Após o fracasso de "Batman e Robin", em 1997, a Warner parecia totalmente perdida sobre o que fazer com sua série de maior sucesso. Foi preciso um cineasta vindo do cinema independente e que tinha feito até então apenas três filmes para que um dos personagens mais famosos da cultura pop recebesse um tratamento decente nos cinemas. Com "Batman Begins", o inglês Christopher Nolan estabeleceu as bases para uma série muito bem-sucedida e de qualidade acima da média em se tratando de blockbusters de ação e aventura. Com o segundo filme, "O cavaleiro das trevas", Nolan foi mais longe e fez um trabalho primoroso, com uma marcante atuação do falecido Heath Ledger. Era de se esperar que ele voltasse ainda mais uma vez para trás das câmeras para encerrar sua contribuição ao universo do Batman. Assim, "O cavaleiro das trevas ressurge" estreia com a missão de fechar com chave de ouro a mais bem-sucedida série cinematográfica de um personagem de quadrinhos.
Não vale a pena falar muito sobre a história, que traz Batman enfrentando o vilão Bane em uma Gotham City novamente ameaçada pela Liga das Sombras. Novos personagens são apresentados, como a Mulher-Gato vivida por Anne Hathaway e o policial interpretado por Joseph Gordon-Levitt, que me parecem ser os grandes destaques do novo filme. Pela primeira vez no cinema, a Mulher-Gato é retratada de maneira mais fiel aos quadrinhos, surgindo como uma ladra que atrai e se sente atraída pelo Batman. Aliás, o novo filme tem várias referências `as hq's, o que me agradou bastante. Quem leu "O cavaleiro das trevas", "A queda do morcego", "Terra de ninguém" e "Um lugar solitário para morrer" vai perceber várias referências a essas sagas no filme, inclusive com alguns diálogos retirados quase que integralmente das histórias. Outro ponto positivo é que o grandioso elenco, reunido por Nolan desde "Begins", continua muito bem e dá credibilidade até mesmo a sequências inverossímeis. Acho que Michael Caine tem, aqui, seu melhor momento em toda a série, com uma interpretação verdadeiramente tocante; e Gary Oldman confirma que é um dos grandes atores de sua geração, com seu sofrido e corajoso comissário Gordon.
A tarefa de Tom Hardy era ingrata: substituir Heath Ledger como antagonista do Batman. Mas o fato é que ele está muito bem no filme, cumprindo sua função de vilão quase indestrutível de maneira irretocável. A cada vez que aparece em cena, nos faz acreditar que é mesmo um sujeito perigoso e bastante articulado.
Hardy como Bane |
Anne Hathaway como Selina |
Os problemas do filme começam com o roteiro, que tem vários furos e situações forçadas. Me surpreeende que Nolan, sempre tão meticuloso com suas histórias, lance mão de algumas soluções absurdamente clichês e, por vezes, incongruentes. Não quero dar spoilers, mas há alguns flashbacks desnecessários e que tiram um pouco o brilho da narrativa. De igual modo, o excesso de personagens e a necessidade de resolver a trama de maneira rápida dão a impressão de que faltou um pouco de polimento no roteiro, para que a história ficasse um pouco mais enxuta. Nem vou entrar na discussão levantada por alguns críticos, que veem no filme uma espécie de libelo republicano de direita, pois não acho que esse tipo de obra se preste a apenas uma interpretação, ou mesmo que mereça uma interpretação politizada. Afinal, estamos falando de um filme de super-herói, e não de uma película de Costa-Gavras ou de Ken Loach.
De qualquer forma, o filme é muito bem conduzido e excepcionalmente produzido. A trilha de Hans Zimmer, marca registrada dos filmes de Nolan, contribui, e muito, para o clima de tensão que permeia toda a projeção, tornando este terceiro capítulo uma bela conclusão para a trilogia do morcego no cinema. As cenas de ação são eficientes, principalmente o prólogo e o embate entre Batman e Bane, e o filme cresce da metade para o fim, a partir de um momento específico que acentua a dramaticidade da narrativa, conduzindo o espectador para a conclusão que, se não chega a ser arrebatadora, é bastante convincente. Embora inferior aos dois primeiros da série, "Batman - o cavaleiro das trevas ressurge" é digno da filmografia de Christopher Nolan e bastante superior `a maioria dos blockbusters que infestam as salas de cinema.
E, claro, respondendo `a pergunta que surge entre dez de cada dez fãs de hq's: qual a melhor adaptação de hq do ano: Vingadores ou Batman? Bem, desta vez acho que a Marvel venceu. Embora o trabalho de Nolan seja sempre muito bom, este ano fico com Joss Whedon, que apresentou um filme com uma história um pouco mais coesa e com ritmo mais constante, costurando de forma bem eficiente uma trama que interliga a história de vários personagens.