segunda-feira, 30 de julho de 2012

review de cinema: "Batman - o cavaleiro das trevas ressurge"




Após o fracasso de "Batman e Robin", em 1997, a Warner parecia totalmente perdida sobre o que fazer com sua série de maior sucesso. Foi preciso um cineasta vindo do cinema independente e que tinha feito até então apenas três filmes para que um dos personagens mais famosos da cultura pop recebesse um tratamento decente nos cinemas. Com "Batman Begins", o inglês Christopher Nolan estabeleceu as bases para uma série muito bem-sucedida e de qualidade acima da média em se tratando de blockbusters de ação e aventura. Com o segundo filme, "O cavaleiro das trevas", Nolan foi mais longe e fez um trabalho primoroso, com uma marcante atuação do falecido Heath Ledger. Era de se esperar que ele voltasse ainda mais uma vez para trás das câmeras para encerrar sua contribuição ao universo do Batman. Assim, "O cavaleiro das trevas ressurge" estreia com a missão de fechar com chave de ouro a mais bem-sucedida série cinematográfica de um personagem de quadrinhos.
Não vale a pena falar muito sobre a história, que traz Batman enfrentando o vilão Bane em uma Gotham City novamente ameaçada pela Liga das Sombras. Novos personagens são apresentados, como a Mulher-Gato vivida por Anne Hathaway e o policial interpretado por Joseph Gordon-Levitt, que me parecem ser os grandes destaques do novo filme. Pela primeira vez no cinema, a Mulher-Gato é retratada de maneira mais fiel aos quadrinhos, surgindo como uma ladra que atrai e se sente atraída pelo Batman. Aliás, o novo filme tem várias referências `as hq's, o que me agradou bastante. Quem leu "O cavaleiro das trevas", "A queda do morcego", "Terra de ninguém" e "Um lugar solitário para morrer" vai perceber várias referências a essas sagas no filme, inclusive com alguns diálogos retirados quase que integralmente das histórias. Outro ponto positivo é que o grandioso elenco, reunido por Nolan desde "Begins", continua muito bem e dá credibilidade até mesmo a sequências inverossímeis. Acho que Michael Caine tem, aqui, seu melhor momento em toda a série, com uma interpretação verdadeiramente tocante; e Gary Oldman confirma que é um dos grandes atores de sua geração, com seu sofrido e corajoso comissário Gordon. 
A tarefa de Tom Hardy era ingrata: substituir Heath Ledger como antagonista do Batman. Mas o fato é que ele está muito bem no filme, cumprindo sua função de vilão quase indestrutível de maneira irretocável. A cada vez que aparece em cena, nos faz acreditar que é mesmo um sujeito perigoso e bastante articulado.

Hardy como Bane

Anne Hathaway como Selina

Os problemas do filme começam com o roteiro, que tem vários furos e situações forçadas. Me surpreeende que Nolan, sempre tão meticuloso com suas histórias, lance mão de algumas soluções absurdamente clichês e, por vezes, incongruentes. Não quero dar spoilers, mas há alguns flashbacks desnecessários e que tiram um pouco o brilho da narrativa. De igual modo, o excesso de personagens e a necessidade de resolver a trama de maneira rápida dão a impressão de que faltou um pouco de polimento no roteiro, para que a história ficasse um pouco mais enxuta. Nem vou entrar na discussão levantada por alguns críticos, que veem no filme uma espécie de libelo republicano de direita, pois não acho que esse tipo de obra se preste a apenas uma interpretação, ou mesmo que mereça uma interpretação politizada. Afinal, estamos falando de um filme de super-herói, e não de uma película de Costa-Gavras ou de Ken Loach.
De qualquer forma, o filme é muito bem conduzido e excepcionalmente produzido. A trilha de Hans Zimmer, marca registrada dos filmes de Nolan, contribui, e muito, para o clima de tensão que permeia toda a projeção, tornando este terceiro capítulo uma bela conclusão para a trilogia do morcego no cinema. As cenas de ação são eficientes, principalmente o prólogo e o embate entre Batman e Bane, e o filme cresce da metade para o fim, a partir de um momento específico que acentua a dramaticidade da narrativa, conduzindo o espectador para a conclusão que, se não chega a ser arrebatadora, é bastante convincente. Embora inferior aos dois primeiros da série, "Batman - o cavaleiro das trevas ressurge" é digno da filmografia de Christopher Nolan e bastante superior `a maioria dos blockbusters que infestam as salas de cinema. 
E, claro, respondendo `a pergunta que surge entre dez de cada dez fãs de hq's: qual a melhor adaptação de hq do ano: Vingadores ou Batman? Bem, desta vez acho que a Marvel venceu. Embora o trabalho de Nolan seja sempre muito bom, este ano fico com Joss Whedon, que apresentou um filme com uma história um pouco mais coesa e com ritmo mais constante, costurando de forma bem eficiente uma trama que interliga a história de vários personagens. 

