Entre os caras da turma de infância, de futebol, de rock, de gibis e de figurinhas, tem um que se tornou jornalista, escreve para Zero-Hora e adjacências sobre livros, cinema e afins (se fosse editorialista de política da ZH eu não citaria, claro). O cara conseguiu entrar numa profissão que era sonho de quase toda a turma, depois do futebol: se tornou jornalista, e quase todos gostaríamos de ser jornalistas dos cadernos de futebol e de cultura, mesmo no mundo cão da imprensa (ou algo que o valha) brasileira e gaúcha. De qualquer modo, o cara escreve bem, é fissurado por literatura e cultura pop e, o mais importante, também lia, emprestava e trocava "heróis da TV" no século passado. É muito legal ver um cara que lia e compartilhava heróis da tv (onde eram publicadas as histórias dos vingadores), hoje comentar (como profissão!) sobre algo que era inimaginável naquele tempo, um filme dos vingadores!, como pensava o grande amigo Fábio, que infelizmente não está aí para assistir e poder dizer "vocês assistiram?".
Segue um texto de Carlos André Moreira sobre os vingadores, para compor o meio campo com o texto do Leonardo Zelig.
Os Vingadores e a retórica da ação
08 de maio de 2012
Talvez seja engraçado dizer isso, mas, embora vendido por aí como filme de ação, Os Vingadores
é um filme retórico. Passando rapidamente por cima de dois mil anos de
estudos sobre o tema, simplifiquemos a retórica como a sistematização
das técnicas pelas quais uma linguagem é usada para o convencimento. E,
embora sua trama possa passar longe da lógica, seus personagens sejam
super-heróis e seus recursos visuais não sejam inventivos como os
vistos em Batman ou X-Men, Os Vingadores tem um roteiro de tal modo concatenado e usa os recursos de maneira tão eficiente que, no final da sessão, convence.
De modo geral, a trama de um filme de super-heróis não prima pela
lógica cartesiana a começar pela sua mais básica premissa: a existência
de super-heróis. A de Os Vingadores, por exemplo, poderia ser
resumida por: agência supersecreta recruta grupo de super-humanos para
lutar contra uma invasão alienígena liderada por um deus nórdico de
outra dimensão. O que faz diferença em um filme de quadrinhos é o olhar
de cada artista sobre o material — razão pela qual X-Men, Batman e Homem-Aranha deram tão certo. Joss Whedon, o diretor de Os Vingadores,
não é um artista visual tão inventivo quanto os demais, mas revela-se
um hábil malabarista: tendo que lidar com quase uma dezena de
personagens com voz, vez e relevância para o andamento do filme,
consegue equilibrar todos os elementos em um filme de ação que empolga
na maior parte do tempo, e no qual a conjunção de vários pequenos
acertos salva a produção de ser um equívoco.
Um dos acertos: contar com pelo menos alguns atores de verdade.
Whedon consegue finalmente fazer o Hulk ter razão de ser. Enquanto
humano, Mark Ruffalo retrata de modo apropriado o turbilhão de emoções
contidas que é estar sempre à beira de virar outra pessoa, maior, mais
forte e infinitamente mais perigosa. Como Hulk, além de a figura criada
por computação gráfica destoar menos do conjunto pela ausência de
planos e cenários abertos, o monstro proporciona um insuspeitado alívio
cômico. A garra de Robert Downey Jr. como Tony Stark — que pôs a
perder Homem de Ferro 2 e poderia descambar para o exagero em
um novo filme solo — está na medida devido ao fato de ele ter de
compartilhar tempo com os demais. Tom Hiddleston, como Loki, oferece um
vilão manipulador e insidioso, e a cena de ação final prova, por
comparação, quão constrangedoras eram as do filme solo do Thor.
Nem tudo funciona, claro: Whedon tende a ser verborrágico em alguns
momentos — os bate-bocas entre os heróis por vezes imitam algumas das
piores características dos textos antigos de Stan Lee. E a velha
"premissa Marvel" de que heróis precisam trocar porrada entre si antes
de se aliarem pelo bem comum pode valer no gibi, mas na tela parece
encheção de linguiça.
No conjunto, contudo, este antigo leitor das aventuras de Os Vingadores ainda na extinta revista Heróis da TV
saiu empolgado com os Heróis no Cinema. Até sentar para escrever este
texto, quando algumas falhas começaram a sobressair, a sensação era de
aprovação quase plena.
