Na boa, acho que o povo aí tinha que ser pelo menos um pouco mais crítico e não engolir qualquer gororoba que Hollywood empurre boca abaixo. Claro que não estou exigindo nenhuma sensibilidade de filme iraniano, mas bem que essa gurizada podia crescer um pouco, ao invés de ficar gritando como se fossem torcedores de futebol.
“Os Vingadores”: Quando a criatividade e a imaginação viram produção em massa
Pensando em processos criativos e exigências comerciais – que é, afinal, a essência do que esse blog trata diariamente – posso concluir dois pontos: 1. “Os Vingadores” é um pastel de vento (roubei a definição do Diego Maia). 2. Não poderia ser muito diferente disso.
Criatividade e dinheiro: Essa sim é uma verdadeira união heróica não alcançada por “The Avengers”
Aliás, com poucas exceções, é o que a Marveltem feito com as suas franquias desde que iniciou a onda de filmes de super-heróis com o despretensioso “Blade” em 1998. Eu excluiria poucos do julgamento de espectador que farei nos próximos parágrafos, são eles: “X-Men 2″, o “Hulk” do Ang Lee, “Homem-Aranha 2″, “Homem de Ferro” e, com alguma boa vontade, o recente “X-Men: Primeira Classe”.
De resto, é a companhia buscando o máximo de bilheteria possível sem arriscar o legado de seus personagens com diretores metidos a artista. Deu certo com Sam Raimi, mas a maioria considera o excelente “Hulk” do Ang Lee – citado acima – um desastre. Então porque insistir no “erro”?
Não conheço o ambiente interno dessas super produções, mas consigo imaginar que muitas delas são geradas mais em salas de reunião cheias de executivos, do que nas mãos de um roteirista/diretor talentoso. E é exatamente esse cenário que enxerguei em praticamente toda a preguiçosa projeção de “Os Vingadores”.
Resumo: Um diretor com pouco poder criativo, que precisa colocar um monte de personagens na tela sem gerar uma confusão, atender a demanda de “blockbuster família” com violência tolerável sem sangue, e garantir sucesso de bilheteria para as continuações já agendadas.
Não há nada de errado em ser apenas divertido e “bom para toda família”, mas um pouco de ousadia não faz mal
Mas é aqui que chego na minha segunda conclusão: 2. Não poderia ser muito diferente disso. Tento imaginar – caso fosse dono de dezenas de personagens de quadrinhos multi-milionários – se teria coragem de arriscar e fazer de outra forma. Provavelmente não, e nada existe de errado nisso.
A Marvel já sabe a fórmula, e continua repetindo-a ano após ano. Que a empresa queira aproveitar ao máximo seus heróis com filmes rentáveis, eu posso entender, só não é possível dizer que “Os Vingadores” é a melhor adaptação de quadrinhos já feita. O mesmo se pode dizer da franquia “Transformers”de Michael Bay, por exemplo, passatempos rentáveis, mas nenhuma obra que valha a pena revisitar no futuro.
Quem conhece as HQ’s diz que “Os Vingadores” foi muito fiel ao crossover original – eu só lia “Wolverine” e “Super-Homem” na adolescência, portanto não posso opinar – mas como obra cinematográfica a adaptação acaba pasteurizando os personagens e a trama. Um resultado muito parecido com o que vemos diariamente nos ambientes de criação atrelados a altas performances comerciais (leia-se, publicidade).
Eu sei que o filme é divertido e funciona muito bem como passatempo descompromissado – não precisa dizer que tenho um pão embolorado batendo no peito – mas é realmente só isso o que se esperava de “Os Vingadores”? Eu nunca exigiria um “Batman: O Cavaleiro das Trevas” do Joss Whedon – a essência é completamente outra – mas um pouco mais de ousadia não faria mal ao longa.
Eu engulo todas as vezes a velha história de fim do mundo, do artefato alienígena com poder incomensurável, e do vilão que decide roubá-lo com ambições pouco convincentes – estamos falando de quadrinhos, afinal – mas estou cansado da ação repetitiva só para mostrar mais efeitos e barulho na tela.