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Teaser trailer do novo filme do super-homem

No embalo da estreia de "Batman - o cavaleiro das trevas ressurge", a Warner disponibilizou o primeiro teaser de "Man of Steel", o reinício do super-homem no cinema. O filme foi escrito e produzido por Christopher Nolan e dirigido por Zack Snyder. Parece que Nolan levou toda a sua equipe para a nova série do azulão, inclusive o grande compositor Hans Zimmer, responsável pela trilha de Batman e de Inception, o que garante um certo padrão de qualidade. Como de costume, a esposa de Zack Snyder, Debora, é coprodutora, ou seja, há indícios de que teremos um blockbuster autoral, com pouca influência dos engravatados que não entendem nada de quadrinhos ou de cinema, ao contrário do que aconteceu com o péssimo filme do lanterna verde. Se tudo der certo, a Warner caminha para enfrentar os filmes da Marvel nas bilheterias com um possível filme da liga da justiça. Se tudo der errado, estará consolidada a hegemonia da "casa das ideias" no cinemão. Gosto bastante do elenco, que tem Henry Cavill como super-homem, Amy Adams como Lois Lane, e ainda Russell Crowe, Kevin Costner, Diane Lane e Laurence Fushburne, respectivamente nos papéis de Jor-El, Jonathan Kent, Martha Kent e Perry White.
Normalmente sou voz dissonante quanto ao trabalho de Snyder como diretor. Ao contrário de muitos que o criticam principalmente por usar câmera lenta e excesso, acho que ele é um dos poucos diretores atuais que realmente sabem filmar sequências de ação sem deixar o espectador confuso. Gosto de seus filmes anteriores, especialmente de "Watchmen", que se mostrou uma adaptação bastante digna do trabalho de Alan Moore. Obviamente, aqui, todos as expectativas se voltam para o nome de Christopher Nolan nos créditos, o "midas" do cinema pop contemporâneo, que até agora não errou a mão em nenhum de seus trabalhos. Veremos como se sai na cadeira de produtor.






terça-feira, 24 de julho de 2012

Pablo Vilaça fala (bem) sobre Batman

Meu celular, minha operadora

A situação caótica das operadoras de celular no Brasil mereciam um texto mais detalhado, coisa que não ando com tempo de fazer. Mas achei essa charge que sintetiza bem o quadro (negro) da telefonia. E ainda tem as viúvas do FHC que acham que a privatização fez bem ao país...


terça-feira, 17 de julho de 2012

Adeus, Jon Lord!

Ontem (segunda-feira, 16 de julho), faleceu Jon Lord, um músico que dispensa maiores apresentações. Difícil imaginar os anos 70 sem o teclado viajante do Deep Purple, em seus duelos com Ritchie Blackmore. Se não foi o primeiro, talvez seja um dos músicos mais importantes a fundir rock'n'roll com erudito, o que serviria de base para quase todas bandas de heavy metal (na linha mais melódica, e, em especial, as da NWBHM, que viriam depois).