O que prova o quanto Os Vingadores é eficiente como filme retórico.
Bela volta! Espero que continue postando regularmente.
ResponderExcluirCara, o teu amigo aí é claramente fã dos Vingadores. Por isso escreveu que o roteiro é "concatenado". Na verdade, o roteiro tem mais buracos que o calçamento de Pelotas. E dizer que o Loki é um "vilão manipulador e insidioso" faz-me rir. Para mim, pareceu vilão daqueles sub-filmes de vampiro, como os da franquia Underworld.
Mas sou voto minoritário nessa aí. O Paulista gostou bastante. Se bem que gostou bastante como fã.
Belo texto. Por que será que o pessoal que curte gibis, música e cinema escreve tão bem, hein?
ResponderExcluirBom, já dei meu voto para o filme dos vingadores e todos sabem que adorei o trabalho do Joss Whedon. Sou muito fã da fase dele nos x-men e acho que ele tem futuro no cinema. Achei até a que a Marvel arriscou ao colocá-lo como diretor de um filme tão caro. Claro que ele não é um Nolan ou um Del Toro, mas também nåo é um Michael Bay.
Pelo jeito, o filme caminha para ser a maior bilheteria da história, hein? Deve bater em 1 bi fácil, fácil...
Eu voltei, e agora é pra ficar... rererere
ResponderExcluirMais buracos que o calçamento de Pelotas: porra, pensei que o Fetter tinha resolvido tudo, mas parece que o asfalto é sonrisol (desaparece na primeira chuva).
Sim, o cara é fâzão, suspeito pra caramba!
EU ainda aguardarei em far far away para dar meu veredicto. Mas, ressalto que eu era fã dos vingadores, assim como era do demolidor e achei o filme com o cara uma bosta.
Eu voltei, e agora é pra ficar... rererere
ResponderExcluirMais buracos que o calçamento de Pelotas: porra, pensei que o Fetter tinha resolvido tudo, mas parece que o asfalto é sonrisol (desaparece na primeira chuva).
Sim, o cara é fâzão, suspeito pra caramba!
EU ainda aguardarei em far far away para dar meu veredicto. Mas, ressalto que eu era fã dos vingadores, assim como era do demolidor e achei o filme com o cara uma bosta.
Parece que a Marvel quer fazer do Homem Aranha sua resposta ao Batman do Nolan. Na minha opinião, o Demolidor seria um personagem muito mais adequado para essa abordagem mais séria. De qualquer forma, vão fazer um filme sobre A Queda de Murdock, que tem tudo para dar certo se os estúdios deixarem.
ResponderExcluirO filme do Demolidor é muito ruim, mas eu gosto dele em vários aspectos. Lembro de algumas cenas bonitas, como a da Elektra na chuva. E tem a Jeniffer Garner, que ficou perfeita no papel. É uma pena que acabaram com ela no filme solo.
Outro personagem da Marvel que merece uma abordagem mais séria é o Wolverine. É o que eu espero no filme novo do cara, baseado na HQ clássica de Chris Claremont e Frank Miller.
Outra história que eu acho que dava um filme bacana seria Fusão, também do Wolverine, com a ilustre participação do Destrutor. Seria uma boa opção para lançar depois desse próximo filme.
Aguardaremos!
Eu tenho pensado que um bom personagem pra ser adaptado seria o punho de ferro. Da pra misturar artes marciais, magia, espionagem etc. So o uniforme que teria que ser mais realista. A serie dele publicada no Brasil é muito boa, com vários elementos dos "pulps" antigos. Recomendo bastante. Os roteiros são do Brubaker e do Matt Fraction.
ResponderExcluirNão vi e nem quero ver o filme da Elektra. O do demolidor é fraco, mas não é tão ruim quanto o do quarteto fantástico, por exemplo. Gosto particularmente do Mercenário no filme.
O Demolidor é de produção bem mais chumbrega que o Quarteto, mas consegue ser melhorzinho. Se bem que, tratando-se de personagem, o Demolidor está anos-luz à frente, o que já torna mais fácil fazer um filme.
ResponderExcluirO filme da Elektra eu vi algumas partes na televisão e é uma vergonha só. Acho que deve ser pior que aquela Mulher-Gato da Halley Berry, se bem que essa eu não cheguei a ver.
Não conheço essa série do Punho de Ferro. Vou dar uma procurada para ler.