É possível unir sequências de puro entretenimento com dramaticidade capaz de realmente nos fazer importar com o destino dos personagens… e do mundo. Para tanto, não estou falando de ser dark e tenso como os Batman’s de Nolan, mas esperto e sagaz como o segundo “Homem-Aranha” do Sam Raimi, o segundo “X-Men” de Bryan Singer, e o primeiro “Homem-de-Ferro” Jon Favreau.
Também entendo que Hollywood se assegure nas fórmulas de sucesso para a maioria dos filmes de verão (norte-americano), só acho uma pena desperdiçar tantos personagens do nosso imaginário, desde criança, com adaptações bobas e descartáveis. Não há nada de errado em ser simplesmente divertido e “bom para toda família”, mas um pouco de provocação poderia me fazer ter vontade de assistir o filme novamente, ao contrário dos bocejos a partir do momento em que o porta-aviões sai do lugar.
O Nolan também deve ter suas brigas com a Warner e a DC Comics, mas não precisa ter mais de um olho funcionando para perceber que, com a carreira que ele desenvolveu, a liberdade é bem maior. O cara trata o personagem com respeito, gera blockbusters milionários e ao mesmo tempo nos faz sair do cinema levando aquilo na cabeça pelos próximos dias.
Também entendo que a Marvel não queira arriscar suas principais propriedades intelectuais, e seu universo seja muito mais leve e bem humorado do que a concorrência. Porém, fico ainda mais decepcionado ao ter certeza de que eles acertam em cheio quando as amarras são mais soltas. Todos os outros filmes da empresa que citei acima se encaixam nisso, mas a maior prova disso responde hoje pelo nome de “Kick-Ass”.
Não tem Capitão América, nem Homem de Ferro, nem Viúva Negra, nem Thor ou Hulk, mas criativamente falando é memorável. Acontece que na hora do vamo-ver da bilheteria, gerou muito pouco para a Marvel, e aí voltamos novamente para a luta no globo da morte entre criatividade e dinheiro. Essa sim é uma verdadeira união heróica para os poucos Nick Fury da vida real que a alcançam.
Bem, não vou dar chiliques como os marvetes mais fanáticos, mas discordo da crítica, obviamente.
ResponderExcluirGosto é gosto.
Agora, o Hulk do Ang Lee é constramgedor de tão ruim… E pior, não melhorou com o tempo. Homem-aranha 2 é um festival de pieguice sem fim. Por mais que culpem os estúdio, para mim Sam Raimi acabou sendo o grande responsável pelo fracasso artístico do terceiro filme. Revejam a série hoje e vocês vão perceber que ela não tem nada de mais.
Adorei vingadores justamente porque o filme entrega o que promete: muita ação, humor, personagens bem caracterizados e uma condução segura da história. Jamais vou comparar com os filmes do Nolan, simplesmente porque ele faz filme policial e não de super-herói.
No caso do filme do Joss Whedon, ainda fico com a maioria, leitores ou não das hq's, que está adorando o filme. Mas, enfim, respeito aqueles que não gostaram.
Hehehe!
ResponderExcluirO Hulk do Ang Lee é muito ruim mesmo. Na minha opinião, ele começa bem, mas vai desandando até se perder completamente no final. Tem o problema do CGI também. Ainda preferia que colocassem um Lou Ferrigno no lugar de um boneco digital. Mas parece que os estúdios rejeitam essa proposta.
Mais constrangedor ainda é que, com o sucesso dos Vingadores, algum gênio de marketing tá vendendo a ideia de transformar Hulk num mascote motivacional. Uma especie de guru pop da auto-ajuda. Isso já me fez perder as esperanças com a possível série de TV do Del Toro.
O Incrível Hulk já é um filme mais legalzinho que o primeiro, mas tem aquela cara trash. Dá a impressão que os estúdios disseram, olha, depois do Ang Lee, não vamos ficar botando dinheiro bom em cima de dinheiro ruim. Então o filme para mim tem uma cara de produção de segunda, e não de blockbuster como foi promovido o do Ang Lee.