Lord tinha câncer no pâncreas e sofreu uma embolia pulmonar.

É um cara que vai deixar saudades!

Jon Lord




sexta-feira, 13 de julho de 2012

Só para não dizer que eu esqueci do Dia do Rock

Na minha vida, todo dia é dia de rock'n'roll. Então, não ligo muito para certas datas que a mídia inventa por aí. Sei que provavelmente a Atlântida FM deve estar tocando Stairway To Heaven e Smoke On The Water hoje, em "homenagem" ao grande estilo. Mesmo que passe 364 dias do ano tocando hip hop, poperô, reggae baba e outras porcarias.

Esclarecido isso (expressão que muito uso nos meus acórdãos, quer dizer... "minuta de voto"), passo a apresentar uma banda injustamente pouco conhecida, o Television.

Você acreditaria que uma banda que lança uma música de mais de 10 minutos, praticamente instrumental, poderia ter sido na época (final dos 1970s) vendida como "punk"? Bom, provavelmente a gravadora que lançou esses novaiorquinos dessa forma achou que seria uma boa ideia na época. Mas como convencer o público? Fácil, cortando um pouco mais os cabelos dos rapazes.

Digo que a inclusão no punk talvez tenha eclipsado um pouco a proposta da banda, que muito bem poderia ser vendida hoje sob o rótulo de "indie". Fazia anos que não ouvia os caras, e esses tempos reconheci o riff, jurando que era alguma coisa do Strokes ou do Franz Ferdinand. Não só a guitarra martelada, mas também o visual "terninho do vovô" parece ter influenciado essa geração dos anos 2000. O mais legal de tudo é que ao longo que a música se arrasta, surgem texturas sonoras que remetem a Kashimir do Led. Também dá para sentir a influência dos caras nos Smiths e outros que viriam depois.

Ainda o homem-aranha

Agora que "O espetacular homem-aranha" estreou com grande sucesso e foram confirmados mais dois filmes pelo estúdio, parece que o personagem mais famoso da Marvel vai continuar sua bem-sucedida carreira nos cinemas pelos próximos anos. Sorte da Sony, que vai encher os bolsos vendendo tudo quanto é traquitana relacionada ao amigão da vizinhança. Por outro lado, está cada vez mais difícil ler as hq's. Histórias fracas, descaracterização do personagem e desenhistas medíocres contribuem para que eu mantenha distância dos gibis do homem-aranha já há alguns anos. Sinto saudades do tempo em que ele era o carro-chefe das boas histórias da Marvel, escrito e desenhado por autores de prestígio. Bons tempos.
Por tudo isso (e porque sou um maldito saudosista), andei escavando minha memória afetiva em busca dos melhores desenhistas que passaram pelos títulos do Aranha nesses seus 50 anos de vida (lembremos que sua primeira aparição data de 1962, na revista "amazing fantasy"). Eis a lista com os 5 mais marcantes para mim:

1 - Steve Ditko
O mais óbvio de todos. Criador do visual que se tornou reconhecível para nove em cada dez habitantes do planeta terra (e, quem sabe, de outro também). 

Reza a lenda que Jack Kirby era o encarregado de desenhar a primeira história do aracnídeo. No entanto, o "rei" entregou um personagem que mais parecia um novo capitão américa, de tão bombado. Como Stan Lee queria criar  um personagem mais franzino, Ditko acabou sendo o desenhista ideal, pois tinha um estilo que fugia um pouco da estética "mister universo" que sempre dominou o universo dos super-heróis.






O Aranha clássico de Ditko

2 - John Romita
Mestre absoluto da nona arte, Romita produziu a melhor série de histórias da homem-aranha até hoje. Quem não se lembra da inesquecível saga do Duende Verde, dos confrontos com o Dr. Octopus, de Kraven, da morte do capitão Stacy etc, etc? Romita estabeleceu um padrão estético definitivo para o Homem-Aranha, um estilo que só foi superado após a passagem de Todd Mcfarlane pelos títulos do personagem. Sua Gwen Stacy é, até hoje, a melhor representação de um personagem feminino nas hq's.



