sexta-feira, 11 de maio de 2012

Dagon, comentado por Stuart Gordon

Como havia mencionado no post anterior, ontem fui (re)assistir Dagon, numa sessão comentada pelo próprio diretor Stuart Gordon, com as graças do pessoal que organiza o Fantaspoa.

Já adianto que o povo que organiza o festival está de parabéns. Os caras conseguiram trazer Stuart "Re-animator" Gordon para comentar um ótimo filme. Tudo oferecido ao consumidor final pela bagatela de 5 reais! Isso mesmo! 5 pilas. Não dá para acreditar. Mas os caras fizeram mágica.

Cheguei na sala do Cine Bancários junto com o Daniel. Sentamos na poltrona, e, em seguida ele olhou para mim: "O Stuart Gordon sentou na fileira à frente da nossa!". Cara! No mínimo inusitado, nunca imaginei que assistiria um filme sentado junto com um diretor de cinema. E, no caso, um diretor cult de filmes de terror, cuja marca registrada mescla sangreira explícita com altas dosagens de humor. É a receita que fez de Re-Animator um clássico para quem cresceu nos anos 80 lendo as revistas Video News.



Embora Re-Animator seja uma adaptação mais do que livre do conto "Herbert West: Re-Animator", de H.P. Lovecraft, o resultado final saiu muito bom. Foi a primeira adaptação bem-sucedida do mestre do terror cósmico, e continuou sendo por muitos anos até a virada do milênio, quando a mitologia dos Old Ones ganhou uma verdadeira retomada no cinema, com o advento de "Dagon" e os excelentes "Um Sussurro Nas Trevas" e "O Chamado de Cthulhu".

Herbert West, re-animator


Ainda na década de 80, o sucesso de Re-Animator deu origem à duas sequências picaretas ("Re-Animator: Fase Terminal" e "A Noiva do Reanimator"). Também rendeu outra adaptação de Lovecraft que só guarda o nome original: "Do Além" ("From Beyond").

"From Beyond" é praticamente uma refilmagem de Re-Animator, com os mesmos atores, personagens e história. Tem muito pouco a ver com Lovecraft e MUITO a ver com Stuart Gordon. É um besteirol de terror com direito a muito sangue, meleca e sacanagem.



Parece uma versão mais tosca dos primeiros filmes de Cronenberg, como Rabid ou mesmo Videodrome. Não consigo ver Barbara Crampton em trajes S&M sem lembrar da personagem de Deborah Harry em Videodrome ou na glândula pineal desenvolvida do vilão sem lembrar de coisas semelhantes em Rabid e afins. É um filme ruim e divertido.




Já Dagon representa um amadurecimento na filmografia de Stuart Gordon. Embora ainda traga o humor como marca registrada, é uma adaptação bem mais fiel à obra de Lovecraft, e não apela para o escracho dos filmes anteriores.

Embora Lovecraft tenha escrito um conto entitulado "Dagon", o filme de Gordon, é na verdade, uma adaptação de "The Shadow Over Insmouth". Após a sessão, o diretor comentou que gostava em particular desta história porque era a única com final feliz na obra de Lovecraft.





Claro que ainda é uma adaptação bem livre do original que se passava na Nova Inglaterra e mudou-se para a Galícia. Insmouth foi rebatizada como Inbocca. Gordon explicou durante a entrevista que isso se deu por razões de patrocínio na Espanha. Brincou dizendo que o pessoal do povoado de San Andres de Teixido, na Galicia, provavelmente não lera o script quando deu dinheiro para fazer o filme, achando que promoveria o turismo no local.



Curiosamente, o filme é falado em inglês e catalão. Gordon brincou mais uma vez, referindo que os catalães se ofendiam ao dizerem que se tratava de um dialeto do espanhol.

Claro que não falta um toque de sacanagem no filme. Neste quesito, Raquel Meroño cumpre bem o papel de scream queen gostosa, mostrando tudo que o povo quer ver. O nome da personagem, Barbara, é uma homenagem óbvia à Barbara Crampton.


As auto-homenagens não param por aí. O protagonista é um nerd clássico, magro e de óculos, com o mesmo visual de Herbert West (que já fora reprisado em "From Beyond"). Também há várias referências à Lovecraft, como o fato do personagem usar um moletom da Universidade de Miskatonic.


O destaque fica por conta de Macarena Gómez, no papel de Uxía Cambarro, outra personagem que não existe no original de Lovecraft. A cara esquisita da moça lembra muito aquelas sereias macabras, prestando-se muito bem para o papel de mulher-polvo.









Mesmo sendo uma espécie de filme de zumbi, onde os mortos-vivos são substituídos por homens-peixes, Dagon é muito bem feito. As limitações no orçamento, visíveis em algumas cenas, são compensadas pela criatividade sem limites do diretor.



3 comentários:

  1. Muito legal o post!
    Assisti a re-animator quando era moleque. O filme é um clássico da Troma.
    Stuartn Gordon parece ser uma figuraça.
    Me lembrei da clássica revista Set - terror e ficção, que apresentava muitas matérias sobre filmes trash, hq's, ficção cientítica e tudo mais que um nerd de carteirinha precisa pra ser feliz...

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  2. Bah! A Set terror & ficção era muito legal! Bem lembrado, mesmo!

    Saudades dos filmes de terror dos anos 80 (e 70). Hoje os estúdios têm a cara de pau de refilmar O Massacre da Serra Elétrica em classificação PG-13.

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  3. Belo texto.
    Apesar de ser modalidade de filme que nunca me agradou muito, o texto ficou muito legal. Nos oitenta eu não curtia filme de terror. Hoje ainda não curto muito. O exorcista foi começo e fim, rerererere. Na época eu lia a bizz, e de vez em quando a set.

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