Concordo com os filmes do Homem Aranha estarem datados. Mas acho que eles têm o mérito de inaugurar a retomada do gênero super-herois. Não lembro agora se o amigão da vizinhança veio antes ou depois dos X-Men. Parece que os dois são mais ou menos da mesma época.
Não sei dizer se o Homem Aranha 3 foi ruim por causa do Sam Raimi ou dos estúdios. Mas tenho a impressão que foram filmes demais, faltou assunto no material, essas coisas. Há outros problemas em relação à continuidade com os gibis. A origem do Venom não tinha como adaptar dos quadrinhos para o cinema. Talvez o melhor fosse escolher outro vilão. Também poderia ser adaptada uma boa história já pronta do aracnídeo.
Resumindo: para mim o Homem Aranha bom foi só o 1. O 2, apesar de ser um filme bom, é basicamente a repetição do primeiro. E aí vem o 3, com o Duende Jr. voltando de novo ao primeiro. Quando passou o 2 eu já havia desistido da franquia. Só fui ver o 3 no cinema para levar meu sobrinho.
Discordo de ti quanto ao argumento entrega-o-que-promete. Para mim, o humor dos Vingadores segue o esquema do Quarteto Fantástico, com aquelas piadinhas entre o Coisa e o Tocha Humana. Há vários furos no roteiro, que não se justificam se já ocorriam nos gibis. Parece que os roteiristas não se prestaram para ler aquelas fichinhas da Marvel, onde aparece o Hulk parelho de força com o Thor, e coisas do tipo.
Quanto à comparação com os filmes do Nolan, ela já está sedo feita por aí. O pessoal fica alardeando, brigando como torcedor de futebol. Querem que o time dos Vingadores esmague o Cavaleiro das Trevas.
Mas acho simplista dizer que o Batman do Nolan seria um personagem de filme policial, e não super-heroi. Se levarmos esse argumento a sério, corremos o risco de defender artisticamente os Superamigos da Hanna Barbera ou o próprio Batman da série dos anos 60. Claro que estou forçando um pouco a barra, mas é para me fazer entender.
Ainda nessa linha, se o Batman não é super-heroi, os personagens de Watchmen também não são. Apesar de repugnar o Zakk "Mamãe eu sou um visionário" Snyder, gosto bastante do filme dele, que, na minha opinião está entre um dos melhores do gênero super-heroi. Ou será que o gênero seria fantasia, ficção científica retrô/alternativa e política? Talvez seja todos estes, o que não tira o enquadramento como "super-heroi".
Concluindo, acho que a crítica tem que estar separada da questão de gosto. Acredito que o filme é um deleite para quem é fã. Mas isso praticamente coloca ele na categoria "só para fãs". Claro que o "espectador médio", daquele tipo que gosta dos Transformers também vai achar o filme maravilhoso. Os estúdios não são bobos.
Também gosto de Watchmen e acho que sou um dos poucos fãs do trabalho de Snyder. Gosto até de Sucker Punch, esse sim um filme somente para fãs. Estou bem curioso pra ver o resultado do "Superman" dirigido por Snyder e produzido por Nolan. É bom lembrar que Snyder brigou bastante com a Warner pra que prevalecesse uma visão mais fiel de Watchmen aos conceitos de Alan Moore. Além do mais, não dá pra negar que ele têm um estilo próprio pra dirigir, apesar de muitas vezes abusar da câmera lenta.
ResponderExcluirNão comparo os vingadores com o batman do Nolan, pois acho que são propostas totalmente diferentes. É claro que, como cinema, como arte, sempre vou preferir cavaleiro das trevas a os vingadores. No entanto, em termos de dievrsão, acho que ambos se equivalem.
Bem, de qualquer modo, a discussão entre os fãs é sempre muito apaixonada, o que atrapalha a análise mais crítica. Eu costumo julgar um filme pelo que ele se propõe, seja divertir, fazer crítica social etc. E ainda acho que, para o que se propõe, o filme do Joss Whedon é muito superior ao que temos visto em termos de blockbusters (vide filmes fracos como fúria de titãs, transformers, piratas do caribe etc.)