A (supiro...) Gwen Stacy de Romita

3 - Todd Mcfarlane
Antes de se tornar mais um dos integrantes do famigerado "estilo Image" e ganhar rios de dinheiro com sua empresa de brinquedos, Mcfarlane fez um belo trabalho com o homem-aranha, sendo o responsável por uma excelente fase, cheia de humor e muita ação. Foi nesse período que surgiu o Venom, personagem adorado por muitos fãs (entre os quais não me incluo). Apesar de alguns tropeços na arte, Mcfarlane trazia ao Aranha um leveza e dinâmica, duas características que os filmes incorporaram muito bem.




O Aranha acrobático de Mcfarlane

4 - John Romita Jr.
Talvez o desenhista que mais vezes trabalhou com o Homem-Aranha. Desenhou histórias boas e ruins, mas sempre de forma muito competente. Acho até que os leitores mais novos lembram mais dele do que do próprio Romita Sr. "Romitinha", como é conhecido entre os fãs brasileiros, tem um traço inconfundível, com clara influência japonesa e muito estilo. É um dos grandes desenhistas em atividade.



Aranha vs. Duende por "Romitinha"

5 - Gil Kane
Lenda dos quadrinhos, tem o mesmo status de Neal Adams, John Buscema, Carmine Infantino e tantos outros gigantes que mantiveram prolíficas carreira até final dos anos 70. Desenhou "A morte de Gwen Stacy", considerada por muitos (inclusive eu) a melhor história do Aranha de todos os tempos.   


Kane e seu traço clássico perfeito

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Indie Game: The Movie

Apesar de os games serem extremamente populares desde a geração que cresceu nos anos 80, ainda poucas pessoas se interessam sobre quem faz os jogos. Indie Game: The Movie é um documentário que mostra o cotidiano de quatro game developers.

Atuando numa área dominada blockbusters maiores que as produções de Hollywood, os produtores independentes podem ser comparados a artistas da contracultura. É difícil dizer ainda sobre isso, pois os games, em si, ainda não têm o status de "arte", que muito mereciam. Mas fico pensando nesses caras como escritores malditos ou mesmo cineastas independentes.

O documentário mostra o cotidiano de quatro geeks, que praticamente dedicam suas vidas ao desenvolvimento de jogos que representam o sonho de suas vidas. Eu, particularmente, já fiz tentativas de incursão nessa área e sei como é difícil fazer um videogame. É uma área que envolve programação, design, som etc. Juntar todos esses elementos de forma orgânica é um desafio hercúleo.

Neste sentido, esses quatro caras mostram um lado heroico, quase quixotesco. Apenas um deles é casado. Os outros praticamente não têm vida social nenhuma. Dedicam quase que todo seu tempo a esta atividade, e contam praticamente só com a ajuda dos pais para financiar seus projetos. É o espírito "faça você mesmo" do punk levado à enésima potência.

O resultado final dos jogos é de babar. Apesar do aspecto retrô, que fará muito adolescente retardado e mimado com as superproduções para XBOX e PS3, os indie games mostrados têm uma qualidade técnica, um refino artístico e uma criatividade de babar.



Na minha opinião, o mais legal de todos é o FEZ, que mostra uma visão bem particular do autor sobre 2D e 3D.




Braid também é um belo trabalho. Uma das cenas mais interessantes no documentário é a comparação entre o protótipo do jogo, com sprites ripados de videogames antigos, como Donkey Kong, e a versão final, já inseridos os gráficos definitivos. Não achei o vídeo para por aqui, mas isso vale como incentivo para o pessoal ver.




Super Meat Boy é o menos interessante de todos, mas pelo menos têm um personagem "fofinho".



Um texto interessante sobre o american way of life

Segue um texto breve, crítico do modo de vida americano. Claro que não pode ser tomado como dado absoluto, como verdade absoluta. Mas, com os precedentes as contundentes críticas de Michael Moore em seus documentários,  pode servir de interessante referência.

