Caros.
Com algum atraso, considerando que o texto foi publicado semanas atrás, embora ainda seja atual e pertinente em nosso cenário político-midiático, ofereço um texto de lavra alheia (é do Gaspari, éééé) e que foi publicado no "grobo" (pois é, suspeitíssimo pano de fundo para um autor suspeito - ora tenho liberdade de expressão para afimar suspeição, não se trata de sectarismo), mas que merece se sujar em nosso blog. Se trata de um interessante exercício de futurismo que, caso ocorra, certamente contará com as páginas e os sites da "grande mídia", a nos sufocar com seu peso e grandeza.
Então, como diria Dee Dee, one, two, three, four...
O presidente Demóstenes em Nova York, por Elio Gaspari
Elio Gaspari, O Globo
Setembro de 2015: Eleito presidente da República em novembro do ano passado, Demóstenes Torres chegou ontem a Nova York para abrir a Assembleia Geral das Nações Unidas. Reuniu-se com o presidente Barack Obama, de quem cobrou uma política mais agressiva contra os governos de Bolívia, Equador e Venezuela, “controlados por aparelhos partidários que sonham em transformar a América Latina numa nova Cuba”.
Setembro de 2015: Eleito presidente da República em novembro do ano passado, Demóstenes Torres chegou ontem a Nova York para abrir a Assembleia Geral das Nações Unidas. Reuniu-se com o presidente Barack Obama, de quem cobrou uma política mais agressiva contra os governos de Bolívia, Equador e Venezuela, “controlados por aparelhos partidários que sonham em transformar a América Latina numa nova Cuba”.
Antes de
embarcar, Demóstenes abriu uma crise diplomática com o Paraguai,
anunciando sua intenção de rever o tratado da hidrelétrica de Itaipu.
O
presidente brasileiro assumiu prometendo fazer “a faxina ética de que o
país precisa”. Para isso, criou um ministério com superpoderes,
entregue ao ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes.
Numa
reviravolta em relação a suas posições anteriores, o presidente apoiou
um projeto que legaliza o jogo no país. Ele reestruturou o programa
Bolsa Família, reduzindo-lhe as verbas e criando obstáculos para o
acesso aos seus benefícios. Patrocinou projetos reduzindo a maioridade
penal para 16 anos, e autorizando a internação compulsória de drogados.
Determinou que uma comissão especial expurgue o catálogo de livros
didáticos distribuídos pelo Ministério da Educação.
Atualmente,
percorre o país pedindo a convocação de uma Assembleia Constituinte. A
oposição do Partido dos Trabalhadores denuncia a existência de uma
aliança entre o presidente e quase todos os grandes meios de comunicação
do país.
Ao desembarcar no aeroporto Kennedy, Demóstenes ironizou
as críticas à presença de uma jovem assessora na sua comitiva:
“Lamentavelmente, ela não é minha amante, porque é linda”.
À
noite, o presidente compareceu a um jantar no restaurante Four Seasons,
organizado pelo empresário Claudio Abreu, que até março de 2012 dirigia
um escritório regional de relações corporativas da empreiteira Delta.
Abreu é o atual secretário-executivo da Comissão de Revisão dos
Contratos de Grandes Obras, presidida pelo ex-procurador geral Roberto
Gurgel.
Chamou atenção na comitiva do presidente o fato de alguns
integrantes carregarem celulares habilitados numa loja da Rua 46. Eles
são chamados de “Clube do Nextel”.
Em 2012, a carreira do atual
presidente foi ameaçada por uma investigação que o associava ao
empresário Carlos Augusto Ramos, também conhecido como Carlinhos
Cachoeira, marido da ex-mulher do atual senador Wilder Pedro de Morais,
que era suplente de Demóstenes.
O trabalho da Polícia Federal foi
desqualificado pela Justiça. O assunto foi esquecido quando surgiram as
denúncias do BolaGate contra o governo da presidente Dilma Rousseff
envolvendo contratos de serviços e engenharia de estádios para a Copa do
Mundo cancelada em 2013.
A eleição de campeões da moralidade é um
fenômeno comum no Brasil. Em 1959, Jânio Quadros elegeu-se montando uma
vassoura. Em 1989, triunfou Fernando Collor de Mello.
O primeiro
renunciou numa tentativa de golpe de Estado e terminou seus dias
apoquentado por pressões familiares para que revelasse os números de
suas contas bancárias no exterior.
O segundo deixou o poder
acusado de corrupção e viveu por algum tempo em Miami, elegeu-se senador
e apoiou a candidatura de Demóstenes. O tesoureiro de sua campanha foi
assassinado.
Presente ao jantar do Four Seasons, o empresário
Carlos Augusto Ramos não quis falar à imprensa. Ele hoje lidera o setor
da indústria farmacêutica brasileira beneficiado pelos incentivos
concedidos no governo anterior. Ramos chegou acompanhado pelo ministro
dos Transportes, Marconi Perillo, que governou o estado do presidente e
foi o principal articulador do apoio do PSDB à sua candidatura.
Uma
dissidência do PT, liderada pelo deputado Rubens Otoni, também apoiou a
candidatura de Demóstenes. O presidente anunciou que a BingoBrás será
presidida por um ex-petista.
Abril de 2012: Quem conhece o
tamanho do conto do vigário moralista de Fernando Collor e Jânio Quadros
sabe que tudo o que está escrito aí em cima poderia ter acontecido.
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