvels e fez muito bem.
ResponderExcluirA década de 90 não foi muito feliz para os super-heróis e ele conseguiu mudar um pouco isso.
As capas de Astro City também são belíssimas, e um artista com um estilo parecido com o dele é John Avon, que ilustra cartas de Magic.
Valeu.