  
Do Diário do Centro do Mundo


Paulo Nogueira

Morris Berman, 67 anos, é um acadêmico americano que vale a pena conhecer.
Acabo de ler “Por Que os Estados Unidos Fracassaram”, dele. A primeira coisa que me ocorre é: tomara que alguma editora brasileira se interesse por este pequeno – 196 páginas — grande livro.
A questão do título é respondida amplamente. Você fecha o livro com uma compreensão clara sobre o que levou os americanos a um declínio tão dramático.
O argumento inicial de Berman diz tudo. Uma sociedade em que os fundamentos são a busca de status e a aquisição de objetos não pode funcionar.
Berman cita um episódio que viu na televisão. Uma mulher desabou com o rosto no chão em um hospital em Nova York. Ela ficou tal como caiu por uma hora inteira, sob indiferença geral, até que finalmente alguém se movimentou. A mulher já estava morta.
“O psicoterapeuta Douglas LaBier, de Washington, tem um nome para esse tipo de comportamento, que ele afirma ser comuníssimo nos Estados Unidos: síndrome da falta de solidariedade”, diz Berman. “Basicamente, é um termo elegante para designar quem não dá a mínima para ninguém senão para si próprio. LaBier sustenta que solidariedade é uma emoção natural, mas logo cedo perdida pelos americanos porque nossa sociedade dá foco nas coisas materiais e evita reflexão interior.”
Berman afirma que você sente no ar um “autismo hostil” nas relações entre as pessoas nos Estados Unidos. “Isso se manifesta numa espécie de ausência de alma, algo de que a capital Washington é um exemplo perfeito. Se você quer ter um amigo na cidade, como Harry Truman disse, então compre um cachorro.”
Berman
O americano médio, diz ele, acredita no “mito” da mobilidade social. Berman nota que as estatísticas mostram que a imensa maioria das pessoas nos Estados Unidos morrem na classe em que nasceram. Ainda assim, elas acham que um dia vão ser Bill Gates. Têm essa “alucinação”, em vez de achar um absurdo que alguém possa ter mais de 60 bilhões de dólares, como Bill Gates.
“Estamos assistindo ao suicídio de uma nação”, diz Berman. “Um país cujo propósito é encorajar seus cidadãos a acumular mercadorias no maior volume possível, ou exportar ‘democracia’ à base de bombas, é um navio prestes a afundar. Nossa política externa gerou o 11 de Setembro, obra de pessoas que detestavam o que os Estados Unidos estavam fazendo com os países delas. A nossa política (econômica) interna criou a crise mundial de 2008.”
A soberba americana é sublinhada por Berman  em várias situações. Ele cita, por exemplo, uma declaração de George W Bush de 1988: “Nunca peço desculpas por algo que os Estados Unidos tenham feito. Não me importam os fatos.” Essa fala foi feita pouco depois que um navio de guerra americano derrubou por alegado engano um avião iraniano com 290 pessoas a bordo, 66 delas crianças. Não houve sobreviventes.
Berman evoca também a Guerra do Vietnã. “Como entender que, depois de termos matado 3 milhões de camponeses vietnamitas e torturado dezenas de milhares, o povo americano ficasse mais incomodado com os protestos antiguerra do que com aquilo que nosso exército estava fazendo? É uma ironia que, depois de tudo, os reais selvagens sejamos – nós.”
Você pode perguntar: como alguém que tem uma visão tão crítica – e tão justificada – de seu país pode viver nele?
A resposta é que Berman desistiu dos Estados Unidos. Ele vive hoje no México, que segundo ele é visceralmente diferente do paraíso do narcotráfico pintado pela mídia americana — pela qual ele não tem a menor admiração. “Mudei para o México porque acreditava que ainda encontraria lá elementos de uma cultura tradicional, e acertei”, diz ele. “Só lamento não ter feito isso há vinte anos. Há uma decência humana no México que não existe nos Estados Unidos.”
Clap, clap, clap.

terça-feira, 10 de julho de 2012

review de cinema: O espetacular homem-aranha

Boas e más notícias sobre o novo filme do homem-aranha. As boas: Andrew Garfield e Emma Stone são muito mais carismáticos do que Tobey Maguire e Kirsten Dunst e os efeitos especiais são excelentes, demonstrando o quanto a tecnologia evoluiu de 2002 pra cá. As más: o filme tem um enredo com mais furos do que um queijo suiço e o ritmo da história não flui como deveria.
Fui assistir ao filme dirigido por Marc Webb sem preconceitos ou grandes expectativas e por isso acabei curtindo novamente a história da origem do homem-aranha, com todo aquele manjado papinho sobre poder e responsabilidade, as cenas de bullying na escola etc, etc. Acho que, para a nova geração, que não viu no cinema os filmes de Sam Raimi, o reboot cumpre o que promete: apresenta de forma bem satisfatória o personagem da Marvel e estabelece as bases para uma nova série de sucesso. No entanto, algumas coisas me incomodaram durante a projeção: primeiro, o excesso de mudanças na personalidade de alguns personagens-chave da cronologia, como a própria Gwen Stacy. Embora a bela Emma Stone seja, além de  uma graça, muito talentosa, não me lembro da Gwen Stacy dos quadrinhos ser tão ligada em ciência a ponto de ocupar um cargo de destaque em um laboratório de ponta, como ocorre no filme. Me incomodou também a maneira acelerada como eles mostraram a origem do aranha, a ponto de ficarmos sem saber suas reais motivações, as razões pelas quais ele decide enfrentar o crime vestindo uma máscara e um uniforme coloridos. Acho que no filme de 2002 isso ficou muito melhor resolvido, pois, no momento em que Peter vestia pela primeira vez o uniforme definitivo, todos nós entendíamos o porquê e entendíamos também que ele havia completado sua curva de aprendizado. No novo filme, nunca fica claro se Peter é um sujeito `a procura de vingança, um irresponsável ou um legítimo super-herói. Me parece que faltou um certo polimento no roteiro nesse aspecto específico.


Quanto `a trama em geral, fica a impressão de que os roteiristas não conseguiram inovar em nada, apresentando uma história batida sem qualquer sentido. Esse aspecto, aliado ao fato de que o lagarto é um personagem inadequado para o cinema, por depender demais de efeitos digitais e destoar do clima realista que o diretor quis impor ao filme, prejudica o ritmo da narrativa. Aqui, me pareceu que quiseram imitar Batman Begins, colocando um vilão de segundo escalão para introduzir um personagem mais interessante em um segundo filme. O problema é que, no filme de Christopher Nolan, a história de origem é tão bem contada que o fato de termos um vilão que não representa grande ameaça ao herói não prejudica o ritmo da película. Em "O espetacular homem-aranha", por ser a trama da origem tão insípida, a presença de um vilão mais interessante seria imperativa.

Garfield convence


Stone encanta

Lagarto dá sono

Bem, mas escrevi lá em cima que curti o filme. Por quê? Trata-se de uma boa história de aventura, com um elenco bem afinado e boas sequências de ação. Gostei de pelo menos uma: a luta nos esgotos, que lembrou um pouco algumas histórias clássicas do aranha. Também gostei de não terem apresentado o Peter como um bocó, como aparecia nos filmes de Sam Raimi, algo que ele nunca foi nos quadrinhos;   apreciei muito o fato de terem ressaltado o humor tão característico do aranha das hq's e também seu lado "gênio da ciência", outros aspectos sempre ignorados por Raimi em sua trilogia. Enfim, fiquei satisfeito, de um modo geral, com o filme, embora não o coloque no mesmo patamar de outras adaptações, como os vingadores, cavaleiro das trevas ou mesmo x-men: primeira classe, só pra citar os exemplares mais recentes de filmes de super-heróis de excelente qualidade.


quinta-feira, 5 de julho de 2012

O (nem tão) espetacular homem-aranha

Ao mesmo tempo em que estreou com boa bilheteria nos EUA e nos países asiáticos, o novo filme do homem-aranha vem recebendo algumas críticas negativas aqui pelo Brasil. Vou deixar pra dar minha opinião após ter assistido ao filme, que estreia amanhã por aqui. Porém, pelo visto, tudo indica que ainda não foi desta vez que acertaram na caracterização do cabeça-de-teia nos cinemas. Acho que o que está faltando mesmo é o retorno dos direitos sobre o personagem para a Marvel, pois só assim teremos uma produção verdadeiramente fiel aos quadrinhos.
Aqui vai a opinião do Pablo Villaça, que conferiu a película na pré-estreia:


terça-feira, 3 de julho de 2012

Mais Blade Runner

Com certeza, uma das falas mais lindas do cinema.

I've seen things you people wouldn't believe.
Attack ships on fire off the shoulder of Orion.
I watched C-beams glitter in the dark near the Tannhauser gate.
All those moments will be lost in time, like tears in rain.




Em seguida, Pablo Villaça fala sobre o clássico de Ridley Scott.




Eu sinceramente, não acho que a versão do diretor enfraqueceu a narrativa. Para mim, o fato de terem lançado a primeira versão, deixando a coisa no ar, e praticamente explicando tudo na segunda versão ajudou a criar toda a lenda sobre o filme. Lembro de ler na revista Video News, lá pelo final dos anos 80, e bem antes da versão de 1992, que havia boatos sobre um final alternativo para o filme, em que Deckard seria um replicante. Claro que eram especulações até então não provadas, mas que muito serviram para dar o status de cult a Blade Runner, e, mais tarde, de clássico.




domingo, 1 de julho de 2012

Ainda Ridley Scott: Blade Runner

Prometheus ainda é uma curiosidade. Pretendo assistir. Tenho lido alguns comentários destruidores, outros, nem tanto. 
No contexto, vale lembrar aquele que para muitos, incluindo eu, é o melhor filme de Ridley Scott: Blade Runner. Um clássico que a sua época revisitou os clássicos filmes policiais, do cinema noir. O enredo se desenvolve no futuro (logo ali, em 2019!), mas Scott sugere um passado no futuro, com os chapéus e os casacos característicos dos filmes policiais dos 40's, com fotografia que enquadra a estética do cinema noir na ficção futurista. A fotografia é perfeita, assim como a trilha sonora e o roteiro, com seu caráter propositivo sobre vida e engenharia genética, vida e morte, com data e hora marcados. 
A impressão que se tem, trinta anos depois, é a mesma: o diretor fez um grande acerto, contrariando o que o estúdio pretendia com o filme. Tanto que anos depois do lançamento nos cinemas, saiu a versão de Scott, que havia sido deixada de lado pelos produtores, que impuseram uma versão que foi para as telonas em 1982, com o propósito de fazer o filme mais aceitável à clientela.




Tenho curiosidade sobre o livro que serve como (vaga, segundo alguns) referência para o filme, Andróides Sonham com Ovelhas Elétricas? de Philip Dick, pelo que sei ainda não publicado no Brasil (se foi, eu não encontrei até hoje). O nome do filme deriva de uma obra do doido beat William Burroughs, influência que fica só no título . Uma curiosidade oportuna: a banda punk portoalegrense Replicantes, tem um disco cujo título faz referência-trocadilho com o livro que originou o filme que inspirou o batismo da banda (o título do álbum é andróides sonham com guitarras elétricas).
No filme Deckard vive o dilema de fazer o serviço sujo de limpar Los Angeles dos replicantes que se rebelaram após serviços em colônias fora da terra. Harrison Ford fez no filme sua melhor atuação, assim como Rutger Hauer, que, hoje se tem certeza, não poderia ter ido muito além do papel do andróide de cabelos brancos. No meio da caçada de replicantes, ocaçador se apaixona pela vítima, no caso, por uma replicante, Rachael, interpretada pela desaparecida Sean Young.
Surpreende o futuro exposto por Scott, com grande presença de orientais na vida e na economia da Los Angeles superpovoada e poluída, dominada por grandes corporações. Se bem que faltam latinos em maior número, restando a "cota" para James Olmos, que acompanha/policia Deckard em sua triste jornada de testes Voight-Kampff e tiros em andróides. O contexto é permeado pela trilha sonora de Vangelis, grego que fazia parte da banda progressiva Aphrodite's Child (que nome!) e que havia, no ano anterior, conquistado o oscar pela trilha de Carruagens de Fogo, sempre lembrada em épocas olímpicas, de atletismo e de maratonas. A trilha, uma das mais legais já feitas, encerra o climão do filme. Tanto que sempre que se escuta a love theme feita por Vangelis se remete ao filme, como "as time goes by" emparelha no cérebro de qualquer um alguma coisa relacionada com Casablanca. Mesmo que a versão seja a de Chet Baker.


Busquei na internet, o reino do control c + control v algumas curiosidades e observações no mínimo interessantes sobre o filme, especialmente no blog capacitor fantástico, cuja indicação nos livra do plágio e a seguir destaco:

Ao deixar seu apartamento com Rachael, ao fim do filme, ela encontra um origami de um unicórnio. O unicórnio foi a última das figuras criadas por Gaff. Quando Gaff e Deckard estão no escritório de Bryant e Deckard insiste em permanecer fora da força policial, Gaff faz um origami de galinha. ‘You’re afraid to do this”. Mais tarde, Gaff faria um homem com uma ereção. ‘You’re attracted to her”, e finalmente o unicórnio “You’re dreaming, you cant run away with her, but she wont live”. O unicórnio costuma ser associado a pureza, à virgindade. Lendas dizem que só uma virgem (Rachael) pode capturar um unicórnio. Uma das explicações para a retirada da seqüência do sonho com o unicórnio, seria a de Scott admitir que deixaria muito obvio, ser Deckard outro replicante. Apesar disto, a unicórnio é mantido na versão de 1982 (Theatrical) , mas os produtores vetaram por considerá-la “muito artística”. 
 
 

O final feliz
O fim que conhecemos também foi sugestão do estúdio, pois Scott desejava terminar com o casal entrando no elevador. Os estúdios preferiram um fim menos ambíguo e feliz.
As cenas aéreas utilizadas na versão de 1982 foram restos de filmagens do filme de Kubrick, ‘The Shinning’ (O iluminado).
 
Das curiosidades, destacam-se alguns problemas que passaram pela edição final e foram para as  telas, mas que não desmerecem o filme:
 
Quando Zhora voa através dos vidros, distingue-se claramente ser um duble, que em nada se parece com a atriz. Além disto, usa botas pequenas, diferentes daquelas calcadas por Zhora no vestiário.
Quando Leon joga Deckard contra o pára-brisa do carro, este já estava quebrado, pois a cena foi refilmada sem um novo pára-brisa.
Quando Pris entra no elevador de Sebastian, seus cabelos estão secos. Ao entrar no apartamento estão molhados de novo.
A filmagem da cena de amor entre Rachael e Deckard foi filmada entre um intervalo de 3 semanas, entre o inicio e o fim, devido a atriz (Sean Young) ter sido internada por problemas com drogas. É perceptível a mudança da maquiagem de Rachael.
Um buraco de bala é visível em Pris, antes dela receber o primeiro tiro.
Quando Deckard se confronta com Roy e este lhe devolve a arma apos quebrar-lhe alguns dedos, é possível ver a sombra na parede do cameraman, da câmera e do assistente do microfone.
Uma frase de Roy Batty “ I want more life, fucker !” aparece em algumas versões como “I want more life father !”
Harrison Ford declarou logo apos o filme que não havia gostado de ser um detetive que não investiga coisa alguma. “Eu apenas tinha que estar no ‘plot’, e prestar atenção nas marcações feitas por Scott”.